Por Jeovani Salomão* – Fui agraciado com o convite do competente professor Ulisses Sampaio, com o qual tive o privilégio de trabalhar em conjunto quando ele desenvolveu um brilhante papel de liderança em projetos na minha empresa, para um bate-papo promovido pelo IBMEC, sobre o tema do título deste artigo. A renomada instituição de ensino está inaugurando cursos de pós-graduação no setor de tecnologia da informação (TI) e tanto a iniciativa, quanto o debate, chegam em momento muito apropriado.
Houve um aquecimento significativo da demanda de transformação digital a partir da deflagração da pandemia. A necessidade de as pessoas terem de tratar muitas de suas atividades em casa, de forma remota, acelerou a construção de uma enormidade de serviços digitais, motivo pelo qual os profissionais de TI estão em um momento de alta em suas carreiras.
Evidentemente, quem está de fora deve ficar tentado a entrar neste mercado tão promissor, o que tem levado a um grande número de iniciativas de qualificação profissional. Por outro lado, quem já é técnico do setor quer galgar novos degraus, seja em relação aos desafios, seja pelas questões salariais, estas últimas em picos nunca vistos.
Há vagas disponíveis nas empresas de tecnologia, nas empresas de varejo, nos bancos, em empresas internacionais, uma vez que a presença física não é mais questão determinante, e em todo setor que se modernizou mais rapidamente do que o esperado nesse período. Apenas para se ter uma ideia da aceleração, segundo o estudo “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2021”, realizado pela Associação Brasileiras das Empresas de Software (ABES), com dados da consultoria IDC, o crescimento em 2020 chegou ao patamar de 22,9%, o que corresponde a um montante de 200 bilhões de reais de investimento.
Decorre deste cenário a pertinência sobre quais as habilidades devem ser desenvolvidas, quais são as mais importantes para aqueles que contratam, quais levam ao sucesso e à realização profissional. Sobre as Tech Skills, que são as habilidades Hard do mundo tecnológico, é um bom exercício compreender quais são as tendências que estão dominando o mercado.
Sem a intenção de ser exaustivo, acredito que os profissionais devem observar as disciplinas que estão relacionadas com grande massa de dados (Big Data, Analytics, Data Science), com inteligência artificial (Machine Learning, redes neurais, reconhecimento de padrões) e com automações de processos (RPA, BPA). Não se pode deixar de dar atenção também para a construção de novos sistemas e aplicativos, bem como para a integração de plataformas, mas se eu estivesse começando a minha carreira ficaria em uma das correntes do primeiro bloco. Para mim, são as grandes tendências do mercado.
Observe-se que do conjunto sugerido, temos níveis diferentes de formação e de tempo de preparação. Por exemplo, tenho certeza de que determinadas habilidades envolvidas com RPA (do inglês Robotic Process Automation) podem ser adquiridas muito mais rapidamente do que aquelas relacionais com Data Science ou redes neurais.
Existe um número imenso de oportunidades para melhorar a vida das organizações “robotizando” tarefas manuais repetitivas. Ou seja, se você possui uma formação básica em tecnologia (e quem quer vir e permanecer no setor nunca pode esquecer do básico: lógica de programação, capacidade de compreender estruturas simples de dados, segurança e comunicação, SQL, compreensão de camadas de aplicações, incluindo a web, conhecimento e utilização de repositórios de código, dentre outros) e quer aumentar rapidamente sua remuneração, este é um belo caminho.
Pelo lado soft, algumas habilidades nunca deixam de ser importantes, como a capacidade de trabalhar em equipe, bom relacionamento interpessoal, compromisso com a qualidade e a entrega. No entanto, o momento atual se distingue pelo dinamismo. As demandas dos clientes estão enormes e com um tom de urgência raramente visto. As metodologias ágeis predominam e a rotatividade de profissionais está gigante, pois antes mesmo de um técnico sentar-se em sua cadeira já recebe uma proposta de salário maior e muitas vezes sai antes de ter realmente entrado.
Neste contexto, é preciso construir relações mais rapidamente, o que tornam a empatia, a capacidade de ouvir e o autocontrole para evitar explosões emocionais fundamentais para o profissional de tecnologia, incluindo aqui técnicos e gerentes. No campo da liderança, há algo mais importante que nunca, a capacidade de engajar pelo propósito. A equipe precisa sentir-se parte de algo maior, estar feliz com o desafio e perceber-se integrante de uma missão, que quanto mais nobre, mais socialmente correta e mais significativa, melhor.
Antes de ir-me embora sem provocações instigantes, o tema, somado a uma passagem da série Salvation, fez-me lembrar de algo que traz um belo debate. Em um dos episódios do mencionado seriado, um dos protagonistas percebe que está com risco de perder sua namorada. Instintivamente começa a fazer algumas perguntas de cunho pessoal e emocional para a TESS, que é um software de Inteligência Artificial – IA. O programa avisa que não tem parâmetros para responder os questionamentos, mas em um momento adiante, TESS agradece por um elogio recebido.
Quanto mais as aplicações de IA avançam, maior a chance de se comportarem de forma parecida com as pessoas. A lembrança que tive foi de uma personagem criada por Isaac Asimov, chamada Susan Calvin, cuja profissão era a de robopsicóloga, em terminologia atual, psicóloga dos softwares de IA. Sendo assim, pergunto para o querido leitor, a interação humana com a Inteligência Artificial é soft ou tech skill?
*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA, Membro do conselho na Oraex Cloud Consulting, ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional e escritor do Livro “O Futuro é analógico”.