Pressão da base assustou sindicato

Um sindicato só tem razão de existir, quando ele trabalha em prol dos interesses dos seus filiados e, num plano maior, em nome de toda a categoria profissional ao qual ele representa.

Nos últimos dez anos, o SINDPD-DF vinha se desviando desse princípio, quando passou a sustentar financeiramente uma Faculdade praticamente constituída para favorecer os interesses de um único dirigente sindical e sua família.

Aqui vale um adendo. A Faculdade, quando criada pelo sindicato, tinha a nobre missão de qualificar os trabalhadores de TI do Distrito Federal. Seus objetivos só começaram a se desviar quando Avel de Alencar decidiu ser dono do empreendimento e aos poucos transformá-la numa instituição com fins lucrativos. Pode funcionar para atender, de fato, aos trabalhadores? Evidente que sim.

O desvio que citei acima começou a ficar evidente quando o SINDPD-DF passou a agir em sintonia com o SINDESEI  – o cartel das empresas de informática de Brasília. Os acordos trabalhistas pouco refletiam ganho real para os trabalhadores. Em troca as empresas contribuíam com 1% de sua folha para o financiamento da Faculdade.

Nesse meio tempo o sindicato nunca bateu de frente com os patrões, nunca houve greves, e os trabalhadores precarizados, nunca contaram com o apoio sindical em demandas judiciais contra as empresas. Não é à toa, por exemplo, que frequentemente a Poliedro Informática – cuja dona é a presidente do SINDESEI – atrasa salários dos empregados e não há sequer uma manifestação pública do sindicato contra a atitude da empresa.

Particulares 

A pressão que culminou com a queda de Avel de Alencar da Diretoria Jurídica do SINDPD-DF tornou-se insustentável para o sindicato, quando no ano passado os trabalhadores das empresas particulares decidiram partir para o confronto com a direção e tentar negociar em paralelo um Acordo Coletivo de Trabalho.

O sindicato pela primeira vez teve de assinar um acordo com o SINDESEI sem o respaldo da maioria dos trabalhadores. E assinou na marra, sem sequer passar o documento em Assembléia. Tal acordo espúrio foi denunciado no  Ministério Público do Trabalho, que embora tenha constatado a irregularidade, mais uma vez não fez nada para sanar o problema.

Mesmo tendo perdido a batalha, os trabalhadores saíram fortalecidos. Pela primeira vez em sua história, a direção sindical se viu sem credibilidade política perante aqueles que deveria representar. E esse temor já vinha se refletindo na campanha que virá este ano, pois os sindicalistas já não sabem ao certo o que virá pela frente da parte desses mesmos trabalhadores, contra as manobras deles junto ao patronato.

Sem credibilidade junto aos trabalhadores das empresas particulares a sustentação política do SINDPD-DF tornou-se inviável. Isso porque, nas empresas estatais eles já perderam esse apoio há muitos anos. No Serpro já existe um movimento paralelo, similar ao dos trabalhadores privados, disposto a detonar com a direção do SINDPD-DF nas próximas negociações salariais.

* Ainda é prematuro fazer previsões, mas já aposto na possibilidade do sindicato, depois que se livrou da nefasta influência de Avel de Alencar, caminhar na direção de voltar a ouvir as bases novamente, de se aproximar dos interesses dos trabalhadores, repudiando daqui para a frente qualquer tipo de acordo de gaveta com o cartel das empresas de informática.

* Aliás, se o cartel tiver algum mínimo de bom senso, deverá caminhar na direção de afastar, também, Suely Nakao da direção do SINDESEI.