O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve hoje (09) uma reunião de trabalho com o presidente Lula no Palácio do Planalto. Ao sair os repórteres indagaram quando o governo lança oficialmente o “Desenrola”, um programa de renegociação de dívidas dos brasileiros, promessa de campanha de Lula. Haddad além de ser evasivo, mostrou que desconhece a informática pública. Primeiro, sinalizou que o governo ainda não contratou a solução que ele considera inédita, mas não é. Depois falou ao mesmo tempo que o sistema ainda está “em desenvolvimento”, sem explicar exatamente onde.
Mas o melhor da confusão foi quando ele parafraseou o ex-presidente Jair Bolsonaro, que pressionado a falar no auge da pandemia da Covid-19 sobre o número de mortes, saiu-se com a famosa frase: “E daí? Não sou coveiro”. No caso de Fernando Haddad, quando pressionado pelos repórteres a apresentar um prazo de implantação do “Desenrola”, jogou o problema nas colo dos desenvolvedores de sistemas, sejam públicos ou privados: “Não sou programador”, disse.
A entrevista de Haddad tem duas vertentes possíveis: 1- o governo ainda não começou a fase de implantação do “Desenrola”, pois sequer sabe quem o fará. Não tem licitação na praça para contratação de empresa privada com esse objetivo, pelo menos não foi dada ainda a publicidade do assunto. 2 – O governo pretende criar um novo sistema e pode estar pensando em recorrer ao Serpro, não por acaso a maior empresa de Tecnologia da América Latina que é vinculada coincidentemente ao Ministério da Fazenda.
Este blog já solicitou informações ao Serpro para saber se há alguma iniciativa lá dentro de desenvolvimento do “Desenrola”. Embora aguarde uma resposta oficial, dificilmente a empresa poderá garantir que sim e que o processo esteja adiantado.
Por uma razão simples: o Serpro sequer tem diretoria montada ainda para cumprir determinações do ministro da Fazenda. Até agora somente o presidente da estatal, Alexandre Amorim foi nomeado. O resto dos cargos disponíveis ainda sofrem uma disputa política insana nos últimos 62 dias para serem preenchidos. Sem contar que até diretores da gestão Jair Bolsonaro sonham em permanecer mais quatro anos no poder.
O Serpro pode até afirmar que pretende desenvolver a toque de caixa esse sistema, mas o mais provável será a contratação de empresa privada já adiantada nessa área, para customizar o que já foi “desenvolvido”. Daí lança a ferramenta como sendo “by Serpro“. De todo modo vamos aguardar a manifestação oficial da estatal.
Se a opção for pela contratação de empresa privada, resta saber de onde irá partir a licitação, já que não foi detectado até agora nenhum aviso nessa direção, seja do Ministério da Fazenda, do Serpro ou outra pasta governamental. Mas Fernando Haddad está enrolado até a alma com o problema e nem tem ideia que no mercado existem inúmeras soluções de renegociação de dívidas feitas por empresas. Se for necessário este blog fará uma pesquisa no Google e mandará para ele. Até a Serasa, parceira de longa data do governo (leia-se Secretaria de Governo Digital, quando era do Ministério da economia) tem seu programinha de renegociação, nos moldes que deseja o governo.
É só combinar o preço, lançar o edital na rua, que vai aparecer um bando de empresas atrás do negócio. Que além de garantir uma remuneração gorda nos processos de intermediação das renegociações de dívidas dos brasileiros, ainda vai brindar a empresa prestadora do serviço com o aceso aos dados de milhões de pendurados em dívidas.
*Mete os peitos Haddad!
(Imagem: 28.fev.2023 – Adriano Machado/Reuters)