Inteligência artificial e deep fake: a nova fronteira na prevenção de fraudes

Por Débora Sirotheau, Carlos Rodrigo Fonseca Lima e Ieda Maria de Souza* – A crescente sofisticação dos golpes digitais e fraudes cibernéticas representa uma ameaça crescente à segurança dos sistemas digitais, afetando diversos setores. Em resposta a esses desafios, empresas e organizações têm investido em soluções tecnológicas avançadas, destacando-se a inteligência artificial (IA) e a sua aplicação na detecção de conteúdos falsificados, como os deepfakes.

Em janeiro de 2025, a Serasa Experian registrou 1.242 milhões de tentativas de fraude no Brasil, o maior número desde o início da série do indicador histórico. Esse aumento expressivo demonstra a necessidade urgente de adotar tecnologias integradas e soluções proativas para combater essas fraudes, tornando a segurança digital uma prioridade estratégica nas organizações.

O papel da IA na segurança digital

A IA vem revolucionando a segurança cibernética ao oferecer soluções que analisam padrões comportamentais, identificam anomalias e detectam tentativas de fraudes em tempo real. Técnicas como o aprendizado de máquina (machine learning) e o aprendizado profundo (deep learning) permitem que os sistemas reconheçam atividades suspeitas com alta precisão, contribuindo significativamente para a prevenção de fraudes.

A manipulação de imagens por meio da inteligência artificial tem avançado de forma notável nos últimos anos, alcançando níveis de realismo cada vez mais impressionantes aos olhos humanos. A melhor forma de prevenir esse ataque é utilizar a mesma tecnologia para detectar manipulações, exigindo monitoramento constante das validações para identificar novos padrões de ataque e o treinamento de modelos mais sofisticados. O Serpro investe na criação de modelos de IA especializados em detecção de deepfakes.

Liveness: proteção contra deepfakes

A solução de liveness, também conhecida como prova de vida, garante que a captura biométrica seja feita a partir de uma pessoa real e não por meio de artefatos inanimados como imagens, vídeos ou até mesmo máscaras físicas realistas ou digitais.

O uso dessa solução permite analisar micromovimentos, texturas, variações de cor e frequência das imagens coletadas, além das diferenças no fluxo óptico gerado — inclusive realização de coletas e análises de múltiplos frames em uma única validação — para identificar sinais de notificações humanas.

A combinação de diversas técnicas de segurança em uma única jornada de validação é essencial para garantir maior proteção nas transações. A integração de múltiplas análises torna essa abordagem mais segura e eficaz na detecção de fraudes, em comparação ao uso de uma única técnica.

Outro ponto que deve ser amplamente discutido é a garantia de que o indivíduo real — o usuário de boa fé — consiga acessar uma solução e seguir o fluxo de validação de forma segura. Pontos de segurança devem ser criteriosamente implementados para restringir o acesso do fraudador.

Análise comportamental: protegendo com identidade digital

Uma abordagem inovadora para combater fraudes é uma análise comportamental. Através dela é possível criar uma identidade digital baseada em padrões de uso, como a maneira de segurar e operar o celular, a forma de movimentar o cursor ou o estilo de digitação em teclados físicos. Assim, a inteligência artificial consegue identificar comportamentos atípicos, diminuindo possíveis fraudes.

Ao mesmo tempo em que bloqueia atividades suspeitas de forma rápida e eficiente, a solução proporciona uma autenticação contínua e discreta, garantindo uma experiência fluida e sem obstáculos para o usuário legítimo. Seu uso representa um avanço significativo em relação aos meios tradicionais, como senhas e tokens.

Além disso, a análise de registros e o monitoramento em tempo real dos fluxos de negócios são fundamentais para identificar atividades fora do padrão. Algoritmos de aprendizado de máquina geram alertas automáticos sempre que comportamentos anômalos são detectados, permitindo a adoção imediata de medidas preventivas. Esse monitoramento proativo é essencial para evitar fraudes antes que causem danos significativos, protegendo tanto as instituições quanto seus clientes.

O futuro do combate às fraudes com IA

A rápida evolução das fraudes digitais exige inovação constante nas soluções de segurança, sendo a inteligência artificial uma ferramenta essencial na luta contra ataques cada vez mais sofisticados, como os deepfakes. Soluções como liveness, análise comportamental e validações multibiométricas não foram apenas diferenciais, mas uma necessidade urgente para proteger a confiança dos cidadãos e a integridade dos sistemas digitais. O investimento contínuo em tecnologia, aliado à capacitação das equipes antifraude, é imprescindível para garantir a segurança no futuro.

Num cenário em que os fraudadores são cada vez mais criativos e sofisticados, a combinação de IA com estratégias de prevenção proativas emerge como a principal linha de defesa. Essa sinergia não só garante a proteção de dados e sistemas, mas também fortalece a confiança do usuário, seja no setor financeiro, público ou privado.

Nesse contexto, o Serpro desempenha um papel estratégico fundamental na transformação do Estado brasileiro, oferecendo soluções tecnológicas inovadoras que garantem a integridade das políticas públicas, protegem os dados dos cidadãos e fortalecem a soberania digital do país. A evolução contínua e o aprimoramento das tecnologias de combate à fraude são específicos para a construção de um futuro digital mais seguro, e sua melhoria eficaz será segura para o sucesso das políticas de segurança no Brasil e no mundo.

Referências

SERASA EXPERIAN. O Brasil tem registro nas tentativas de fraude registradas em janeiro, aponta Serasa Experian. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/indicadores/brasil-tem-recorde-nas-tentativas-de-fraude-registradas-em-janeiro-aponta-serasa-experian . Acesso em: 19 de maio de 2025.

Autores:

*Débora Sirotheau é gerente do Departamento de Combate à Fraude Cibernética do Serpro. Analista de TI com pós-graduação em redes de informática pela UFPA. Advogada pós-graduada em Privacidade e Proteção de Dados Pessoais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pela Escola Superior do Ministério Público do RS.Certificada CIPM E CDPO/BR pela IAPP. Certificada NIST CSF 2.0 e NIST RMF. Conselheira titular da CNPD/ANPD. Vice-Presidente da Comissão Especial de Proteção de Dados da OAB Nacional. Palestrante. Professora convidada de proteção de dados em cursos de pós-graduação.

*Carlos Rodrigo Fonseca Lima é especialista em Inteligência Artificial pela PUC-MG (2021), em Modelagem de Negócios pela UFRGS (2013) e em Redes e Telecomunicações pela UFMG (2003). Desde 2018 dedica-se exclusivamente ao desenvolvimento de soluções Inteligência Artificial e aprendizado de máquina. Atualmente coordena o Centro de Excelência de Ciência de Dados e Inteligência Artificial do Serpro, gerenciando equipes de especialistas nas mais diversas áreas, dentre elas: IA Generativa, PLN, Visão Computacional, Biometria, Modelagem Preditiva e Antifraude.

*Ieda Maria de Souza – lidera a Divisão de Governança para Combate à Fraude Cibernética no Serpro. É graduada em Administração de Redes; pós-graduada em Segurança da Informação e Governança de Tecnologia da Informação pela Universidade do Sul de Santa Catarina, pós-graduada em Cibersegurança e Governança de Dados e possui MBA em Liderança e Gestão de Equipes.