Por Jeovani Salomão* – Para quem assistiu alguma produção relacionada à Guerra nas Estrelas, fica fácil associar o título a uma fala muito comum de um robô denominado C-3PO. O androide foi criado por Anakin Skywalker, personagem que se transforma em um dos grandes ícones da epopeia, o temido Darth Vader. A figura robótica tornou-se tão querida do público que, juntamente com seu parceiro R2-D2, aparece em todos os filmes da saga.
A dupla protagoniza cenas marcantes. R2-D2 comunica-se apenas por meio de bipes e ruídos, indecifráveis pelos humanos, mas é um companheiro formidável, capaz de interagir com uma grande quantidade de equipamentos, inclusive ser copiloto de naves espaciais, tendo sido protagonista e salvado a cena em inúmeras ocasiões. Apesar de pequenino e com alguma dificuldade de locomoção, move-se por intermédio de rodas não muito adaptáveis a terrenos irregulares, é um verdadeiro herói.
C-3PO, por sua vez, é um mestre em linguagens. Capaz de se comunicar em mais de 6 milhões de idiomas diferentes, foi concebido, apesar de sua superfície brilhante, tendo como referência o ser humano. Possui 1,71 de altura e a constituição física tão peculiar que caracteriza nossa espécie. Ao contrário do primeiro androide, a personalidade deste é atrapalhada, pessimista e muito medrosa. Ao longo da história, no entanto, demonstra sua lealdade e comete atos de bravura determinantes para vitórias dos seus aliados.
O domínio de tal poder de comunicação relaciona-se ao objetivo para o qual o droide foi criado: ser especialista em protocolos, traduções e linguagens, de forma a possibilitar a interação de indivíduos de diferentes raças entre si e com equipamentos eletrônicos dos mais diversos.
Recentemente, o MIT apresentou uma lista com as 10 maiores inovações de 2021. Dentre elas, uma plataforma de Inteligência Artificial – IA, denominada GPT-3, especializada justamente em linguagens. Criada pela OpenAI, entidade sem fins lucrativos cofundada por Elon Musk, cujo objetivo é desenvolver e promover IA amigável, capaz de beneficiar o mundo, o modelo computacional é capaz de compreender, interpretar, conceber respostas e, até, imitar textos humanos.
Pesquisando sobre o GPT-3 na Internet, deparei-me com uma definição que me chamou bastante atenção, no site sigmoidal:
“Em termos simples, o GPT-3 é um framework com mais de 175 bilhões de parâmetros que usa Deep Learning para realizar diversas tarefas relacionadas à Natural Language Processing, ou Processamento de Linguagem Natural, em português.”
Curiosamente, apesar do início, “Em termos simples”, a explicação afasta bastante aqueles que são leigos no assunto. Caso você, leitor, não seja um especialista, lembre-se do C-3PO, ou seja, um bot capaz de falar com você em sua própria linguagem e executar tarefas que envolvam qualquer tipo de comunicação.
O uso e processamento de Linguagem Natural é, sem dúvida, um dos principais avanços na popularização da IA. A possibilidade de oferecer comandos como se estivéssemos conversando com outro ser senciente, certamente, fará com que a tecnologia chegue a um número muito maior de pessoas. Por tal razão, o avanço de plataformas como a GPT-3 é tão relevante, uma vez que irá permitir que pessoas não especializadas produzam interfaces tecnológicas, como, por exemplo, websites, apenas utilizando a fala. A especificação do layout e do conteúdo será ditado a um robô capaz de interpretar e produzir nossos desejos.
Além disso, há que se refletir sobre o conjunto imenso de usos e implicações da tecnologia. Assim como o C-3PO, o GPT-3 é um exímio tradutor. Ademais, se pensarmos que a música se codifica por uma linguagem bem determinada, é possível que se transforme em um excelente músico. Pode ser, também, que decodifique os padrões de obras de arte famosas e seja capaz de reproduzir tais padrões em obras novas, de forma que podemos vir a ter um novo quadro de Da Vinci, feito pela IA.
Caso você pense que esta é uma possibilidade distante, vale conhecer alguns desafios já enfrentados com sucesso pela plataforma, como simular alguns textos de autores famosos, imitar pessoas em entrevistas e até bater um papo com programadores, como no caso de Luís Leão, cuja conversa e outras peripécias foram transcritas no blog Twilio.
Uma das coisas fundamentais que me recordo da minha formação matemática, é que esta ciência é também uma linguagem, da mesma forma que as codificações utilizadas para criar os programas de computador. Sim, estou afirmando que o GPT-3, especialista em linguagens, já é capaz de programar, não apenas websites simples, e, em breve, será um mestre em matemática, embora nunca tenha ouvido ninguém falar sobre este ponto específico.
Os avanços podem ser extraordinários, animadores e assustadores ao mesmo tempo. Fico feliz que o propósito da Open IA, talvez o instituto que será lembrado como o autor da mais poderosa ferramenta de Inteligência Artificial já concebida, seja a de conduzir pesquisas fundamentais de longo prazo para a criação de IA segura.
*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA, Membro do conselho na Oraex Cloud Consulting, ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional e escritor do Livro “O Futuro é analógico”.