Números não mentem

No dia 4 de março, o presidente do Serpro, Marcos Mazoni, falou na rádio CBN sobre a pane no Serpro-SP.  E, na incômoda posição de ser  governo, se viu obrigado a desmentir o presidente da Fenadados, Carlos Alberto Valadares (Gandola) que, numa entrevista  anterior, informou que o Serpro vem sofrendo com problemas de inadimplência, que impedem de realizar novos  investimentos. Em outras palavras, órgãos públicos contratam serviços da estatal e não pagam ou demoram a pagar.

Mazoni disse que não havia tal inadimplência e isso não impedia a empresa de realizar investimentos. Que eles estavam em  média na casa dos R$ 100 milhões.

Pois bem.

Um “Serpriano atento” acaba de me mandar o que parece ser um trecho do Relatório de Gestão de 2010. Nele podemos constatar que, somente em créditos à receber, o famoso: “pendura que depois eu pago”, temos um total de R$ 632,2 milhões. Também consta como “créditos em avaliação de direito” – que parece ser uma forma semântica de dizer: “créditos de liquidação duvidosa”, um volume de R$ 231,1 milhões.

Errei por pouco se verificarem a nota que publiquei no último dia 4 de março, sobre os problemas das receitas do Serpro em 2010.

Segue a íntegra do suposto Relatório de Gestão e durma-se com um barulho desses:

Relatório de ACDE do SERPRO – Jan a Dez/2010

Saldo de Caixa

As disponibilidades de caixa, após ter atingido a posição crítica de R$ 7,1 milhões no mês passado,voltaram a se recuperar no final do dezembro de 2010, situando-se no patamar de R$ 43,1 milhões, ainda assim correspondendo a tão somente cerca de 49% da folha de salários média mensal apurada para o ano de 2010 (R$ 88,1 milhões). O quadro de aperto de liquidez, observado ao longo do exercício de 2010, é decorrente da combinação de dois fatores:

I) acumulação de faturas a receber, avaliadas em R$ 623,2 milhões (posição 30/12/2010); e

II) inscrição de faturas como “créditos em avaliação de direito”, atualmente, avaliadas em R$ 231,1 milhões. Essas faturas passíveis de glosas, à medida que não se materializam em receitas operacionais, tem provocado impactos negativos sobre as disponibilidades de caixa.

Ações corretivas/preventivas

Com o objetivo de melhorar a situação financeira da Empresa, reduzindo suas necessidades de capital de giro, enfatizamos a necessidade de desenvolver ações na seguinte direção:

I – ampliar os esforços de cobrança junto aos clientes, reduzindo o prazo médio de recebimento(PMR), com conseqüente redução do saldo das faturas a receber;

II – ampliar e diversificar os serviços prestados aos clientes, de modo a assegurar o aumento sustentado das receitas operacionais;

III – reduzir as despesas em geral, especialmente Pessoal-Encargos, que registrou expansão de 13,3% no ano de 2010, relativamente ao mesmo período do ano passado. O APA é o instrumento adequado para promover tal ajuste, haja vista as avaliações econômicas que apontam para esse programa um payback que garante uma redução considerável do desembolso com pessoal e encargos à curto prazo; e

IV – atuar junto a Receita Federal do Brasil, principal cliente da empresa, no sentido de reverter a situação de não ateste de faturas de serviços já prestados cujo montante de glosas perfaz o valor aproximado de R$ 214 milhões.

 

* Este Blog aumenta, deturpa, confunde, erra, sacaneia…

Mas não inventa.