Posse na Dataprev sinaliza controle estatal dos bancos de dados federais

O “novo” presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, tomou posse nesta segunda-feira (03), sinalizando que o governo pretende mudar a atual política de governança dos dados estratégicos federais. Como não entrou em detalhes sobre o assunto, deixou margem para dúvidas se a ideia de “reorganizar a infraestrutura nacional de dados” passa pela volta do armazenamento nas empresas estatais, ou se a opção pela nuvem de empresas privadas permanecerá, desde que a gestão fique diretamente vinculada nas duas empresas públicas de TI.

Desde a transição em dezembro do ano passado foi discutida a questão do armazenamento dos dados federais. Uma corrente defendia que essas informações têm que necessariamente serem armazenadas em data centers de empresas públicas. Já outra corrente entendia que o armazenamento dos dados na nuvem de empresas privadas reduziria custos para o governo, desde que a gestão fique exclusivamente com as empresas públicas de TI.

Hoje o governo federal dispõe de duas nuvens, que são formadas pelo Serpro e pela Secretaria de Governo Digital (SGD). Desde o Governo Bolsonaro não está clara a necessidade de o governo ter os mesmos fornecedores de serviços de armazenamento multinacionais em duas nuvens distintas, cuja única diferença sentida está no preço cobrado pelas mesmas atividades que oferecem.

Na primeira hipótese da escolha pela volta do data center, isso levará o governo a gastar pesado com a infraestrutura e criará uma série de atritos com as multinacionais que já prestam os serviços. Já na segunda alternativa, o armazenamento fica na iniciativa privada, desde que os dados não saiam do Brasil, mas a gestão que hoje é feita por empresa privada passaria para o controle estatal.

Nessa segunda hipótese a “nuvem federal” criada pela Secretaria de Governo Digital do Ministério da Gestão, onde está vinculada a Dataprev, sofreria uma mudança radical. Hoje a gestão da nuvem da SGD é feita pela Extreme Digital Solutions (EDS) que atua no papel de “broker”.

Em seu discurso de posse, Rodrigo Assumpção, pareceu estar se referindo à ideia de acabar com o “broker” privado, ao conferir para as estatais a gestão da infraestrutura nacional de dados. Pelo menos foi o que sinalizou ao “parceiro Serpro” a quem ele chamou para trabalhar no “desafio de reorganizar a infraestrutura nacional de dados”. A nuvem do Serpro não conta com um broker privado. Ao contrário a estatal vem se lançando no mercado governamental com essa proposta.

Rodrigo disse que as empresas estatais de TI são as únicas capazes de negociar com o mercado “numa perspectiva de igualdade”, a forma como o país terá um controle efetivo sobre os bancos de dados considerados “estratégicos” para a realização de políticas públicas nos próximos anos. Ou seja, para bom entendedor, a EDS em breve poderá estar fora do negócio, não renovando o contrato com a SGD.

Agenda

Rodrigo Assumpção além de falar da questão dos dados federais, registrou em seu discurso alguns pontos da agenda que pretende trabalhar daqui para a frente, agora que está retornando ao comando da Dataprev. Ele mandou recados para diversos personagens que farão parte do seu dia a dia administrativo.

Fornecedores

O presidente da Dataprev informou que a empresa pretende investir em equipamentos e novas tecnologias e conta com o mercado para isso. Mas avisou de antemão que irá negociar duramente os valores dos contratos para obter preços justos de mercado.

Clientes e Parceiros

Aos clientes do governo em geral ele disse que a Dataprev será parceiro de primeira hora para a execução de políticas públicas:

Fenadados e Sindicatos

Para a base sindical, o presidente da Dataprev estendeu a mão em busca de um diálogo. Rodrigo e os sindicalistas nunca tiveram um bom relacionamento nos anos em que ele presidiu a empresa. Mas com o Governo Bolsonaro e a ameaça da privatização, pela primeira vez abriram um canal de diálogo em defesa da sobrevivência da empresa. Assumpção espera recuperar esse período na sua próxima gestão.

Clientes governamentais

Apesar de não ter contado em sua posse com as presenças dos ministros Carlos Lupi (Previdência) e Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Rodrigo Assumpção, disse que Dataprev jamais irá abandonar seus clientes:

Funcionários

Aos funcionários Assumpção disse que a empresa precisa continuar sendo disruptiva, inovadora e eficiente para enfrentar os desafios futuros. E que a empresa precisa garantir um ambiente de confiança entre cada funcionário. Segundo ela a Dataprev precisa continuar na trilha do bom desempenho e da qualidade dos serviços prestados ao Estado. Pois segundo ele, foi essa imagem de profissionalismo que a estatal construiu ao longo dos anos dentro do governo que impediu que ela fosse vendida à iniciativa privada.

*A imprensa não foi convidada a participar do evento, transmitida pelo canal da companhia no YouTube.