Por Rogério Pires* – Os dados são considerados hoje um dos principais ativos de uma companhia. Isso porque ajudam a melhorar a operação em diversos aspectos, como identificar riscos e oportunidades e, principalmente, tomar decisões estratégicas. Alguns setores da economia já perceberam a importância desse tema para o sucesso dos negócios, como o varejo, e por isso são bastante proativos no uso inteligente dos dados. Na saúde, porém, isso infelizmente não é a realidade de muitas instituições.
No segmento varejista, o uso de dados de forma estruturada e integrada tem auxiliado as marcas a aumentarem suas vendas, otimizarem suas operações, fidelizarem clientes e construírem estratégias de negócios mais efetivas. Com o avanço da digitalização, o setor compreendeu a necessidade de buscar plataformas de inteligência de dados que ajudem a entender toda a jornada do cliente, personalizando as ofertas e a comunicação para se relacionar com o consumidor em múltiplos canais.
Enquanto isso, o segmento da saúde vive uma realidade bastante diferente. Apesar de estar avançando no processo de digitalização de forma geral, o setor ainda não atingiu um nível de maturidade em relação à inteligência de dados com foco em aprimorar a experiência do paciente. Isso acontece devido à falta de uma cultura de dados mais efetiva nas instituições de saúde, combinada com a dificuldade de integração entre os diferentes sistemas que rodam nessas organizações.
Para superar esses desafios e transformar essa realidade, destaco que a saúde pode – e deve – aprender com o varejo. Vejamos alguns exemplos: os varejistas já entenderam que o uso de dados do histórico dos seus consumidores auxilia em recomendações personalizadas de compra e na personalização de ofertas. Gigantes do e-commerce, como a Amazon, já utilizam essa estratégia há anos para oferecer uma experiência de compra mais satisfatória e fluida para seus consumidores.
Fazendo um paralelo com o setor de saúde, os dados e o histórico do paciente podem auxiliar no aprimoramento do serviço oferecido. O uso inteligente de dados é muito importante, por exemplo, para trazer fluidez para a jornada de saúde do paciente. Enquanto no varejo o consumidor é conhecido pela marca independente do canal onde esteja (loja física, e-commerce, redes sociais), num laboratório de exame na maioria das vezes o paciente precisa dar todos os seus dados para agendar o exame, depois fazê-lo novamente para abrir a ficha no local – e se ele voltar outras vezes a este mesmo laboratório, terá que repetir o processo de novo! Ou seja: pouquíssima integração, ou intraroperabilidade, dos dados em uma mesma instituição.
Além disso, o uso de dados também pode contribuir para o fomento e avanço da medicina preditiva, que busca compreender a probabilidade de uma pessoa desenvolver certa condição de saúde e, assim, reduzir potenciais gastos associados com tratamentos.
Outra estratégia da abordagem de dados que se destaca no varejo são as comunicações personalizadas. No que tange à área da saúde, por meio do histórico do paciente é possível promover uma comunicação mais humana e individualizada. Entre os exemplos está o envio de informativos de prevenção a doenças crônicas para pacientes que tenham maior propensão a desenvolverem aquela enfermidade, além de lembretes de exames e sugestões de hábitos saudáveis adequados a cada paciente de acordo com seu histórico de acompanhamento e pedidos médicos.
A inteligência de dados também é amplamente utilizada no comércio para a gestão e a integração de diferentes canais de venda, auxiliando em processos como controle de estoque, logística e gestão de custos. No caso da saúde, os dados podem auxiliar na gestão estratégica de recursos das instituições, como o melhor aproveitamento e distribuição de leitos, medicamentos, vacinas e até profissionais, representando assim uma ferramenta poderosa para momentos de alta demanda, como em cenários de surtos de doenças.
Por fim, o varejo tem usado a análise de dados para mapear tendências e hábitos dos consumidores. O que poderia ser replicado na saúde para antecipar e mapear possíveis surtos e epidemias e, assim, tomar todas as medidas necessárias para preveni-las ou amenizar seus impactos sobre a população. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu já uma ferramenta para detecção precoce, verificação, avaliação e comunicação de ameaças à saúde pública, a partir da inteligência de dados obtidos a partir de fontes públicas de informação.
Enfim, o uso inteligente dos dados, respeitadas todas as regras da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), representa a melhor alternativa para o setor de saúde buscar formas de otimizar processos e custos, oferecendo uma experiência melhor para todos os usuários, sejam eles os profissionais de saúde e, sobretudo, os pacientes.
*Rogério Pires é diretor de produtos para Saúde da TOTVS.