A desestatização não acabou

Engana-se quem pensa que o processo de privatização ou desestatização passa pela simples venda de ativos do Estado. Há outras formas de se transferir atribuições estatais para a iniciativa privada e este processo continua em curso e com êxito, mesmo num governo com viés de esquerda como o Lula 3.

O caso do Serpro que eu já publiquei é exemplar, não vou voltar à essa discussão.

Mas alerto aos que pensam que o problema da venda acabou. Num futuro não muito distante, quando essas empresas públicas estiverem impregnadas de “parceiros privados” prestando serviços como subcontratadas, enquanto elas só administram contratos, chegará o momento em que o governo irá parar e pensar: para quê precisamos das estatais?

O presidente

Quem olha as redes sociais do Serpro acredita que o presidente da estatal é Alexandre Amorim. Mas quem assiste aos principais eventos de governo, descobre que o cargo está sendo ocupado pelo diretor de Relacionamento com Clientes, André de Cesero. Até quando o ministro da Fazenda vai falar com a imprensa quem representa o Serpro, sabe-se lá para quê, é o diretor. Já que é assim, André de Cesero deveria assumir logo o cargo e Amorim colocar o currículo no LinkedIn.

Moicano

Prometem para essa semana que se inicia a posse do novo diretor de Desenvolvimento do Serpro, Álvaro Cavalcante Reis. Foram só oito meses de espera para saber quem iria ocupar o cargo. Espero que realmente isso ocorra. Do jeito que a coisa anda por lá, se passar dessa semana Alvaro não terá nem secretária para lhe dar bom dia quando assumir o cargo.

Salve o meu cargo

Aprendam como se consegue um cargo de diretor no Serpro: 1 – não esqueçam de criar uma campanha contra privatizações paga pelos colegas de trabalho. 2 – façam um “churrasco da vitória” para angariar apoios internos e externos. 3 – por último, mas não menos importante, chamem Devi Kuhn para ser o “cabo eleitoral”. Se não der certo tentem ser diretor na Dataprev. Lá aceitavam qualquer um.

Visões diferentes

Se bem entendi do que pude ver e ouvir nas recentes manifestações públicas de Mariana Mazzucato e Evgery Morozov em palcos de discussões brasileiros sobre o futuro econômico do país, ela defende a presença do Estado como incentivador e financiador de projetos da iniciativa privada, que eu costumo chamar de “capitalismo sem risco”. Se der certo o setor privado fica com o lucro. Já se der errado, o prejuízo é repassado para o Estado e quem estiver comandando ele ainda correrá o risco de ver os mesmos pilantras defendendo um golpe.

Já Morozov entende que o Estado têm compromissos que não pode abrir mão em nome do bem estar de sua população, sob pena de tornar-se dependente da iniciativa privada e do que vier de fora. Deixou claro que as bigtechs estão aprofundando essa dependência tecnológica. No Brasil até já são “parceiras” do Estado, entrando pela janela com contratos superfaturados supervisionados pelas próprias empresas estatais.

Resta saber para quem a esquerda brasileira irá tirar o chapéu. Hoje eu vejo duas correntes disputando a tapa essa questão dentro do Governo Lula 3.

Já que estará lá

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, pretende mandar para a Coreia do Sul uma equipe que terá como missão estudar o modelo de financiamento do setor cultural coreano. Bacana, mas já que essa turma estará lá, por que não aproveita a oportunidade e “estuda” também o modelo de financiamento estatal do setor em microeletrônica? Isso iria ajudar o MCTI a tomar uma decisão quanto ao futuro da Ceitec, a única fábrica de semicondutores brasileira que vive ociosa por falta de decisão política do governo.

Anaplay

Bacana essa iniciativa da TV Globo, de criar um posto avançado dentro da Anatel através de um centro de monitoramento contra a pirataria de set-top-boxes. Um investimento pra lá de importante que o Estado está bancando, para combater essa cambada de favelados brasileiros que não querem pagar o sinal fechado da emissora. Mas não pensem que parou por aí. Em breve a Anatel também irá anunciar o seu “AnaSearchConsole” – que visa monitorar as bigtechs na Internet e a “AnaPD” – um núcleo para verificar se as teles cumprem a LGPD.

*O ponto alto será quando a Anatel lançar o seu “Centro Orbital Musk”, que visa monitorar os satélites de baixa órbita alugados a preço de ouro pelo governo, para conectar esses índios chatos, que insistem em morar em suas áreas isoladas no interior da Amazônia.

Recorde ou réquiem

Em todos os anos de cobertura que tenho do governos, nunca vi um ministro das Comunicações sofrer tanto bombardeio midiático como Juscelino Filho. Em oito meses na pasta ele não teve paz um dia sequer. O curioso é que até agora não há nenhum registro de corrupção contra ele no ministério. Somente o que já se tornou uma praga institucional em governos: o uso de jatinhos para compromissos particulares. O resto é processo contra ele – em alguns casos bem questionáveis – nas atividades parlamentares. Mais uma vez ele atravessará a semana com a espada na cabeça. Resta saber se Lula vai contrariar o padrinho de Juscelino: o senador Davi Alcolumbre (União-AP).

Reciclagem de notícia

Definitivamente este governo tem necessidade de apresentar algo que é seu. Mesmo que só tenha oito meses e pouco de vida.

A mais nova pérola da desinformação foi anunciar recursos para infovias no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que já estão previstos desde o leilão do 5G.

Aliás, Juscelino Filho adora fazer recauchutagem de informação no Ministério das Comunicações. Resta saber quanto paga para agência de publicidade produzir essa cascata.

Cientistas aloprados

Os sindicalistas da Ciência não conseguem produzir uma única nota oficial que seja no mínimo crível, dígna de ser lida, com base em dados concretos ou pareceres técnicos. Essa da imagem aqui é mais uma pérola.

Conselho nenhum de ministério na face da Terra define quanto quer gastar de recursos do Orçamento Geral da União. Pode pedir, trabalhar politicamente para depois receber. E decidir dentro daquilo que recebeu, como vai executar esse orçamento. Mas elaborar a proposta orçamentária para o ano seguinte definindo quanto de dinheiro quer receber da União nem a pau, Juvenal. Isso é competência da Secretaria de Orçamento Federal e caberá à ela definir se vai dar ou não o que esse setor quer.

Se como eles dizem em nota oficial isso foi aprovado pelo Conselho do FNDCT, desafio a mostrar a Ata da reunião que convalidou a elaboração desse orçamento e a distribuição dos recursos não reembolsáveis.

Aliás, será a primeira Ata que conhecerei em vida, que tenha sido assinada e publicada oficialmente por essa turminha. Tudo que está ali na nota oficial não passa de cascata, de pura conversa fiada. Apresentem a Ata que convalidou os percentuais de investimentos do FNDCT!

*Esses sindicalistas/cientistas não sabem fazer outra coisa na vida que não seja pedir dinheiro e emitir nota oficial contra governos do PT. Sim, porque contra o Governo Bolsonaro essa tucanada enrustida ficava calada. Mal e porcamente de vez em quando reclamavam do ministro Paulo Guedes. Se pelo menos mostrassem para quê querem o dinheiro e em quê vão gastá-lo, além da Taurus e do Magazine Luíza…