Pandemia e a reinvenção das habilidades no mercado de trabalho

Por Tânia Cosentino, Fábio Hasegawa e Fernando Teixeira* – Em 2020 vivemos uma intensa transformação digital acelerada pela pandemia da COVID-19 e em 2021 a tendência é continuarmos nesse movimento. As mudanças aconteceram não só nos negócios como em diferentes setores da sociedade, transformando a maneira como trabalhamos e nos comunicamos. Dados de uma pesquisa recente da Accenture com 2.000 consumidores, mostram que 70% das pessoas entrevistadas esperam que seus relacionamentos com a tecnologia sejam mais proeminentes em suas vidas nos próximos três anos. Já 83%, entre os mais de 6.000 executivos e executivas de negócios e tecnologia da informação (TI), reconhecem que a tecnologia se tornou uma parte que não pode ser dissociada da experiência humana. Ou seja, tanto consumidores quanto profissionais que trabalham na área afirmam que a tecnologia estará ainda mais presente em nossas vidas nos próximos anos e esse cenário evidencia o quanto a qualificação dos profissionais é crucial para habilitarmos o trabalho do futuro.

A Microsoft também está empenhada em entender qual o impacto e o papel da tecnologia atualmente e no futuro e como podemos tirar o melhor proveito dela. Para analisar especificamente a utilização da Inteligência Artificial (IA), a empresa encomendou à consultoria FrontierView um estudo que analisa sob o aspecto da Covid-19, os impactos causados pela adoção massiva de IA. A pesquisa, baseada em um levantamento feito pela primeira vez em 2019, destaca que o Brasil pode experienciar dois cenários distintos de acordo com os níveis de investimentos na tecnologia. No primeiro cenário, é previsto que o uso da tecnologia acrescente 1,8 pontos percentuais ao PIB brasileiro até 2030. Já no segundo cenário, o crescimento adicional poderia chegar a 4,2 pontos percentuais.

São dados expressivos que nos mostram que quanto mais a tecnologia for adotada, mais benefícios podem ser extraídos dela. Sabemos que alguns empregos podem e serão automatizados com a adoção de IA, entretanto, novas profissões e oportunidades devem ser criadas com essa transformação. E para que todos possam se beneficiar, precisamos garantir, além de desenvolvimento ético e responsável, que a população tenha acesso às tecnologias e à qualificação. Para isso, organizações públicas e privadas devem se unir para ofertar cursos e oportunidades aos profissionais que estão ingressando no mercado de trabalho e também para que aqueles que já têm experiência mas precisam se atualizar.

Na Microsoft o tema qualificação e requalificação de profissionais é um dos pilares da atuação da companhia no País. E para selar esse compromisso com o desenvolvimento do Brasil, foi anunciada, em outubro do ano passado, o plano Microsoft Mais Brasil, que apoia o crescimento inclusivo por meio de tecnologia, programas de sustentabilidade e qualificação. Entre as iniciativas apresentadas está a “Escola do Trabalhador 4.0”, uma plataforma de ensino remoto desenvolvida pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia (SEPEC/ME) em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que inclui cursos da Microsoft por meio da ferramenta Microsoft Community Training. A plataforma estará disponível para todo o país, oferecendo mais de 20 cursos e 58 instrutores para orientação personalizada com o objetivo de capacitar 5,5 milhões de pessoas até 2023.

Ainda durante a pandemia, a Microsoft e o LinkedIn Learning disponibilizaram 96 cursos gratuitos em português que abordam os mais diversos temas, como adaptação ao trabalho remoto, desenvolvimento de competências mais requisitadas pelo mercado, gerenciamento de projetos e a criação de iniciativas de diversidade e inclusão para seus funcionários – além de outros temas. Um outro exemplo é o AI Business School, uma plataforma gratuita em português com cursos de negócios e por indústria, dedicados a líderes que querem aprender mais sobre IA e tecnologia em geral, criando uma cultura organizacional adaptada a esse novo cenário. A escola de negócios INSEAD se uniu à Microsoft para criar um módulo especial sobre estratégia dentro da plataforma AI Business School. Esse conteúdo inclui casos de empresas de diferentes indústrias que têm se transformado com sucesso por meio da IA.

Na Avanade e na Accenture que atualmente possuem mais de 2.000 vagas combinadas para contratação abertas no mercado, desenvolver e qualificar os profissionais brasileiros também é parte da sua estratégia. As empresas desenvolveram inúmeros programas de formação tais como a recém lançada Universidade Avanade e a Academia Accenture, realizados com foco na formação e desenvolvimento de talentos e com diversas parcerias estratégicas orientadas também a inclusão e diversidade tais como ProgaMaria, Digital Innovation One, Meu Futuro Digital e Gama Academy, nas quais oferecem capacitações em diversos campos e também voltadas para programadores das áreas de Front End (Angular, React), Mobile (React Native), Back End (Java e Node.js) e Dados (Data Engineer).

Outro ponto importante a ser ressaltado é a necessidade de oferecer conteúdo em português. Isso ajuda a amplificar o interesse pelos cursos e garante que um maior número de brasileiros esteja apto a participar dos treinamentos. Afinal, de acordo com levantamento do British Council, apenas 5% da nossa população fala inglês e, se queremos incluir e aumentar o número de profissionais em tecnologia, superar a barreira da língua é fundamental.

O compromisso para garantir oportunidades e acesso à tecnologia para a população deve ser um trabalho em conjunto dos setores público e privado. Essa premissa faz parte do Movimento Brasil Digital (MBD), iniciativa que reúne grandes empresas em prol da transformação digital no país e da qual a Microsoft e Accenture fazem parte. O intuito é preparar a sociedade para as profissões do futuro de forma humanizada, gerando ocupações qualificadas e garantindo crescimento econômico sustentável. A plataforma Brasil Mais Digital fornece cursos de qualificação em tecnologia e já soma mais de 430 mil estudantes cadastrados.

O desenvolvimento de habilidades digitais pela sociedade brasileira é urgente e, segundo recente pesquisa da Avanade, temos um cenário promissor pela frente. O estudo revela que as nossas empresas têm aspirações muito altas no campo de novas tecnologias e declaram um alto nível de avanço em sua trajetória digital em relação a outros mercados, bem como um comprometimento alto das equipes de gestão executiva.

Nosso papel enquanto instituições privadas é nos unirmos e auxiliarmos o país em sua retomada econômica, qualificando nossos profissionais de forma inclusiva, a fim de garantir oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade social, minorias sub-representadas e ampliando a participação de mulheres em carreiras de tecnologia.  Este é um esforço conjunto que, se conduzido de maneira assertiva e intensa, trará resultados positivos para o País nos mais diversos setores de atuação.

*Tânia Cosentino, General Manager da Microsoft; Fábio Hasegawa, Presidente da Avanade Brasil (E) e Fernando Teixeira, Líder de AMBG Latam pela Accenture (D).