Serpro abandona o Desenvolvimento e se torna a maior lojinha estatal de aplicativos do mundo

Depois de quase 12 meses de espera marcada por brigas internas no governo e no PT, saiu a indicação do nome que irá ocupar a Diretoria de Desenvolvimento do Serpro (DIDES). E, pasmem, a superintendente de “Relacionamento com Clientes Econômico Fazendário”, Ariadne de Santa Teresa Lopes Fonseca, que não se tem notícias de que entenda da área que comandará, acabou sendo nomeada para ocupar a diretoria.

Vai se confirmando aquilo que este blog vinha prevendo: o Serpro está se transformando numa “barriga de aluguel” e sofre um novo processo de “privatização”, após ter passado quatro anos lutando contra essa intenção de venda manifestada pelo Governo Bolsonaro.

A Diretoria de Desenvolvimento do Serpro simplesmente está acabada desde o início do Governo Lula. A empresa chegou a remanejar alguns desenvolvedores do interesse da área de clientes, justamente para ficarem à frente da integração com as aplicações que vierem das empresas privadas que assinarão “parcerias” para a criação de soluções governamentais nas áreas Federal, Estadual e Municipal. Nunca na História do Serpro a Diretoria de Relacionamento com Clientes teve tanto poder como agora.

Toda a área de Marketing e Comunicação do Serpro, por exemplo, vem sendo orientada a jogar nas redes sociais a imagem da estatal participando das principais ações de Transformação Digital do Governo Lula. Ao ponto de terem gasto recentemente R$ 100 mil; apenas para um subordinado da Diretoria de Relacionamento com Clientes do Serpro falar por 15 minutos num evento de empresas aeroportuárias.

Não engana à ninguém no governo, pois todos já sabem que o braço tecnológico da Transformação Digital do Governo Lula 3 vem sendo a Dataprev, que conta com o apoio do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos.

O PT vê a manobra de Andre De Cesero como a concretização de uma “privatização branca”, já que a ideia de vender a estatal no Governo Bolsonaro acabou não prosperando. Essa privatização seria a estatal passar a fechar contratos dentro do governo para desenvolvimento de aplicativos, que na realidade serão terceirizados pelo Serpro para empresas privadas. O ambiente multinuvem hibrida que o Serpro vem criando favorece a entrada pela janela dessas empresas, que em condições normais talvez tivessem de enfrentar pesada concorrência em processos licitatórios.

Ariadne foi nomeada por decisão do Diretor de Relacionamento com Clientes, André de Cesero, o único sobrevivente na diretoria do Serpro da era Bolsonaro. Conseguiu a façanha de barrar dois nomes sugeridos pelo PT Nacional, que inclusive contavam com o apoio do senador Humberto Costa, além de outros expoentes do PT e do PDT. Nem mesmo o ex-presidente do Serpro, Marcos Mazoni, conseguiu ter seu nome aprovado para retornar ao Serpro.

André de Cesero na realidade não é um bolsonarista de carteirinha. Ele apenas é ardiloso e entende como poucos a arte de fazer política dentro de uma estatal. Tanto que vem ocupando a diretoria da empresa desde o primeiro Governo Lula.

Sua área lhe favorece estabelecer contatos políticos com todo o governo, principalmente a Receita Federal. Com isso, acaba contando com apoios em diversas esferas do governo. Sem contar que ainda reza a lenda à seu favor, de que o diretor é apadrinhado político do ex-presidente, José Sarney.

Hoje no Serpro André de Cesero é considerado o “presidente de fato” da estatal. Manda mais que o presidente de direito, Alexandre Amorim, que não passa de figura decorativa na empresa e não goza de nenhum prestígio dentro do governo.

Amorim só está na presidência do Serpro por causa da “República de Ararandré”; como são chamados os petistas de São Paulo ligados ao ministro da Fazenda Fernando Haddad, que por anos dominam a política nos municípios de Araraquara e Santo André. Os dois maiores expoentes políticos dessa “República”, além de Fernando Haddad, são: o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belquior.

Alexandre Amorim ganhou apoio dentro dessa facção do partido e nas bases petistas de Brasília e Pernambuco. Foi uma conjunção de indicações do PSD com apoio do PT paulista, que sempre antagonizou com o PT Nacional que desejava trazer de Volta o ex-presidente, Marcos Mazoni.

Alexandre Amorim teve, por exemplo, o seu nome avalizado pelo ex-prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT), além do respaldo político do Advogado Marco Aurélio de Carvalho, do Grupo Prerrogativas, que também é fundador da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Na mídia Amorim foi apontado como indicação feita pelo prefeito de Curitiba, Rafael Greca, além do presidente do PSD, Gilberto Kassab.

O Serpro vem perdendo espaço e prestígio político. E se continuar nessa direção, o mais provável é que até o fim do Governo Lula acabe se transformando num “apêndice” da Dataprev, num eventual processo de fusão das duas estatais de TI. Esse estudo já existiu no final do Governo Dilma, mas só que, lá atrás, quem dava as cartas era o Serpro. Hoje a empresa não é nem sombra daquilo que já foi.