Coluna de Domingo: mercado da certificação digital agora quer nomear no ITI

As empresas voltadas para registro e certificação digital no país estão reagindo negativamente à uma suposta nomeação pela Casa Civil da Presidência da República de Enylson Camolesi, atual Assessor Especial do presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, para a presidência do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. O ITI atua como a Autoridade-Raíz da Infraestrutura de chaves públicas brasileira (ICP-Brasil) e ninguém nesse setor está acima deste órgão e das decisões que ele tomar.

Considerando que ainda não houve nomeação alguma, vamos ao que interessa. Pelo pouco que apurei – tirando a parte em que as acusações estão abaixo da cintura – o perfil de Enylson não me pareceu o de um “aventureiro” que esteja em busca de apadrinhamento e cargos no governo. Até porque, ele já esteve por quase os oito anos dos Governos Lula 1 e 2 lotado na Presidência da República. Retornou agora no “Lula 3” para uma função de confiança na Dataprev e pode acabar migrando para o ITI.

A bronca do setor de certificação digital seria pelo fato de “Enylson não ser da área” ou por “não ter seu nome sido submetido ao setor”.

Tirando a parte da pretensão de empresas privadas de quererem interferir em nomeações de governo, realmente não consta que Enylson Camolesi tenha passado pela área de certificação digital. Mas este blog entende que isso não é demérito para escolha de ninguém em cargos de governos. Muito mais do que “ser da área”, o ideal é que a pessoa atue com a área. Que ouça a todo o setor, seja o juiz de disputas, uma liderança dos anseios setoriais junto ao governo. E não apenas seja presidente do ITI por escolha de alguns empresários ou empresas com trânsito e interesses no governo.

Tem mais, ninguém sobrevive por 14 anos num posto de comando em uma empresa como a Vivo/Telefônica por “apadrinhamento de alguém”. No setor de Telecomunicações ou o sujeito é bom e dá conta do recado na área para a qual ganhou o emprego, ou abre rapidinho o currículo no LinkedIn.

Enylson Camolesi pode não entender de criptografia, mas comandou nesse período de multinacional do setor de telefonia equipes voltadas para o relacionamento com gestores públicos nas esferas federal, estadual e municipal. Então indago às empresas de registro e de certificadoras digitais que vivem penduradas no saco de governos: por que o setor não poderia contar com um currículo como o de Enylson Camolesi na presidência do ITI?

Cryptopolítica

Não consta para este blog que, na virada dos governos do PT para aquilo que veio depois, o “Deus Mercado da Certificação Digital” tenha criado algum caso com a nomeação para a presidência do ITI de Gastão Ramos, que também não era do ramo.

E nem se incomodou depois, quanto ele tomou uma decisão política que quase abalou os alicerces da certificação digital brasileira: mudou a cor da sede da fachada do ITI, que era “vermelho petista/comunista”, para um azul “tem de manter isso aí” – no Governo Michel Temer.  

Cryptopolítica 2

Mas nem tudo é “chororô” de empresário. Há um trecho no festival de denúncias do setor de certificação digital que pode fazer sentido, sobre a participação privilegiada de empresas na implantação da nova Carteira de Identidade Nacional (CIN), que já está operando em 12 Estados. Estamos apurando e todos os citados serão convidados a explicar esse questionamento.

Cryptopolítica 3

Aliás dá para desconfiar que, essa gritaria de empresas do setor de certificação digital com nomeações para o ITI, com certeza deve ser porque alguém estará perdendo mercado ou, quem sabe, corre o risco de tornar-se extinto por conta de novas tecnologias que suportarão a Carteira de Identidade Nacional (CIN). A vida é dura senhores empresários. Ou será que vocês achavam que, ao soltarem o monstro da Inovação e da Transformação Digital, ficariam “imunes” à Teoria da Evolução de Charles Darwin?

Não estou sozinho

O jornalista Reinaldo Azevedo esta semana fez uma “live” com o seguinte título: “PT e governo tomam surra diária nas redes sociais; direita domina esse território“. Não poupou críticas à Comunicação do Governo Lula. Que este blog concorda em gênero, número e grau. Ainda é tempo para mudar e reagir nas redes e contar com a verdadeira imprensa alternativa. Que para a cúpula do PT instalada confortavelmente no governo, só serve de canal quando se está na oposição. Depois não digam que não foram avisados e saiam por aí berrando que “foi golpeeeee”.

Monetização de dados

Como era esperado, cresceram as reações negativas ao projeto de Lei Complementar 234/23, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que dá ao dono das suas informações pessoais que circulam na rede o direito dele vendê-las para empresas interessadas em explorá-las financeiramente. Coisa que já fazem, mas o dono do dado fica só chupando o dedo. Enquete publicada no portal da Câmara dos Deputados mostra esse crescimento embora ainda seja pequeno, em confronto com o interesse da maioria dos internautas que responderam à pesquisa e disseram que querem obter algum lucro com a venda dos seus dados pelas big techs. O PLP 234/23 de Chinaglia ainda não teve movimentação na Câmara dos Deputados. O presidente Arthur Lira ainda não designou as comissões e parlamentares que irão analisar a proposta.

DATA$U$

O DATASUS está com um edital na praça que vem causando a alegria do mercado de TI neste restinho de fim de ano que a gente ainda tem pela frente. Um pregão eletrônico marcado para o próximo dia 23 de novembro para contratação de “serviços gerenciados de segurança da informação”. Coisa prevista para pagar os contratados a bagatela de uns R$ 25,3 milhões. Só teve um probleminha. Não deu para o povo da TI pagar esse valor integralmente com uma única empresa.

O Departamento Jurídico do Ministério da Saúde bateu o pé para que fosse feito o “parcelamento do objeto” e a massa do bolo desandou, se é que vocês me entendem. Com isso o pregão eletrônico, que permitiria um único vencedor pelo valor global, teve de ser dividido em três lotes, o que admite que possa haver até três empresas distintas como vencedoras.

*Esses advogados de ministérios não têm coração.

(Imagem da evolução do homem é de autoria da dreamstime.com )