Por Sigmar ‘Sig’ Frota* – Oeste do meridiano de Greenwich, Sul da linha do Equador, continente americano; a Terra Brasilis é região pra lá de conectada no Anno Domini 2019. Detalhes a parte, é fato que aplicativos de mensagens, redes sociais e smartphones top de linha são um sucesso e realizam as, agora, essenciais conexões entre o que é notícia e os habitantes dessa terra. Conectadérrimos, diria o músico Lobão, em um superlativo que define bem o brasileiro digital.
Dentre as belezas e peculiaridades da alma conectada do povo dessa terra, um aspecto sobressai: sob o poder de genótipo dominante, em desejo de ser politicamente correto e gentil com todos, a maioria “do povo” acaba adicionado como participante compulsório de um “Grupo de Família” ou “Grupo da Firma” ou dos “Vizinhos & Churrasqueiros do Bloco A”.
Na sequência, como efeito colateral de compulsória adição, essa gente boa e pacífica da terra fica exposta e passa a receber todo tipo de saudações desnecessárias de “Bom Dia!”, textos e orações dos mais diversos tipos e crenças, imagens e piadas de gosto duvidoso, correntes tipo “não quebre: compartilhe agora com 10 amigos.”, tretas cabulosas do mundo da TV e da política produzidas na base por exageros, extravagâncias, incorreções e inverdades de todo tipo e tamanho. Bem-vindos às nascentes turvas das Fake News.
#Boralá: eu tenho 35 anos (…and counting) de atuação profissional em ambientes de marketing, comunicação e tecnologia. Com tal Skin in the Game, deveria passar ao largo e ser só um observador do fenômeno. É, deveria, mas não sou. As razões são pessoais e eu explico: é que a minha mãe, já na faixa etária dos 80 plus, faz parte de grupos de mensagens formados por uma galera alvissareira, impressionável e bem crédula em tudo que recebe por lá. Além disso, essa senhora é integrante ativa e atenta a tudo nos seus grupos. Assim, volta e meia, ela me chama no privado do Whatsapp, manda um link ou texto e dispara aquela pergunta em tom que só mãe sabe fazer: “Filho, não quero te incomodar. Mas olha aqui essa notícia que recebi. Vou compartilhar…Será que é Fake? ”. Em 99% dos casos eu respondo: “Sim, mãezinha… é Fake News, mamãe!”. Confesso que, sendo filho tipo old school, putz… eu fico p…. (preocupado) em saber que minha mãe vem sendo enganada todos os dias pelo que vê e consome como informação e notícia produzidas como fáticas e verdadeiras na internet.
Pelo gráfico (abaixo) parece que não é preocupação apenas lá em casa: o Brasil é o país que reúne a maior concentração de usuários digitais preocupados em saber o que é real ou fake na internet.
Considere também o dado sobre o período de 2013-2018; no qual o Brasil aparece como o país de maior percentual de consumidores de notícias que têm nas mídias sociais a sua principal fonte (abaixo).
Longe de mim, aqui nesse curto post e apenas com os dados acima, querer desvendar o poder da isca poderosa e efetiva embarcada no fenômeno Fake News – que fisga a minha mãe, a sua mãe, amigos, vizinhos, primas, primos, tias e tios do Whatsapp Brasil afora. Estou interessado em algo fundamental da coisa.
Com isso em mente, eu destacaria um detalhe essencial presente nessa efetividade: o poder das Fake News tem muito a ver com o modelo de negócios em uso entre produtores de notícias e informações – sejam mainstream, alternative, indie ou underground – , uma vez que todos, diferenciados apenas no grau, se baseiam no motif de “vamos produzir notícias, excitantes e gratuitas para acesso: em troca o leitor nos dará sua atenção cada vez mais escassa.”.
Embora efetivo, esse é um modelo viciado e desonesto em sua essência. O mecanismo em curso se alimenta da atenção humana como recurso mais escasso; e quem tem um negócio de notícias se empenha mais e mais na competição pela atenção humana com produção de notícias cada vez mais empolgantes – desenhadas com “gatilhos” ou “enquadramentos” engenhosamente dispostos por especialistas em excitar nosso cérebro na construção da notícia, para nos fazer clicar (ou assistir) essa e a próxima … e a próxima.
Nesse modelo prevalece a excitação que captura a atenção. E segue a construção do loop com excitação, atenção… again…excitação, atenção… one more time… excitação, atenção. Porém, a verdade do fato fica completamente de fora.
Ela não está no loop. Ela não faz parte do modelo. Ela não contribui com o mecanismo.
É pra pensar. Bora pensar… 😉
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* Sigmar ‘Sig’ Frota é profissional de TIC com mais de 30 anos de atuação nas áreas de Vendas, Marketing e Comunicação em ambientes corporativos. Mantém-se em constante movimento na forma de um baby boomer digital e molda seu mindset pela máxima …”os únicos dinossauros não extintos foram os que entenderam que um meteoro gigante mudou tudo… e que não havia alternativa a não ser : (a) diminuir muiiiito seu tamanho e (b) criar penas.” . #BoraVoar #BoraCorrer