O professor de Economia da Universidade de Brasília e ex-Vice-Presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, criticou ontem (04), na audiência pública da Comissão de Indústria Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados, o novo Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC) instituído pela Lei 14.990 de setembro deste ano. Deixou todo o setor irritado, porque esperavam conseguir apoio do Congresso para arrancar mais dinheiro público para implantação da indústria, além da construção dos novos data center “ecológicos”, previstos pelo Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
Para o economista, os data center já foram grandes causadores de desastres ecológicos e o país está na contramão de outros estados que abandonaram a ideia de investir recursos públicos nessas unidades. “Não tem contribuição nenhuma para as economias. Não é por outra razão que governadores dos Estados Unidos estão agora rechaçando a colocação de data center. São os Americanos que estão fazendo isso, não são os brasileiros”. Segundo ele, essa postura também vendo sendo vista em países como a Coréia do Sul, Austrália e Cingapura.
“E nós no Brasil embarcando na agenda de data centers como se fosse a solução para todos os males. Não criam emprego, não pagam imposto, não tem jurisdição nacional, consomem muita água e muita energia. Como justificar isso?”, afirmou o economista.
Exportações de hidrogênio
“As plantas de hidrogênio só são viáveis do ponto de vista econômico/financeiro, quando o comprador desse hidrogênio é vizinho (…) outra coisa, toda essa história de que a gente vai produzir hidrogênio para exportação é muito boa, mas precisa de alguém que compre esse hidrogênio”, destacou Jorge Arbache na audiência da Câmara, para uma platéia de executivos de cara aamarrada com as declarações dele.
O professor disse que a ideia de se ter como estratégia as exportações da produção do hidrogênio para a Europa é temerária, porque existem outros projetos em andamento no Norte da África e Oriente Médio mais próximos dos países europeus. Que futuramente poderão financeiramente interessar mais aos países daquele bloco, devido a distância ser menor e impactar menos no custo do transporte (será levado através de tubulação).
Além disso, na visão do especialista, o Brasil está subsidiando com créditos tributários, os interesses de empresas uropéias, sobretudo, as alemãs, que desejam que o país produza para elas o hidrogênio. De acordo com a Lei nº 14.948/24; entre 2028 e 2032, os créditos fiscais serão limitados aos seguintes valores globais para cada ano-calendário:
I – 2028: R$ 1.700.000.000,00 (um bilhão e setecentos milhões de reais);
II – 2029: R$ 2.900.000.000,00 (dois bilhões e novecentos milhões de reais);
III – 2030: R$ 4.200.000.000,00 (quatro bilhões e duzentos milhões de reais);
IV – 2031: R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos milhões de reais);
V – 2032: R$ 5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais).
“Estão vendendo sonho, fumaça”, disse ele sobre a decisão brasileira de subsidiar a indústria. Para Arbage, essa foi a forma encontrada de contornar o problema, pelo fato de não conseguirem financiamento bancário para instalação dessa indústria. As instituições financeiras alegam riscos concorrenciais e o fato dos contratos neste setor não serem de longo prazo, como empecilhos para não emprestarem o dinheiro.
A audiência transcorria bem, em clima de harmonia nas opiniões dos convidados, até que Jorge Arbage decidiu criticar toda a política brasileira para produção de hidrogênio. Executivos de alto escalão das empresas, como o CEO da thyssenkrupp, Paulo Alvarenga, que passou pela comissão, ficaram constrangidos com o discurso do economista da UnB. Ninguém conseguiu disfarçar o descontentamento, pois não esperavam pelas críticas do professor da UnB.
Como foi o caso de Fernanda Delgado (loira de óculos na parte direita da foto), presidente-Executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde – ABIHV. Entidade que defende no Congresso Nacional que o Estado banque a conta da implantação da indústria de hidrogênuio no Brasil, mesmo que a produção seja para atender em grande parte aos interesses da indústria alemã ou européia.
Participaram da audiência:
PATRICIA NACCACHE MARTINS DA COSTA
Coordenadora-Geral de Energias e Tecnologias de Baixo Carbono e Inovação
Ministério de Minas e Energia – MME;
DAVI BOMTEMPO
Superintendente de Meio Ambiente e Sustemtabilidade
Confederação Nacional da Indústria – CNI;
JORGE BOEIRA
Analista de Inovação e Produtividade da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI;
MARISETE FÁTIMA DADALD PEREIRA
Diretora-Presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica – ABRAGE;
JORGE ARBACHE
Professor de economia da Universidade de Brasília e Ex-Vice-Presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina – CAF;
ROSANA SANTOS
Diretora Executiva do Instituto E+ Transição Energética;
FERNANDA DELGADO
Presidente-Executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde – ABIHV;
MARCELLO CABRAL
Diretor de Novas Tecnologias da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias -ABEEólica
ANDRÉ PASSOS CORDEIRO
Presidente-Executivo da Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM
ALEXANDRE VAZ CASTRO
Presidente do Conselho Regional de Química da 21ª Região, CRQ XXI/ES
ADALBERTO TEOGENES TAVARES JÚNIOR
Gerente Interino do Centro de Tecnologias de Hidrogênio da Itaipu Parquetec
*Fotos do Paulo Alvarenga: Tânia Meinerz/JC. Imagens da audiência extraída da página da Câmara dos Deputados no YouTube.