
Para promover a imagem de ser uma empresa dinâmica, que está no “top 10” no Mercado de Tecnologia da Informação e da Transformação Digital, o Serpro já gastou nos dois primeiros anos de gestão do presidente, Alexandre Amorim um total de R$ 6.344.310,45 com patrocínios de eventos. Se computados mais R$ 187 mil em pagamentos da estatal nos três primeiros meses deste ano a conta sobe para R$ 6,531 milhões.
Os gastos da área de Marketing no Serpro de Alexandre Amorim dispararam R$ 4,1 milhões, quando comparados aos valores pagos pela empresa em igual período durante o Governo Bolsonaro. Na época, o então presidente Gileno Gurjão Barreto pagou R$ 2.382.139,00 em três anos de gestão.
Os critérios de escolha pelo custo/benefício não são claros para a concessão de patrocínio na empresa. Segundo a sua política destacada na página da Transparência, o “Serpro adota a modalidade de escolha direta para seleção de projetos de patrocínio, sempre pautado na transparência, economicidade, legalidade, impessoalidade e publicidade das suas ações”.
De acordo ainda com a área responsável pela distribuição das verbas, a Superintendência de Comunicação, Marketing e Responsabilidade Social, a escolha “é feita com base nos critérios de interesse institucional e/ou mercadológico e os projetos selecionados devem, obrigatoriamente, estar alinhados à missão, políticas, objetivos estratégicos e estratégias comerciais da empresa“.
Porém, não há na página nenhum documento que demonstre a razão de determinado evento ter sido considerado como “estratégico” para a área de negócios da empresa. Nem informa por quais instâncias da direção passou o pedido de patrocínio, além da área responsável na empresa pela Comunicação e Marketing. Os patrocínios de eventos simplesmente “brotam” em extratos de contratação e pagamento, no Diário Oficial da União.
Rec’n Play
O Rec’n Play é um típico evento de que se sabe pouco sobre a “estratégia” adotada pela direção do Serpro, com o objetivo de conseguir bons negócios como retorno do investimento realizado. O evento foi realizado no Recife (PE) ano passado entre os dias 6 e 9 de novembro. É uma versão do já consagrado Campus Party, que reúne toda a fauna da tecnologia do país para debates sobre inovação, tecnologias emergentes e seus impactos no país, na governança de TI. Conta ainda com área de jogos, feiras empresariais, competições, shows culturais, etc. É uma congregação entre governos, empresas e Academia. Há no país inúmeras opções para se divagar sobre esses temas.
A questão é: valeu ao Serpro pagar R$ 500 mil para que o Superintendente de Arquitetura Corporativa, Plataformas e Nuvem do Serpro, Welsinner Brito, participasse de um debate sobre “Nuvem Soberana”?
A direção da estatal também deveria explicar o motivo de ter pago pelo mesmo evento em 2023 a quantia de R$ 250 mil e agora ter dobrado o “investimento”. Na página do evento há uma explicação, que é um tanto complicada de enquadrar a política de patrocínios naquilo que foi realizado. É Informado que a estatal bancou a ampliação do “Arena Gamer”, com o objetivo de “oferecer uma experiência imersiva com influenciadores e campeonatos“.
Neste caso, o evento não parece estar cumprindo com o requisito de ser “alinhado à missão, políticas, objetivos estratégicos e estratégias comerciais da empresa“. A não ser que a estatal de processamento de dados do governo esteja pensando em desenvolver joguinhos para distribuir no país, não se tem motivação alguma para explicar um gasto de meio milhão para ampliar. A conferir a presença do Serpro no mundo dos games.
A própria organização do evento é vaga e dá pouca margem para tentar entender o que uma empresa responsável pelo processamento de milhões de informações de constribuições e impostos de pessoas físicas e empresas, além de executar uma série de políticas públicas, esteja pensando em atuar num segmento completamente estranho ao seu. Trata o evento como sendo um “ambiente diversificado e plural, onde a inovação e a colaboração se entrelaçam de maneira única”.
Além disso, esse discurso de “soberania” na estatal, ou no governo, é da boca para fora. A empresa já gastou R$ 350 milhões para a plataforma de nuvem da Google e se prepara para pagar as outras big techs pelos mesmos serviços. A Huawei, por exemplo, caiu nas graças do Governo Lula. Espera-se agora que ela seja tão demandada quanto as empresas norte-americanas, que andam preocupadas com os rumos comerciais futuros n Brasil, após o presidente Donald Trump estabelecer uma guerra tarifária com o resto do mundo.
Para completar, o “Rec’n Play” sequer foi um evento que custou R$ 500 mil em 2024 ao Serpro, mas em termos publicitários projetou a sua boa imagem pelo país. Na página oficial dele a logomarca do Serpro nem consta como patrocinadora oficial do evento:
Gestores classe A, B e C
Há outro exemplo de falta de clareza no critério de escolha e gastos com patrocínios de eventos. A estatal participou no ano passado de três “foruns” voltados para o debate sobre gestão pública, que em tese seria a sua praia. Mas por que o “7º Congresso Mineiro de Novos Gestores” – realizado entre os dias 12 e 13 de novembro de 2024 – recebeu R$ 200 mil, enquanto que eventos como, “Novos Gestores do Rio Grande do Norte”e “Gestores de TI do Pará” receberam, respectivamente, R$ 20 mil e 25 mil?
Férias ou negócios?
O presidente do Serpro Alexandre Amorim está passando 13 dias neste mês de março na China, supostamente realizando encontros e visitas com executivos de grandes empresas de tecnonolgia chinesas. A agenda começou no dia 7 de março e só terminará no próximo dia 20, com tudo pago pela estatal. Mas até agora a Comunicação do Serpro não produziu nenhuma informação sobre esses supostos encontros e os seus resultados comerciais para a empresa.
É curioso que o Serpro tenha mandado para a China o seu presidente – acompanhado do superintendente de Produtos e Serviços (Eduardo Prola Salinas – Centro de Dados); do gerente de suporte técnico de TI (Santiago Casado dos Santos) e do gerente do Departamento de Suporte à Plataforma Alta (Sandro Rogério Benelli Ninin) – e nada de relevante saiu publicado oficialmente até agora pela imprensa do Serpro. Qualquer coisa que possa explicar o que esses executivos foram fazer lá.
Mais estranho ainda, foi saber que a visita dos executivos do Serpro aos chineses teve a participação da Apex Brasil, a “Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos”. Podem alegar que a viagem tem justamente a ver com a perna “investimentos”. Mas daí fica a dúvida: investimentos de quem para quem? Da China para o Brasil ou vice e versa? Se for o Serpro, o quê uma empresa estatal teria para exportar ou investir em solo chinês?
A viagem não passou despercebida pelo Conselho de Administração da estatal, que já fez constar em Ata que a direção do Serpro deve dar uma enxugada nos gastos com passagens e hospedagens de funcionários no Brasil e no exterior.
*Reclamou, mas aprovou essa viagem de 13 dias para Alexandre Amorim.