Ministro fala de Nokia 6G em evento Ericsson 5G e Bolsonaro ataca a China

Num discurso que traz novamente o velho bordão de campanha: “minha bandeira jamais será vermelha”, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, prometeu 5G nas capitais em julho de 2022, apresentou números de inclusão digital que não são deste governo, mas fez parecer que são e praticou o esporte predileto do presidente Bolsonaro: atacar a imprensa.

Para concluir ele também acabou mais uma vez com a campanha de marketing de fabricante e operadora de telefonia.

Idolatria

Não há ocasião em que o ministro das Comunicações deixe passar a sua demonstração de fidelidade ao presidente da República. Desta vez Fabio Faria caprichou ao trazer para um evento de tecnologia ou telecomunicações um discurso de campanha que extremistas de direita usam contra o PT ou os partidos de esquerda desde os tempos de Fernando Collor de Mello.

Juntando com os ataques de Bolsonaro à China, pode-se dizer que o governo aplicou nesta quarta-feira o “pacote completo” contra todos que ostentam bandeiras vermelhas.

Conectividade

Mas foi justamente em assuntos de sua pasta que Faria deturpou algumas informações. Disse que o Governo Bolsonaro está conectando o país. Está, não se pode negar. Mas não nos números que apresentou em seu discurso. A maioria das conexões móveis de banda larga foi feita pelo Programa Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), que vem desde o Governo Lula. Não são números do programa Wi-Fi Brasil que em sua gestão requentou o Gesac.

Cenário colorido 5G

Nem tampouco no 5G o cenário imaginado pelo ministro deve ser levado ao pé da letra. Em seu discurso garantiu o 5G para o agronegócio e até para conectar a casa do brasileiro na Amazônia. Metas difíceis para um governo que ainda não pode afirmar com certeza que será reeleito.

O 5G real, dito pelo próprio ministro, somente deverá conectar as 27 capitais no ano que vem. É mais provável que não passe disso nos próximos dois anos após o leilão. A zona rural e os grotões do Brasil, se muito, contarão com o 4G. Lembrando que ainda há um fosso que continua excluindo brasileiros na conectividade móvel, que o governo espera reverter com a banda larga fixa, sobretudo na Amazônia.

O que ficou claro no evento é que o governo ainda estuda como excluir fabricantes de infraestrutura ( leia-se Huawei) do processo de criação da rede 5G. E em meio a esse problema, não consegue destravar em tempo recorde a decisão do TCU favorável ao seu edital de leilão das frequências, mesmo com toda pressão e lobby que vem fazendo junto a alguns ministros do TCU.

A área técnica do tribunal ainda resiste em dar um cheque em branco para o governo e nem todos os ministros deixam transparecer esse apoio ao edital da forma como foi criado pela Anatel. Tanto, que o relator do processo, ministro Raimundo Carreiro, nunca foi visto andando de braços dados com o governo em viagens de visita a fabricantes no exterior, nem tampouco participa de eventos públicos como o realizado nesta quarta-feira. Não quer dizer que o ministro seja contra o leilão. Apenas Carreiro não tem deixado transparecer que misturou suas atribuições, enquanto órgão de controle, com os desejos governamentais.

Detonador de marketing

Por fim, Fabio Faria é um ingrato. Se tem uma operadora que levantou a voz contra as demais, na discussão da implantação da tecnologia “5G Ferrari” – a tecnologia standalone – foi a operadora TIM. Foi ela quem botou a boca no mundo e num evento com a cobertura do portal Convergência Digital falou que não embarcaria no “5G do Marketing”, oferecendo a tecnologia 5G por meio de um upgrade de equipamentos na rede 4G.

Isso, entretanto, não foi suficiente para a operadora ganhar a chance de usar a sua logomarca no tablet que Bolsonaro ativou a rede 5G em caráter experimental no Palácio do Planalto. Benefício que o presidente e o ministro das Comunicações concederam para a VIVO recentemente.

Pior foi com a Ericsson, que montou todo o seu aparato para o evento no Palácio do Planalto, mas teve o dissabor de ver o ministro Fabio Faria só citá-la uma única vez, durante o acionamento da rede pelo presidente Bolsonaro. O ministro preferiu mesmo foi falar da Nokia (sempre ela) e a tecnologia 6G, que ainda está no laboratório dos fabricantes mundiais.

*Se alguma coisa serve de consolo para esses fabricantes, convém lembrar que o seu principal concorrente, a Huawei, continua marginalizada pelo governo. Até a Telebras conseguiu tirar uma boa casquinha nesse evento.