
A rápida expansão dos data centers no Brasil começa a impor desafios inéditos ao setor elétrico. Em apresentação recente, o diretor da CPFL Energia, Luiz Henrique Ferreira Pinto, afirmou que o crescimento exponencial dessas cargas já está “extrapolando o ambiente de distribuição” e deve ser tratado como estratégia de país, com uma política pública clara para garantir infraestrutura e potência suficientes.
O peso da CPFL
A CPFL está presente em 11 estados brasileiros, com geração, transmissão no Sul e quatro distribuidoras — três em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul — atendendo 10,5 milhões de consumidores. Segundo Henrique, a característica da distribuição no Brasil é absorver demandas de até 100 MW. Acima disso, a conexão precisa ser feita na rede básica, exigindo planejamento e investimentos de maior porte.
“Essas cargas que estão chegando não são pequenas. Estamos falando de potências vultuosas, incompatíveis com a lógica tradicional da distribuição”, destacou.
A velocidade dos data centers
O dirigente explicou que a CPFL já recebeu solicitações que somam 8 GW de data centers apenas em duas distribuidoras do interior paulista. Do total, 306 MW já estão em operação, e outros 528 MW estão contratados e em obras, o que equivale a quase triplicar em três anos o consumo da cidade de Campinas, que levou um século para atingir seu atual porte.
“Um data center pode começar com 50 MW, mas rapidamente cresce para 100 ou 200 MW. A expansão é modular e veloz, muito mais rápida do que os prazos de construção de linhas de transmissão”, disse.
Henrique alertou ainda que a crença de que esses empreendimentos possuem carga “flat” já não corresponde à realidade. Com a adoção de inteligência artificial, eles apresentam rampas bruscas de variação de potência, o que exigirá baterias locais e grandes plantas de armazenamento para estabilizar o sistema.
Gargalo estrutural e necessidade de coordenação
A expansão das cargas ocorre em um cenário já complexo. O Brasil viu crescer, nos últimos anos, a geração renovável concentrada nos extremos do país (Nordeste e Sul), enquanto o principal centro de consumo permanece no Sudeste. Além disso, a mini e microgeração distribuída intensificou a intermitência dentro das áreas urbanas.
“Para estabilizar o sistema, será preciso acelerar a construção de interligações e reforçar a rede básica. O problema central não é apenas energia, é potência: capacidade de infraestrutura para suportar a carga no local certo”, explicou.
Planejamento e política pública
A CPFL defende que o Brasil adote uma estratégia coordenada, envolvendo governo, ONS e EPE, para direcionar a instalação de data centers em locais previamente planejados — os chamados hubs de potência.
A proposta inclui identificar pontos de rede com disponibilidade, antecipar obras de reforço e oferecer previsibilidade tanto para investidores do setor elétrico quanto para as big techs. “É preciso combinar política energética, infraestrutura elétrica e conectividade. Só assim poderemos atender essa demanda com equilíbrio, sem transferir custos excessivos para a tarifa dos consumidores”, disse Henrique.
Oportunidade global
Henrique destacou que o Brasil, com sua matriz predominantemente renovável, tem uma vantagem competitiva única diante de um mundo ainda dependente de carvão, gás e nuclear. “Para o Brasil, os data centers são uma oportunidade. Mas, para os data centers, o Brasil também é uma oportunidade. O mundo não tem energia limpa com essa potência disponível”, afirmou.
Para ele, a janela de oportunidade é estreita: “O planejamento precisa ser rápido e a execução mais rápida ainda. Estamos falando de investimentos brutais, que só se viabilizam com previsibilidade e segurança regulatória.”
Luiz Henrique participou do workshop “Horizonte Renovável: A era dos Data Centers no Brasil”, promovido pela Aneel.