O software brasileiro representa apenas 28% do mercado nacional

Estudo feito pelo IDC a pedido da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software, sobre o cenário de crescimento do setor em 2019, apresentou um crescimento de 10,5%.

Pelo estudo, significa que o mercado brasileiro cresceu o dobro da média mundial (5%), num ano em que o PIB foi de 1,1%. Em valores, esse crescimento representou um faturamento de R$ 161,7 bilhões, incluídos nesse montante os mercados de software, serviços, hardware e também as exportações do segmento.

Porém, perdeu espaço para a Austrália, por conta da valorização do dólar, e agora ocupa a décima posição no ranking mundial de TI. ” Se olharmos apenas para o mercado de software e serviços, o Brasil passou da 9ª para a 11ª posição no ranking mundial, perdendo espaço para Holanda e Itália no ano de 2019″, destacou a entidade.

Que faz um parêntese: “Mesmo assim, o mercado brasileiro ainda representou 1,8% do mercado mundial de TI e 40,7% do mercado da América Latina”.

Software nacional

Nas entrelinhas, entretanto, o estudo revela um dado preocupante não comentado pela ABES ainda. O software desenvolvido no país tem pouca participação no mercado brasileiro, apenas 28%. Não está claro se esse “desenvolvimento” é nato, ou apenas a customização em cima de algum framework estrangeiro. Neste caso, esse percentual de participação poderia cair ainda mais. A ABES aparentemente vê essa questão como um cenário colorido. Nem tampouco é clara se grande parte desse “desenvolvimento” serve para atender a uma demanda interna ou para exportações.

“Em 2019, a utilização de programas de computador desenvolvidos no País (incluindo aí o software sob encomenda e as exportações) representou 28,5% do investimento total, mantendo a tendência de participação do software desenvolvido no País em relação ao mercado total, que vem sendo apontada desde o inicio deste estudo”.

É curioso ver tal declaração no estudo, porque essa baixa penetração é um sinal claro de que o país ainda não tem uma política nacional voltada para o estímulo ao desenvolvimento de software e de suas patentes. E ele só se mostra “favorável” porque o Brasil conseguiu ganhar o mercado latino-americano com soluções “Made in Brazil”, que contribuíram para puxar esse crescimento em 2019.

Nulidades

É de se indagar se o papel da Apex – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, tem alguma relevância nesse contexto de vendas externas, assim como questionar para que serve a Softex – Sociedade Brasileira para a Promoção das Exportações de Software.

Porém, cabe muito mais tentar saber – e já pedi entrevista – sobre o papel que tem sido desempenhado pela ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. A quem caberia, em última instância, ter uma política clara e voltada para o setor.

É de se perguntar: a ABDI tem sido a indutora do crescimento do mercado de software e o que já fez até agora pelo setor?

Será que existe alguma política industrial sendo tratada internamente no governo que seja voltada para um dos seguimentos econômicos que mais cresce no Brasil? Durante anos convivemos com uma Lei de Informática que alavancou a indústria de PCs e combateu o mercado cinza.

Mas neste mesmo período, desde 1990 não vejo nada ocorrer de forma tão clara que se possa cravar com certeza: “temos uma política nacional de software”. Há algumas iniciativas nos últimos anos, mas são pontuais e visam as startups. Mas para esse mercado o governo parece mais interessado em conceder renúncias fiscais do que realmente discutir uma política que contemple, por exemplo, compras governamentais (somente 3% das compras de governo são voltadas para soluções genuinamente nacionais).

*Não tenho ilusões de que presidentes de entidades que representam o software nacional se deem ao trabalho de me responder. Paciência.