
Tomou posse nesta quarta-feira 0(2), o novo diretor-presidente da Rede Nacional de Ensino e Pesquisas (RNP), Lisandro Granville, no Ministério da Ciência e Tecnologia. Granville já foi presidente da Sociedade Brasileira de Computação e professor titular do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Está há 16 anos na RNP, atuando em iniciativas como o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias Digitais para Informação e Comunicação (CTIC) e o programa Hackers do Bem. “Ele chega com o desafio de comandar a RNP em projetos como o Conecta e as Infovias Estaduais”, informa o MCTI.
A cerimônia foi tão esvaziada em termos de presença de autoridades e empresários de renome no mercado, que o volume de pessoas que se dispôs em participar da “festa”, mal deu para ocupar as cadeiras disponíveis da sala/auditório do ministério. Esse esvaziamento político não é culpa de Granville.
É simplesmente uma leitura que o empresariado e o próprio governo vem fazendo, de que o MCTI não apita mais em coisa nenhuma. Toda a política industrial do governo passou para as mãos do ministério do vice-presidente, Geraldo Alckmin (MDIC = Desenvolvimento). Ao ministério de Luciana Santos cabe apenas pagar a conta dos projetos de governo através dos recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Para se ter uma ideia desse esvaziamento político, as duas maiores autoridades govenamentais presentes ontem no evento foram, a diretora da ABDI, Perpétua Almeida; e Estela Haddad (foto), secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde.
Ninguém mais do primeiro escalão do governo que tenha alguma relevância, ou pelo menos dos ministérios que mantém contratos com a RNP, esteve presente. No máximo a raia miúda do terceiro escalão foi chamada para ocupar cadeira na festa da posse. No caso de Perpétua Almeida, por exemplo, convém lembrar que ela é deputada federal pelo PCdoB e o MCTI ainda é um ministério ocupado pelo partido. Já Estela Haddad devia ter agenda livre ou sobrou para ela essa missão ingrata.
Na área empresarial não foi diferente. Afora os representantes de diretorias de empresas que costumam promover as “Relações Institucionais” com o governo, a presença de maior destaque foi a do presidente da Bahiagás, Luiz Gavazza (foto esquerda), ligado ao PCdoB e dirigente de uma estatal baiana criada há 30 anos para ampliar a rede de fornecimento de gás natural para os 68 municípios.
Outra “autoridade baiana” presente era Davidson Magalhães (à direita com Luciana), secretário de Trabalho, Emprego e Renda do Governo da Bahia (SETRE-BA), que também tem vínculo político com o partido da ministra, o PCdoB. Não por mero acaso Davidson foi o antecessor de Gavazza na presidência da Bahiagás.
Pressão por cargos
A mudança na direção da RNP já suscitou boatos sobre mudanças na diretoria deixada por Nelson Simões. A informação que circula com maior força nos bastidores do MCTI é de que o diretor-presidente Lisandro Granville terá que absorver na sua equipe o secretário baiano que prestigiou a sua posse. Davidson Magalhães é filiado ao PCdoB e só estaria aguardando Granville reunir o conselho que administra a RNP para ser efetivado na cúpula que comanda a organização social.
Saco sem fundo
A presença da poderosa Bahiagás num evento de posse em Brasília do diretor-presidente de uma “Organização Social sem Fins Lucrativos” vinculada desde a fundação há 25 anos ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, não passa de mais uma oportunidade que a estatal baiana tem para arrancar dinheiro do governo federal através de uma OS sem prestar contas à ninguém.
E a senha foi dada pela própria ministra Luciana Santos durante o evento. Segundo informação divulgada pela imprensa do MCTI, a ministra disse durate o evento que: “entre 2023 e 2026, o MCTI irá investir R$ 629 milhões em iniciativas como as 19 infovias estaduais, que somam mais de 40 mil quilômetros de fibra óptica. “Levando conectividade às cidadezinhas mais remotas do país, nos rincões onde a iniciativa privada não quer ir”. O dinheiro já foi destinado pelo MCTI para a RNP cumprir a tarefa, só não se sabe quanto a organização já recebeu, quanto já executou, quais os resultados e em especial, quanto a Bahia teve de recursos neste projeto.
Um convênio da Bahiagás com a RNP foi assinado no ano passado em Brasília, durante a realização do Fórum RNP-2024. O acordo passou pelas mãos do então diretor-geral da RNP, Nelson Simões; do diretor de Engenharia e Operações (RNP), Eduardo Grizendi, e pelo diretor-presidente da Bahiagás, Luiz Gavazza, além de Larisse Karina Stelitano Gonsalves de Oliveira, diretora Técnica e Comercial dessa estatal.
O objeto deste acordo era claro: “os cabos de fibra óptica da RNP poderão ser instalados junto aos dutos da Bahiagás em zonas urbanas e rurais, alcançando novos municípios e regiões do estado, que contarão ainda com redes metropolitanas interligando órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa dos locais“, conforme noticiário da época. Não foi revelado valores sobre esse acordo. Mas a julgar pelo que disse a ministra, dinheiro para o projeto não faltou e nem faltará.
Desde 2012 o Ministério da Ciência e Tecnologia vem assinando acordos para a implementação de programas de inclusão digital nos estados. O Governo da Bahia já foi signatário em um projeto desse gênero justamente com a RNP. A proposta era a criação de uma rede de de comunicação de dados para a prestção de diversos serviços. Qual foi o resultado desse projeto?
Em 2012 este acordo foi assinado pelo falecido ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp. Sua vigência era de dois anos. Qual foi o resultado dele, após passar por sete ministros (Clelio Campolina Diniz; Aldo Rebelo; Celso Pansera; Emília Maria Silva Ribeiro Curi; Gilberto Kassab; Marcos Pontes; Paulo César Alvim)?
*Agora chegou a vez de Luciana Santos abrir o cofre para mais um projeto de resultados duvidosos da RNP.