Onde estão os contratos da Dataprev para serviços de Transformação Digital?

Na segunda reportagem desta série, algumas dúvidas precisam ser esclarecidas pela direção da Dataprev. Além dos problemas com os sistemas do INSS, a presidente Christiane Edington precisa esclarecer sobre como decidiu canalizar os esforços da estatal para projetos de Transformação Digital, sem a suposta cobertura financeira dos demandantes destes serviços (INSS ou a Secretaria de Previdência ou ainda a Secretaria de Governo Digital do Ministério da Economia).

Onde estão as ordens de serviço, ou os contratos assinados entre a estatal e quem os solicitou? Este site procurou informações sobre os contratos, mas não encontrou nenhum documento que atestasse que a Dataprev venha executando o serviço e está sendo remunerada por ele.

Ao contrário, o que existem são informações dando conta que em janeiro deste ano – um ano de Governo Bolsonaro – o INSS está mais interessado em cortar serviços que mantém junto a Dataprev, por restrições orçamentárias no órgão, do que bancar novos projetos de “Transformação Digital”.

Por exemplo, em 16 de janeiro passado, a presidente, Christiane Edington e o diretor de Desenvolvimento, André Côrte, assinaram o Oitavo Termo Aditivo ao Contrato 35000.000351/2017-51, que mantém com o INSS. Nele fica estabelecido que até o dia 16 de fevereiro, caso não haja renovação de prazo, a Dataprev irá descontinuar alguns sistemas e outros serviços que presta ao órgão:

Os serviços definidos acima pelo INSS para serem descontinuados pela Dataprev por falta de previsão orçamentária, ainda dependerão da decisão de uma comissão criada para debater o assunto.

O prazo para o desligamento dos sistemas está previsto no aditivo para ocorrer até o dia 16 de fevereiro deste ano. Porém, a aposta interna da Dataprev é de que esses sistemas continuarão ativos por conta de sucessivas renovações de prazos, até que o INSS encontre uma saída orçamentária e disponha de recursos para pagar e mantê-los funcionando.

Neste caso ficam algumas indagações a serem feitas para a presidente da Dataprev ou à TI do INSS:

1 – A estatal vai manter os sistemas rodando sem receber nada por eles até quando, porque existe uma expectativa de algum dia receber por esses serviços?

2 – O INSS irá ficar sem o serviço de e-mail da Dataprev?

3- Qual a alternativa está programando?

4- Como o INSS irá explicar aos órgãos de controle, que vai pagar para alguém um serviço de e-mail, se suspendeu o da Dataprev alegando falta de recursos?

Ao anunciar que não quer um sistema em plataforma baixa, de pagamentos para 35 milhões de aposentados e pensionistas, o INSS está sinalizando que prefere manter a folha rodando na plataforma mainframe, da Unisys.

Uma decisão surpreendente, pois desde o Governo Lula, a Dataprev tem um Termo de Ajuste de Conduta assinado com o Ministério Público Federal, no sentido de se livrar de tal dependência tecnológica. Na época a Accenture foi contratada para fazer essa migração que, pelo visto, não conseguiu. Tanto que agora a presidente Christiane Edington mandou cancelar o contrato. Então também cabem perguntas:

1 – O Ministério Público Federal está ciente e concorda que a Dataprev rompa o “TAC” e mantenha o ambiente mainframe da Unisys para rodar a folha dos velhinhos?

2 – A presidente da Dataprev tem conhecimento de que foram dos mainframes que saíram fraudes e roubo de dados de segurados, em processos ainda em curso de investigação na Polícia Federal?

3 – Uma pergunta mais genérica ao governo: por que o INSS decidiu anos depois, voltar a garantir a sobrevivência da Unisys no controle dos bancos de dados da Previdência Social?