É papel da ANPD fomentar a indústria do pânico?

Mais uma vez ressurge da cinzas a famosa “PSafe” com uma notícia bombástica, que abala todo o mercado de segurança da informação: um “site público” (?) teria uma relação de “426 milhões de informações pessoais e 109 milhões de dados de CNPJs e placas de veículos no Brasil”.

E mais: encaminhou relatório para a ANPD e esta confirmou que recebeu, mas não disse o que irá fazer com ele.

É curioso como somente a PSafe volta e meia vem ao mercado espalhar a mesma informação que já foi espalhada por ela meses atrás. E mais uma vez encontra uma página conceituada de notícias disposta a propagá-la, sem sequer se dar ao trabalho de verificar se tais números não estariam surpreendentes demais.

426 milhões de informações pessoais? O que isso significaria?

Temos no Brasil 223,8 milhões de CPFs ativos, segundo a Receita Federal informou no ano passado ao Tribunal de Contas da União. E o fisco acabou levando um puxão de orelhas, com determinação para corrigir essa informação. Pois o tribunal verificou que no IBGE a população brasileira estaria em torno de 211,8 milhões. Ou seja, tem mais CPF do que pessoas, só uns 12 milhões à mais.

Pior: desse volume total constariam uns 3 milhões de CPFs ativos de gente que já morreu e pelo menos uns 78 mil CPFs ativos de pessoas que hoje teriam mais de 110 anos de idade.

Ainda que considerando que tais informações sejam fidedignas, seria preciso saber como toda a população brasileira e mais 12 milhões de pessoas que estão à margem das estatísticas do IBGE, acabaram virando contribuintes do Imposto de Renda da Pessoa Física do dia para a noite, sendo que apenas 32,6 milhões efetivamente apresentaram a declaração.

Alguém está sonegando, não?

E as demais informações pessoais? O que são? Não se tem a menor ideia, mas até a renda estaria sendo informada.

Opa! mas isso não vem de operadora de telefonia ou do governo, que detém bancos de dados específicos com essas informações? Mais uma vez tudo está cercado de sigilo e mistério.

Temos ainda outros números confusos: 109 milhões de informações de dados de CNPJ e placas de veículos.

Também segundo os dados da Receita Federal, temos em torno de 19 milhões de empresas cadastradas no fisco. Já sobre as placas dos veículos, se computados apenas os automóveis, temos em torno de 58 milhões emplacados no Brasil, de acordo com os dados da frota brasileira colhidos na página do Ministério da Infraestrutura. Ou seja, estão faltando em torno de 32 milhões de veículos emplacados.

Seriam o quê: caminhões? carroças? caminhonetes? motocicletas?

Ninguém sabe, pois mais uma vez foi jogada a informação sem nenhuma checagem de ninguém. Apenas fica valendo o que a PSafe diz e o que a ANPD confirma.

1 – Afinal de contas, quem é o interessado na Autoridade Nacional de Proteção de Dados em divulgar que recebeu a informação da PSafe, mas não vem depois à público dizer o que fará com ela?

2 – É papel institucional da ANPD sair investigando sites na Internet que divulgam listas de informações pessoais de brasileiros?

3 – Quando essa PSafe será chamada para explicar seu comportamento no mercado, espalhando pânico com listas de informações que ninguém viu e ninguém pode atestar a autenticidade delas?

4 – Qual o Objetivo financeiro desta PSafe? Quer ser contratada pelo governo através da ANPD para ficar rastreando páginas clandestinas na Internet? Por quanto?

5 – Por fim: por que o mercado de Segurança da Informação, que tem visto esse comportamento de uma concorrente, não vem à público apoiar ou condenar tal procedimento?

*A PSafe está convidada a explicar aqui o seu comportamento.