Para explicar ao site Terça Livre, do jornalista Alan dos Santos, o contrato de serviços de nuvem que assinou com a Huawei, no valor de R$ 23 milhões, a direção do Serpro acabou se enrolando. Pois mostrou que chegou a avaliar previamente, se tal acordo com uma empresa de tecnologia chinesa não iria ferir os interesses comerciais dos parceiros norte-americanos.
Nunca houve notícia, até agora, de que a compra de um bem ou serviço de TICs por um órgão público ou empresa estatal brasileira passava previamente por uma avaliação política para conferir se desagradaria ou não ao governo norte-americano.
O Serpro acabou de inovar.
E o melhor da história não revelada pelo site Terça Livre, talvez por desconhecimento do organograma da estatal, já que a sua cobertura não é voltada somente para tecnologia: coube à diretoria do general Antonino Guerra (Operações), averiguar se tal acordo comercial com a Huawei não iria ferir tais interesses norte-americanos.
Torre de Babel
Alan dos Santos vem provocando desde ontem uma enxurrada de críticas de bolsonaristas contra o Serpro e o acordo fechado com a Huawei, após postar a informação no Twitter. O assunto se alastrou pelas demais redes, inclusive o Instagram.
Sobrou críticas até para o ministro da Comunicações e do Twitter, Fabio Faria, que apanhou bastante ao tentar responder a Alan dos Santos e depois ficar em cima do muro, quando questionado sobre a presença chinesa na montagem da infraestrutura de rede brasileira para a operação do 5G.
Como em toda rede social, quando um assunto ganha notoriedade, com ela vem também os comentários mais fora de órbita possível. Já teve, por exemplo, internautas acusando o Serpro de estar se preparando para “garantir a eleição de Lula”, porque a estatal “faz o processamento de dados das eleições para o TSE”. O Serpro não processa os dados das eleições para o Tribunal Superior Eleitoral.
Mas a confusão é tamanha, que a notícia veiculada pelo jornalista Alan Santos acabou até unindo os bolsonaristas aos petistas numa campanha contra a privatização da estatal. Coisa que certamente não irá agradar ao ministro da Economia Paulo Guedes.
Na reportagem, o Serpro tentou explicar os motivos da contratação e apresentou cópia de Ata de reunião do Comitê de Auditoria realizado no dia 26 de maio do ano passado, quando o assunto foi debatido internamente. Na Ata, ficou claro que a área de Auditoria estava preocupada, se tal acordo não iria ferir os interesses do governo norte-americano, que na época iniciara um embargo econômico contra a empresa chinesa.
Não consta que a Huawei possa estar tecnicamente ou juridicamente impedida de prestar serviços de nuvem no Brasil por conta de um embargo comercial em solo americano. Aliás, é de se perguntar para a empresa chinesa, se eventual prestação de serviços ao governo brasileiro passaria necessariamente por sua subsidiária nos EUA.
O próprio Serpro em nota oficial enviada ao site Terça Livre foi na mesma direção, dando uma de Ministério das Relações Exteriores, que é o órgão competente para avaliar acordos internacionais:
“Quanto às restrições impostas pelos EUA, o Serpro verificou isso juridicamente. Elas não afetam o Brasil. Novamente, essa empresa opera de acordo com as leis brasileiras, e não há qualquer acusação de má prática no Brasil sobre a empresa brasileira. Finalmente, o Serpro é ele mesmo especialista em segurança da informação”.
O contrato de serviços de nuvem do Serpro com a Huawei é no valor de R$ 23 milhões. Foi assinado no último dia 11 de maio e publicado no dia 19 deste mês no Diário Oficial da União.