Ontem (12), o portal Convergência Digital publicou matéria na qual fala do “sucesso” da nuvem federal, criada pela antiga equipe da STI -Secretaria de Tecnologia da Informação, do Governo Temer, que depois foi aproveitada no Governo Bolsonaro e virou a SGD – Secretaria de Governo Digital.
A mesma secretaria que algum dia terá que explicar como contratou o Serpro por R$ 336 milhões para desenvolver a integração de bancos de dados do governo, que no somatório não chegavam a 1,7 milhão de contas ativas. E depois, para não deixar evidente que pagou valor discrepante para o volume de serviço que o Serpro teria, pressionou a direção da Dataprev a entregar de graça a base de dados do INSS, para comprovar o custo/benefício do contrato.
Esse suposto “sucesso” da nuvem federal é bastante duvidoso, questionável pelo conjunto de órgãos vinculados à Ata de Registro de Preços e a sua relevância para a TI federal, num universo de mais de 200 órgãos, salvo raras exceções. A licitação foi tão conturbada, tão contestada na Justiça, que durante 2019 a nuvem federal parecia um “vaga-lume”, funcionou de forma precária, supostamente apenas com os inscritos no edital. Mas a Secretaria de Governo Digital (SGD) do Ministério da Economia assim mesmo festejou os resultados.
É duvidosa tal assertiva, porque de outubro do ano passado para cá, quando a nuvem foi efetivamente liberada da briga judicial, houve pouco tempo para as empresas implementarem o tão sonhado projeto. Salvo raras exceções, a maioria não tem peso orçamentário, nem tampouco equipes preparadas para assumir em tão curto espaço de tempo tamanho projeto.
Então não é concebível que em tão pouco tempo, pela maturidade de parte dos mesmos, que diversos órgãos tenham implementado seus bancos de dados na nuvem de maneira rápida, passando por cima dos processos de governança ITIL e COBIT.
Alem disso é questionável a informação do “sucesso” obtido pela SGD, simplesmente pelo fato de que um órgão pode assumir a “intenção” de aderir à Ata de Registro de Preços da nuvem da SGD, mas não necessariamente isso o torna automaticamente participante do projeto. O que somente ocorrerá quando assinar um contrato com os provedores da nuvem.
Por exemplo, o INSS foi apontado na matéria do portal Convergência Digital como um dos órgãos que participa da nuvem. Será?
Em dezembro do ano passado o mesmo INSS que aderiu a Ata, que teve a intenção de participar da nuvem federal, acabou contratando a Claro/AwS para executar o mesmo serviço. Portanto sua participação na nuvem federal da SGD tem cara de propaganda. A SGD poderá mostrar o contrato do INSS com a Primesys/AWS e desmentir esse fato.
Mas, por enquanto, o único contrato visível é o que o INSS assinou com a Claro, cujo parceiro de TI também é a AWS:
Também ainda carece de comprovações, que universidades federais e institutos de C&T estejam na nuvem federal. Simplesmente porque recentemente este site divulgou que quem se propõe a fazer a nuvem nelas é a Microsoft ou até mesmo a AWS, entre outros provedores globais, após assinarem acordos com a RNP- Rede Nacional de Ensino e Pesquisa.
Além desse contrato com a Claro/AWS, o INSS conta ainda com um outro contrato de serviços de nuvem com a Dataprev, cujo projeto foi criado em 2018 e denominado GovCloud, que tem a base de virtualização VMware, mas não guarda relação com empresas de telefonia. Uma característica que tem sido marcante quando se trata de falar de nuvem defendida por órgãos do Ministério da Economia.
A GovCloud da Dataprev, assim como diversos projetos de nuvem do Serpro, ao que parece estão sendo atropelados pelos interesses da SGD de ter uma nuvem federal suportada por empresas privadas, inclusive de telefonia, seguindo a linha dos discursos em favor da privatização de estatais. Em matéria de negócios, parece que a tese do “livre mercado” tem conflitado com o slogan “Brasil Acima de Tudo”, deste mesmo governo.