O liquidante da Ceitec, oficial da Reserva da Marinha, Abílio Eustáquio de Andrade Neto, mentiu quando falou em audiência pública na Câmara Municipal de Porto Alegre, que não houve uma visita secreta nas dependências da estatal do chip com representantes de empresas. Tal encontro, denunciado por este blog, que segundo a versão dele foi apenas “casual”, ocorreu no dia 5 de outubro de 2021. E o objetivo foi mostrar aos empresários os equipamentos da estatal que serão vendidos separadamente com a extinção da Ceitec. Processo que está paralisado desde setembro do ano passado por ordem do Tribunal de Contas da União, decisão não acatada por Abílio Neto.
Ele esteve no último dia 15 de fevereiro num encontro virtual com os vereadores da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre e desqualificou a informação deste blog. “Tem reportagens aí, de vista secreta na Ceitec. Isso nunca existiu. O que existiu aqui foi uma visita de um cliente nosso, um diretor que inclusive é filho de um colega meu de turma (Marinha), que me pediu para vir aqui conhecer a Ceitec. Foi uma visita totalmente aberta, dentro da minha sala, almoçando no refeitório junto com todos os funcionários”, disse o liquidante Abílio Neto.
Foi isso mesmo, Abílio?
O vídeo começa com os empresários sendo recebidos pelo Superintendente de Produto, Pesquisa e Desenvolvimento da Ceitec, Eric Ericson Fabris, que já foi conselheiro da Sociedade Brasileira de Microeletrônica e do Conselho Diretor da Abisemi – que reúne as empresas interessadas em comprar parte dos equipamentos da estatal. E a filmagem prossegue e termina com a visitação nas dependências que integram a “sala limpa”, onde o Superintendente de Fábrica, Eduardo Augusto Zenzen (de vermelho), fez questão de mostrar os principais equipamentos que serão vendidos após a liquidação da estatal.
O encontro não foi casual. Os representantes da empresas – superintendente Comercial e Operações da Valid S/A, Higrio Carvalho Urruth, e os proprietários da CCRR RFID, Ricardo Zoghbi Coelho Lobo e Marcio Allegrini Muniz – foram até a Ceitec porque tinham interesse em conhecer o estado dos equipamentos que serão vendidos após a conclusão do processo de liquidação.
O vídeo deixa claro, inclusive, que Abílio mentiu na agenda oficial do encontro, ao informar que não haveria visitação às dependências restritas da Ceitec.
Também é fato que após esse encontro ocorrido em outubro do ano passado e denunciado por este blog, todas as visitas foram suspensas depois disso. Ninguém que tenha solicitado visitação à fábrica teve o pedido aceito pelo liquidante da Ceitec após a denúncia. Porque ele sabe que pegou muito mal para a imagem dele no Tribunal de Contas da União, já que a corte de contas paralisou a liquidação um mês antes de Abílio receber o “filho do amigo” nas dependências da estatal.