O astronauta Marcos Pontes disse hoje (06/10) na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações foi “voto vencido” na reunião do PPI – Programa de Parcerias de Investimentos, do Ministério da Economia, que decidiu pela extinção da Ceitec.
Há registros oficiais que mostram que o MCTI não foi um defensor do modelo de empresa estatal, não confrontou o Ministério da Economia, que queria extinguir a Ceitec e, se possível, vender o que fosse aproveitável dela para a iniciativa privada (equipamentos e a sala limpa).
A proposta do MCTI discutida em reunião do conselho do PPI, cujo relatório final é público, mostra que o ministério agiu no sentido de vender a empresa inteira ou pelo menos parte do controle dela. Em nenhum momento portanto o ministério se posicionou “contra” a extinção ou pela manutenção dela como estatal. Nem agora, em meio à crise dos semicondutores. O único interesse concreto do ministério tem sido no sentido de ficar com a administração do legado intelectual da estatal (patentes produzidas pela Ceitec).
O Ministério da Economia decidiu extingui-la na época, sob alegação de que não havia no mercado ninguém interessado em comprá-la. O que agora não parece que também seja a verdade.
A questão da extinção da Ceitec foi levantada hoje pelos deputado Milton Coelho (PSB-PE) – autor do requerimento de audiência pública – e Bira do Pindaré (PSB-MA).
Os dois parlamentares forçaram o ministro a falar o motivo de o MCTI estar apoiando a extinção da Ceitec, num momento em que há uma crise mundial de semicondutores e já atingiu o setor automotivo brasileiro. Pontes simplesmente negou que a sua pasta tenha concordado com a decisão tomada pelo PPI.
Obsoleta?
Marcos Pontes ainda disse que os equipamentos da Ceitec são obsoletos e que ninguém que comprasse a empresa poderia aproveitá-los em alguma coisa. Isso não é verdade.
A Ceitec é a única fabricante de semicondutores na América Latina capaz de resolver hoje a demanda do setor automotivo. Pelo menos é a única que dispõe da infraestrutura fabril montada para isso.
O maior problema das montadoras de automóveis está justamente na falta de um fabricante nacional que seja capaz de produzir chips na faixa de 180 nanômetros a 7-5 nanômetros.
A Ceitec tem essa capacidade, mas desde que entrou em processo de extinção deixou de poder operar no mercado, mesmo que fossem necessários alguns ajustes.
O mesmo caso se aplicaria também para os fabricantes de infraestrutura de redes 5G, um grande negócio que a Ceitec poderia vir a reinar absoluta com a fabricação de chips dessa espessura, que seriam aplicáveis nessa indústria eletroeletrônica. (Não se trata de chips para fabricantes de celulares cuja tecnologia é mais cara e inexistente no Brasil, mas de equipamentos de rede, que fique claro).
Talvez essa situação explique o interesse tão grande e a cada dia que passa mais evidente da parte da Abisemi – a associação que reúne as empresas privadas de semicondutores – de ver a estatal extinta.
Como essas empresas não atuam no “front-end” da área de semicondutores que é a fabricação dos chips (apenas fazem o desenho e encapsulamento deles), a possibilidade de comprar uma fabrica estatal inteira no Brasil e a preço de banana, como se estivessem fazendo um “favor” ao governo por ficar com um suposto “lixo tecnológico”, tornou-se imperativo para elas.
* Isso mostra o tamanho da sabotagem que vem sendo feita contra o contribuinte brasileiro que investiu na Ceitec. E há dentro do governo quem apoie tal iniciativa, seja por desconhecimento e ignorância ou então por má-fé.