Redes comunitárias de Internet são alternativas viáveis para a inclusão digital no Brasil

Ativistas reunidos recentemente em São Paulo, por iniciativa do Podcast Tecnopolítica, do ex-presidente do ITI no Governo Lula, Sérgio Amadeu da Silveira, fecharam questão quanto a encaminhar uma recomendação ao candidato do PT à presidência, para inserir em seu programa de governo o apoio à inclusão digital através das redes comunitárias. E agora eles ganharam um estudo inédito que reforça esse discurso e comprova a eficácia da medida, realizado pelo CGI.br e o NIC.br. O estudo mostra que quatro em cada cinco redes comunitárias entrevistadas, estão presentes em localidades de povos tradicionais como comunidades quilombolas, aldeias indígenas ou áreas ribeirinhas. Localidades onde o braço governamental não alcança. 

“As redes comunitárias são alternativa para promover a inclusão digital em regiões de povos tradicionais e com pouca oferta de infraestrutura e serviços de Internet, e estão, em sua maioria (83%), presentes em localidades remotas e que apresentam maior vulnerabilidade: 40% delas em quilombos ou territórios quilombolas, 33% em aldeias ou territórios indígenas e 23% em áreas ribeirinhas”, informa o estudo.

A pesquisa, lançada nesta segunda-feira (5) em um evento online, teve a coleta de dados coordenada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que também colaborou com a análise dos resultados. 

O estudo Redes comunitárias de Internet no Brasil: experiências de implantação e desafios para a inclusão digital teve o objetivo de detectar o estágio de desenvolvimento dessas redes, compreender os seus modos de operação e seus efeitos nos territórios em que atuam, bem como identificar barreiras e maneiras de fomentar a sua sustentabilidade. 

“As redes comunitárias de Internet têm um papel estratégico de promover conectividade em áreas desatendidas, e em comunidades mais vulnerabilizadas, além de estimular a apropriação da tecnologia por essas comunidades. Por isso é muito importante entender quem são, como e onde atuam”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br. 

Perfil

Segundo o estudo, os principais beneficiários das redes comunitárias são os moradores de entornos urbanos (58%). As redes também mencionaram visitantes daquelas áreas, associações (43%), além de outras instituições como escolas e igrejas (35%) e comerciantes locais (25%).

O perfil dos gestores dessas redes reflete a diversidade da comunidade, sendo 55% deles pretos ou pardos e 20% indígenas — proporção superior à média da população nacional. Já em relação à escolaridade, 40% deles têm ensino superior e 33%, pós-graduação. 

Em 45% das redes comunitárias, os beneficiários participam das decisões sobre seu funcionamento, e em 35% delas as principais questões são decididas por um conselho ou grupo deliberativo. 

Sustentabilidade

A pesquisa mostrou que quase a totalidade das redes comunitárias mapeadas (93%) se definem como “organizações sem fins lucrativos”. Um quarto delas (23%) afirmaram depender de um investimento médio mensal de mais de R$ 1 mil para se manterem ativas, e 38% um custo de até R$ 1 mil.

Para financiá-las, 38% das redes comunitárias investigadas se valem de doações voluntárias de pessoas da própria comunidade, e igual proporção contava com o financiamento de organizações não governamentais. Em 28% delas eram cobradas mensalidades ou anuidades dos usuários.

Quando questionados sobre quão seguros estavam de que a sua rede estaria funcionando nos próximos 12 meses, 53% dos entrevistados (21 entre as 40 investigadas) afirmam estar muito seguros ou seguros de que a rede continuaria operando nos próximos 12 meses; 18% declaram estar nem seguros nem inseguros, e 23% declaram estar pouco ou nada seguros, representando quase um quarto das redes analisadas. 

“A sustentabilidade financeira das operações cotidianas é um desafio para a manutenção das redes comunitárias. Identificamos durante a pesquisa que a maior parte dos projetos de implementação dessas redes não preveem recursos para além das etapas iniciais de implementação ou para situações excepcionais, como conserto e substituição de equipamentos”, afirma Laura Tresca, conselheira do CGI.br. 

Principais atividades

De acordo com os gestores ouvidos pela pesquisa, entre as principais atividades realizadas pelos usuários das redes estão a promoção de festividades locais e a mobilização dos membros sobre temas de interesse e campanhas (ambas 50%), o que reforça o papel dessas redes na valorização de aspectos culturais e políticos da comunidade.

Os principais serviços oferecidos são espaços para gravar, compartilhar online arquivos e documentos (28%), a disponibilização de Intranet (23%), e o oferecimento de mural de avisos da comunidade pela Internet (18%). Serviços de rádio comunitária própria (13%) e TV comunitária própria (8%) foram mencionados em menores proporções. 

Quanto à tecnologia de conexão, 18% usavam rádio; 18% satélite e 13% fibra óptica. “Isso contrasta com a situação encontrada na média dos lares brasileiros, nos quais, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2021, predomina a conexão por cabo ou fibra óptica. Ao mesmo tempo, a prevalência de rádio e satélite nessas comunidades indica que grande parte dessas redes opera em territórios com obstáculos físicos adicionais à conectividade”, finaliza o gerente do Cetic.br.

Veja a íntegra da apresentação do estudo:

*Com informações do NIC.br