Telebras completa 51 anos e projeta crescimento. “O céu é o limite”, diz presidente da estatal

A Telebras completou 51 anos hoje com solenidade no auditório do Ministério das Comunicações e alguns recados ao mercado de Telecomunicações. O mais importante: a empresa estatal não almeja criar uma competição com as empresas privadas. Segundo o presidente da estatal, Frederico (Fred) de Siqueira Filho, o que a Telebras deseja é formar novas parcerias com o mercado e está aberto a propostas. Também reforçou a posição política da empresa, de que a competência legal para gerir a futura rede privativa do governo é dela. Mas buscará ouvir o mercado por soluções que possam contribuir com o desempenho desse papel.

Em seu discurso por ocasião da comemoração do aniversário da empresa, Fred destacou que não se deve mais fazer perguntas se a Telebras é viável ou não. “Essa pergunta devia ter sido feita lá atrás. A pergunta hoje é: o que é que preciso para a Telebras ser viável”, destacou. Para isso, disse que a estatal vem conversando internamente no governo sobre uma série de projetos que irão assegurar o equilíbrio financeiro, gestão de custos, tornando-a lucrativa; além de uma atuação com crescimento sustentável na prestação dos serviços de infraestrutura de rede governamental.

No discurso, o presidente da Telebras não escondeu o quanto a empresa vem sofrendo pressões externas para não poder se viabilizar no mercado de Telecomunicações. “O ministro Juscelino (Filho) é o grande apoiador e o grande sonhador comigo em todos os projetos que a gente está enfrentando. A luta não tá fácil. Mas a gente sonha alto e tem uma equipe extremamente capacitada para entregarmos aquilo que estamos propondo”, afirmou.

Uma das apostas dele será no data center que a empresa disponibilizará a todos os interessados (públicos ou privados, inclusive internacionais), cuja capacidade, disponibilidade e segurança oferecida pela empresa são características que podem atrair novos negócios. “A empresa depois de 51 anos se reinventa. A gente está trabalhando um novo portfólio da companhia. Conectividade é um meio, a gente precisa agora levar soluções integradas, digitais”.

No entendimento do presidente da Telebras, buscando essas soluções, a empresa terá maior rentabilidade e poderá baixar seus custos na ponta. “Com isso, com menos recursos eu consigo aumentar a nossa receita por ponto conectado e isso vai levar à uma gigantesca trajetória de crescimento de receita nos próximos anos”, destacou Fred.

Após a solenidade, o presidente da Telebras concedeu entrevista à imprensa, na qual falou abertamente sobre diversos assuntos em pauta na companhia:

1 – Data center e a nova possibilidade de venda de serviços diretamente ao governo:

“Hoje, além de conectividade, a gente está disponibilizando a nossa infraestrutura, o maior data center TIER-4 do Brasil, que está utilizando sua capacidade apenas para consumo próprio (da empresa). A ideia nossa é colocar isso à disposição para os ministérios e os órgãos do governo por conta da segurança, baixa latência. Está em área de segurança pública porque está dentro da Base Aérea e isso é justamente mais um atributo que faz todo o sentido para o governo: usar esse ativo dento do próprio governo.

2 – Competição com o Serpro por hegemonia de serviços de rede no governo:

“Eu entendo que os serviços são complementares. O foco do Serpro é mais…(evitou terminar a frase). O nosso foco é justamente conectividade e levar soluções integradas, coisas que a gente não vê dentro das outras empresas do governo”.

3 – Nova legislação que permitirá venda de serviços diretamente ao governo: sem ela ficaria difícil manter a gestão da futura rede privativa?

Não, porque a rede privativa hoje é uma atribuição da Telebras. Acho que isso seria complementar ( a nova legislação) às outras soluções e não teria nada a ver com a rede privativa.

4 – Planejamento estratégico para este final de ano e o ano que vem. Com a abertura da venda de serviços diretamente ao governo, a Telebras pretende lançar uma carta de novos serviços para órgãos públicos. E o projeto do novo satélite estaria nesse planejamento?

“A gente entende que a Telebras pode se posicionar como um provedor de serviços digitais. E conectividade é um meio. Então estamos falando em data center, satélite, soluções de ‘imageamento’ (possibilidade de uso do satélite para captura de imagens que identifiques padrões, coletem, analisem e processem dados para tomada de decisões pelo governo sobre diversas políticas públicas) e a ideia é trabalhar no projeto do segundo satélite, que estava previsto lá atrás e parou… (resposta interrompida com nova pergunta)

5 – Falta de orçamento para cumprir o planejamento estratégico, inclusive a produção do novo satélite

“A receita virá de novos contratos que a empresa entende que faz sentido e tudo vai ser feito com muito pé no chão, a gente é muito conservador nesse sentido. Agora a gente acredita que um (novo) satélite é estratégico para a companhia; é para o Brasil. Quando gente fala em monitoramento da Amazônia, controle de fronteira… (interrompido com pergunta)

6 – O novo satélite seria geoestacionário ou de órbita baixa?

Isso está em estudo. Vamos ver o que tem de mais novo no mercado para que a gente possa levar a uma melhor solução, com menor custo, já que as novas tecnologias disponíveis estão permitindo…(interrompido com pergunta)

7 – Calendário para definição do novo satélite, teria de prever o projeto no Orçamento da União?

Sim, mas além disso a gente está discutindo buscar linha de financiamento, tem gente interessada nesse projeto. A ideia é ver a melhor alternativa e no momento oportuno a gente vai apresentar o projeto. Talvez até, se der tempo, para 2024, porque está muito em cima ( a discussão do orçamento já está praticamente concluída). A ideia é a gente refazer todo o plano estratégico, contando com as novas tecnologias, novas receitas, em função dos contratos que estão vindo. A gente hoje já tem o case do INSS, comprovado. É a maior rede corporativa SD-WAN com tecnologia Fortnet na Administração Pública e já é Telebras. Então o que a gente está sendo procurado por outros órgãos de governo para que a gente possa ampliar essa capilaridade de rede. Além disso, tem a rede privativa que é um ativo valioso e está construída no core da rede Telebras, em cima de projetos desenvolvido por colaboradores e técnicos da empresa, utilizando nosso data center com baixa latência. Toda essa infraestrutura vai ser colocada à disposição doa ministérios, dos órgãos de governo em função da sua resiliência de rede. A gente está pronto para crescer, o que precisamos é uma área comercial ativa, que tenha competitividade em termos de oferta de novas soluções para crescer receita.

8 – rede privativa móvel em todo o país ou só em Brasília?

Esse é um estudo que está sendo analisado pelo Ministério das Comunicações, não está definido ainda. Mas a ideia inicial é começar por Brasília, na região metropolitana de Brasília. A gente aguarda uma definição como falei. A nossa ideia é executar a política pública pensada pelo Ministério das Comunicações. Esse é o nosso papel.

9 – Anatel já atribuiu a frequência para a Telebras operar a rede privativa?

A gente já solicitou a faixa de frequência e a nossa ideia inicial é a faixa dos 700Mhz, pensando também na faixa secundária e estamos aguardando a posição da Anatel nesse sentido.

10 – Não há prazo para a Anatel anunciar?

Não, isso aí está…(interrompido por pergunta)

11- Telebras tem 1 bilhão em caixa represado desde que a estatal passou a ser dependente do Orçamento da União pelo extinto Ministério da Economia. Está sendo discutida com o Ministério da Gestão a volta da independência financeira da Telebras? Ministério das Comunicações nos bastidores diz que sim.

Sim, o ministro Juscelino (ministro das Comunicações, Juscelino Filho) está bastante empenhado nesse sentido. Ele sabe da importância desses recursos para a companhia para conseguir recuperar o orçamento para executar os investimentos. Além disso, com todos os projetos que estão para acontecer, com as previsões de contratos e receitas, a gente entende que pode preparar o plano estruturado para a saída da dependência ( do Orçamento da União). Então esse é o que a gente vai trabalhar em 2024 e é o que a gente entende que seria o futuro da companhia, pelo potencial que existe.

12 – O core da rede Telebras é Padtec. Os senhores vão abrir para outros fabricantes por conta da rede privativa ou permanecerá com esse modelo atual?

A gente vai fazer uma análise em função dos custos. A Padtec hoje atende muito bem tecnicamente a gente. Temos uma extremamente resiliente, com parcerias, aberta para os provedores, mas a ideia é vermos o que há de melhor em solução no mercado. Se surgir uma solução mis inovadora e com menor custo a gente está aberto. Hoje a gente entende que a nova Telebras é uma empresa bastante flexível.

13 – Na educação conectada o BNDES acabou de emprestar dinheiro para uma empresa criar um backbone paralelo ao da Telebras, que corta todo o Estado do Tocantins. Qual o papel e a prioridade para a Telebras na Estratégia Nacional de Educação Conectada?

Eu acho que o tamanho do projeto e o sonho do presidente Lula de conectar e melhorar a conectividade onde já tem, em 138 mil escolas públicas e mais de 40 mil unidades básicas de saúde, é um projeto que tem espaço para vários players do mercado e para a Telebras. A ideia é a gente construir algo nesse sentido de otimizar os recursos desses ativos. Então a Telebras conseguiu se inserir no contexto da Enec, temos voz ativa e cadeira no comitê executivo, onde a gente está contribuindo com o futuro do projeto, para atender essa política pública, em que o grande objetivo é incluir os milhões de brasileiros desassistidos, principalmente nas áreas remotas.

14 – Na Enec o senhor entra na condição de conselheiro, com direito a voto, mas a RNP (rede Nacional de Ensino e Pesquisa) entra com 250 milhões em caixa para conectar escolas, como será essa disputa, essa relação de forças?

Eu posso falar pela Telebras. A empresa entende que tem espaço para outros players de mercado pelo tamanho e magnitude do projeto. A nossa ideia é executar aquilo que está se comprometendo a fazer.

15 – As operadoras não gostaram da possibilidade da Telebras oferecer SCM no mercado (decisão que legalmente estaria condicionada apenas ao âmbito da rede privativa). A Telebras pretende concorrer com as operadoras?

De jeito nenhum. Não é papel da Telebras concorrer com o mercado. O papel da Telebras é atender uma exigência que foi lançado no próprio edital do 5G. Que é justamente é atender uma política pública somente para as forças de segurança e defesa. É uma decisão bastante específica, não tem como concorrer. Acho que as operadoras têm o seu papel, têm a sua contribuição e a Telebras o seu.

16 – Mas quando vão poder prestar serviços a 20 mil pontos públicos pela rede privativa não vai estar concorrendo quem já oferece esse serviço?

Isso ficará á critério do órgão se vai contratar a Telebras ou não. A gente entende que tem qualidade suficiente para poder entregar o serviço de forma rápido.

17 – Mas a partir do momento que vocês tem a preferência de contratação na Administração Pública, isso não abrange estadual e municipal também?

Isso é um desafio, mas o que vai nos credenciar a entregar ou fechar esses contratos será a nossa qualidade.

18 – a rede privativa não é uma estratégia de governo? ou uma rede qualquer em que seja franqueada essa competição?

Não, é uma rede totalmente estratégica em função de ter um atributo inovador, que é ter uma criptografia de Estado. É a única empresa( Telebras), que tem uma criptografia de Estado, desenvolvida em parcerias com os órgãos de inteligência do Brasil. Então esse é um atributo, um diferencial exclusivo da Telebras. E a rede não é para o usuário do varejo. O objetivo dessa rede é justamente atender as forças de segurança e defesa, que é um mercado bem restrito.

19 – Exclusão da Telebras em parte do atendimento por satélite previsto na renovação do programa GESAC.

A gente entende que o nosso satélite é o único geoestacionário que criou essa demanda no Brasil, então a gente cumpriu a política pública onde ninguém estava. O novo projeto ( estudado pelo Ministério das Comunicações) está em formulação e a gente entende que consegue contribuir muito mais fazendo gestão dos nossos ativos e a Telebras pode ser o grande Hub satelital no Brasil.

20 – Possibilidade de novas parcerias com operadoras de satélites?

Desde que ao adquirir capacidade por intermédio de outras empresas fique estabelecida que a gestão e a logística sejam com a Telebras.

21 – Starlink poderia ser contratada?

Isso está em estudo. Tem de entender qual é a propositura do Ministério das Comunicações, qual a expectativa. A empresa hoje ( Telebras) é bastante flexível, está aberta. O que a gente pretende fazer é incluir os milhões de brasileiros desassistidos.

22 – o futuro satélite Telebras será geoestacionário ou baixa-órbita?

A gente ainda está em fase de projeto e está em análise qual a melhor solução.