
O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), que contém informações de 94 milhões de brasileiros e o Sistema Único de Informações de Benefícios (Suibe), que atende em torno de 25 milhões de aposentados e pensonistas, serão migrados para a “nuvem soberana” da Dataprev. Leia-se: Oracle. A decisão já foi tomada pela diretoria da estatal e comunicada às equipes que ficarão responsáveis pela migração.
A escolha da Oracle não tem nada a ver com a preferência da empresa pela melhor nuvem ofertada pelas big techs no mercado de informática. Essa decisão leva muito mais em conta o grau de dependência tecnológica que a Dataprev acumulou nos últimos anos com este fornecedor, uma prova de que o dicurso do Brasil ter a sua “nuvem soberana” – disseminado por todos os governantes recentes – não passa de piada de mau gosto.
Dependência
Um dos motivos para a migração estaria no fato de que a Oracle está direcionando suas vendas de “Hexadatas” – uma plataforma integrada de hardware e software que otimiza o processamento de dados e análises de grandes bancos de dados por meio dessa tecnologia. O Suibe e a CadÚnico, por exemplo, estão entre eles – para os serviços que presta através da sua nuvem.
Segundo o mercado, a Oracle não está pensando em descontinuar a produção dos Hexadatas. Entretanto sempre houve e sempre haverá a atualização desses equipamentos que acabam obrigando os usuários a sempre gastar mais com renovações de contratos, que são considerados exorbitantes para o custo que tiveram na compra dos mesmos. Essa dependência das atualizações é famosa, por exemplo, com o sistema operacional Windows, em que o cliente é obrigado a atualizá-lo em sua máquina ou perde a garantia de receber atualizações do software no futuro.
Já existe até uma relação dos modelos Exadatas que serão descontinuados pela Oracle (https://www.natrinsic.com/oracle/eos):
No caso da Dataprev, funcionários explicaram que os Haxadatas da série X8 estão com os dias contados e precisarão de substituição por modelos mais modernos. Alguns tem data de expiração em dezembro deste ano e estão na estatal. São os de modelo X8-2 / X8-8. O custo de atualização para novos equipamentos seria astronômico para a Dataprev.
A saída que a Oracle oferece para quem precisa seria a sua nuvem. Desta forma os clientes minimizariam os efeitos negativos dos investimentos que fizeram ao terem apostado num modelo de tecnologia que está morrendo pelas mãos do fornecedor.
Proteção de Dados
A primeira discussão que se faz dessa migração do CadÚnico e do Suibe para a nuvem Oracle é o repasse de informações de milhões de brasileiros até então guardados em data certer da Dataprev. A estatal vem declarando publicamente que esse repasse não implicará em abrir os dados para um fornecedor estrangeiro, porque terá o “controle” da entrada e saída das informações. Isso não deixa de ser relativo, questionável, pois os dados também serão acessados pelo corpo funcional do INSS e todos os organismos que dependem de informações previdenciárias.
Vazamentos
As razões para a escolha da Oracle, em detrimento de outras nuvens ainda são desconhecidas, além da questão dos Hexadatas. Mas deduz-se que a estatal também esteja correndo por questões de segurança da informação após toda a confusão no INSS. Em junho do ano passado o Suibe sofreu um ataque hacker e foi constatado diversos acessos indevidos às informações de milhões de brasileiros. O Sistema Único de Informações de Benefícios (Suibe) reúne todas as informações sobre o beneficiário: nome, CPF, telefone, tipo de benefício – se é aposentadoria, pensão, salário-maternidade, benefício de prestação continuada – e o valor do benefício.
Mainframe
Outro motivo possível foi que a direção da estatal decidiu também acabar este ano com o ambiente mainframe Unisys no seu centro de dados do Rio de Janeiro. Essa é a terceira e última migração para uma plataforma baixa que faltava e chegou a durar 16 anos para ser implementada, devido a uma série de confusões e resistências internas contra o desligamento da máquina. Uma parte das informações do CadÚnico e do Suibe ainda estaria rodando nesse ambiente e ambos terão de migrar para a nuvem Oracle.
Um ponto interessante nessa migração é que ela pode ter contibuído para os recentes ataques da imprensa contra a Dataprev, no escândalo do INSS. A empresa segue levando pancada, mas efetivamente até agora não apareceu nenhuma informação comprometedora, que envolva funcionários na fraude dos descontos ilegais dos consignados e para as associações.
Mas na última terça-feira (13), quando falou para os funcionários no autidório da empresa, o presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, comentou que o envolvimento da estatal no escândalo em parte está sendo ocasionado por sua mudança de comportamento comercial.
Segundo ele, a direção da Dataprev pode estar irritando o mercado de informática, desde que decidiu eliminar o intermediário (as revendas de grandes empresas multinacionais de TIC) na compra de bens e serviços, procurando estabelecer negócios diretamente com os grandes fornecedores. Segundo Assumpção, isso deve ter irritado as revendas que deixarão de ganhar dinheiro no contato com a estatal, intermediando os contratos de TICs em nome das grandes empresas multinacionais.
Assumpção explicou que a Dataprev vinha tendo problemas com contratos assinados pelas revendas, porque depois elas não conseguiam fazer os grandes forcedores cumprirem as obrigações na íntegra. E a estatal não tinha como responsabilizar juridicamente a grande empresa fornecedora, porque apenas assinou contrato com uma revenda.
Na visão do presidente da Dataprev, por ter rompido agora com esse laço comercial, a estatal pode estar sendo vítima de um ataque velado desses pequenos empresários na imprensa, que se aproveitam do escândalo do INSS para tentar derrubar a diretoria.
*A direção da Dataprev chegou a ser procurada, mas não se manifstou. O canal segue aberto.