Por Cristián Sepúlveda* – Um tsunami de oportunidades de negócios tem sido um dos efeitos do envelhecimento da população. Nos Estados Unidos, a chamada “Economia Prateada” (Silver Economy) já movimenta mais de US$3,4 trilhões. No Brasil, este mercado cresce a passos largos e movimenta quase R$2 milhões por ano. Se comparada a outros territórios, a América Latina ainda tem uma população relativamente jovem, mas a previsão é de que, nas próximas décadas, a região apresente o maior ritmo de envelhecimento populacional do mundo.
Já não faz sentido falar que o mercado da Longevidade é um setor de nicho. É muito mais que isso – e os números comprovam: hoje, o Brasil tem, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 31,2 milhões de brasileiros com 60 mais. A expectativa é de que, até 2050, um a cada três brasileiros esteja nessa faixa etária, ou seja, mais de 30% da população. Para entender a grandeza desse volume de pessoas 60+ basta dizer que, se esses habitantes formassem um país, ele seria o sétimo mais populoso da América, superior ao Peru, Chile, Venezuela, entre outros.
A economia prateada já tem uma relevância importante nos países da América. De acordo com a pesquisa do World Data Lab de 2020, o Chile movimentou US$53 bilhões e se estima que chegue a US$93 bilhões, até 2030. Colômbia, Argentina e México seguem a mesma trilha, com uma estimativa de crescimento superior a 50% nos próximos oito anos. No Brasil chegou a US$348 bilhões em 2020 e os prognósticos visam atingir US$572 bilhões no final da década.
E, existe uma demanda crescente da população madura; a oferta não corresponde: os sêniores se queixam de que não existem produtos e serviços adequados para eles.
Esse cenário está motivando o nascimento de startups focadas neste mercado – as chamadas Agetech -, que utilizam tecnologia para atender às necessidades dessa população e de quem cuida dela. Quando centradas no ser humano, as Agetech ajudam os seniores a serem mais ativos, autônomos e extrovertidos.
Ao contrário do que geralmente se pensa, as oportunidades de negócios não são apenas voltadas à saúde. O mercado da Longevidade abriga, por exemplo, negócios como tecnologias inteligentes que ajudam a viver melhor em casas e, com isso, ter uma vida mais independente (casas inteligentes, IoT, sensores de segurança); mobilidade e transporte inclusivos que podem proporcionar independência e combatem o isolamento social; nas finanças, negócios como plataformas de emprego voltadas à inserção do sênior ao mercado de trabalho. Outro ponto são oportunidades associadas ao estilo de vida e bem-estar como acesso a programas de exercícios remotos, wearables, monitores de atividades e saúde mental.
Destaque também para os negócios que auxiliam na comunicação e os relacionamentos, como é o caso da tecnologia, que está ajudando este grupo etário a manter o bem-estar físico e emocional. Todos esses são só alguns exemplos das oportunidades no setor.
Vários exemplos de negócios bem-sucedidos com Agetech comprovam a abundância de oportunidades nesse mercado. Uma delas é a Great Call, adquirida por US$ 800 milhões pela BestBuy. E a Pillpack, uma farmácia on-line, comprada pela Amazon por US$1 bilhão.
Outras startups que trilham um caminho exitoso são a Homage, que opera em Cingapura e na Malásia e que planeja se expandir para mais cinco países nos próximos dois anos. Para avaliar os cuidadores e colocá-los em contato com os pacientes, a plataforma constrói um perfil de cada profissional. Estes dados são disponibilizados por um mecanismo de correspondência que torna o processo de localização de cuidadores mais rápido e seguro para familiares e pacientes.
Há também startups atentas às mudanças nas estruturas familiares. É fato que os seniores têm se tornado cada vez mais isolados, um problema difícil para a tecnologia resolver, mas o Papa, uma plataforma de assistência e companhia para maduros sob demanda, mostra que lidar com a solidão entre os sêniores pode se traduzir em um modelo de negócios promissor. A startup, com sede em Miami, opera atualmente em 27 estados e anunciou, recentemente, que levantou US$ 150 milhões em financiamento da Série D – liderado pelo SoftBank Vision Fund 2 -, apenas sete meses após a Série C de US$60 milhões.
Enquanto isso, no Reino Unido, a Birdie está desenvolvendo ferramentas de software para apoiar os prestadores de cuidados, incluindo aquelas que reduzem custos administrativos e permitem check-ins de cuidadores em tempo real, além de notificações relacionadas a medicamentos. O objetivo da startup é oferecer cuidados mais personalizados e preventivos para que os maduros possam viver em suas casas por mais tempo, à medida que envelhecem.
A Lyft, uma empresa norte-americana de caronas compartilhadas, lançou um projeto de serviços de transporte para maduros.
GetSetUp é uma das maiores comunidades digitais para seniores aprenderem, compartilharem e socializarem. Desde sua fundação, em 2019, já alcançou mais de 4 milhões de maduros de 160 países. Recentemente, captaram US$10 milhões, chegando ao total de US$20 milhões.
Fundada no final de 2018, a Bold é uma plataforma digital de exercícios físicos que fornece planos de treino personalizados e com base científica, para melhorar o equilíbrio, a força e a mobilidade – a combinação certa para manter independência nas atividades diárias e na prevenção de quedas.
Em 2020, um levantamento feito pela PipeSocial – vitrine de negócios de impacto do Brasil – mapeou 343 startups que desenvolvem produtos e serviços para o mercado da longevidade. Pelas mudanças sucessivas que este mercado experimenta, espera-se que este número aumente significativamente nos próximos anos.
Para ajudar a desenvolver este mercado ainda incipiente, foi criada a Silver Hub, a primeira aceleradora de startups na América Latina para o mercado da longevidade, com mentoria e investimentos voltados às Agetech, auxiliando-as desde o early stage até a consolidação no mercado.
A Silver Hub lançou um novo edital para selecionar startups adequadas ao propósito de inovação de soluções e produtos para o público sênior, que vai até o dia 30 de setembro. Terão prioridade as startups que tenham base tecnológica, potencial de escala e que estejam faturando. O edital pode ser acessado na página da Silver Hub.
*Cristián Sepúlveda – CEO da Silver Hub.