Pela primeira vez alguém de escalão superior do Ministério da Economia apareceu ontem (25) no Congresso Nacional para explicar a liquidação da Ceitec. Martha Seillier, Secretária Especial da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), participou de forma remota de uma audiência para falar do tema na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado (CCT).
E foi um desastre.
Até então, ou o ministério simplesmente ignorava os pedidos de audiências ou mandava representantes de escalões inferiores para falar genericamente sobre o assunto. Martha Seillier desta vez apareceu para defender a extinção da Ceitec, mas suas informações não acrescentaram absolutamente nada ao debate. Praticamente repetiu o velho mantra do seu ex-chefe Salim Mattar: “estatais não dão lucro, são corruptas e a iniciativa privada pode fazer melhor”.
Só que desta vez Marta pegou pela proa o professor Sérgio Bampi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos maiores especialistas em microeletrônica no Brasil, que até já fez um estudo para embasar a Abinee com informações sobre os problemas da cadeia produtiva no Brasil.
No caso da Ceitec, Seillier usou até o auxílio emergencial que o governo deseja dar até o ano que vem, em período eleitoral, para justificar a extinção da estatal do chip. Segundo ela, dentro do esforço fiscal do governo para economizar e arrecadar recursos, a Ceitec terá importante papel ao ser liquidada. Pois economizará para os cofres públicos investimentos de R$ 80 milhões feitos nos últimos 10 anos, com uma empresa que somente fatura R$ 8 milhões por ano.
Ficou claro pela audiência pública, que o governo apenas quer se desfazer de um ativo, sem nenhuma justificativa econômica ou estratégica para o país, principalmente na área de semicondutores, que vem passando por uma crise mundial de escassez de componentes eletrônicos.
Martha não demonstrou nenhum conhecimento do setor de semicondutores. Ao contrário, o seu discurso mostrou que o Ministério da Economia apenas apresentou um relatório extraído com base na opinião de técnicos da área econômica e o palpite de empresas interessadas em tirá-la de um mercado, que sequer competem diretamente com ela.
O interesse é claro: estão liquidando uma estatal para dar a preço de banana equipamentos e uma sala limpa para empresas privadas. Além de todo o conhecimento acumulado numa das áreas mais competitivas do mundo. Esse conhecimento definirá os verdadeiros players tecnológicos no futuro.