O caminho da nova era da conectividade

Por Dustin Pozzetti e Jorge Wada* – A rede 5G representa um grande salto na evolução da conectividade. Em plena fase de desenvolvimento e implementação, essa tecnologia alavanca novas oportunidades para transformar praticamente todo o ecossistema que conhecemos hoje, podendo conectar, virtualmente, tudo e todos de forma inteligente e inovadora. Considerada uma conexão de altíssima velocidade, a rede 5G é capaz de revolucionar aplicações e interações sociais, além de entregar aos usuários novas experiências.

De modo geral, os efeitos da chegada do 5G tendem a ser similares ao redor do mundo, mas com grau de impacto relativo e proporcional à dinâmica econômica de cada país. Um estudo da IHS Markit indica que a nova rede deve gerar um impacto positivo de aproximadamente US$ 12 trilhões na economia global em 2035, atingindo praticamente todos os setores. De acordo com as expectativas da KPMG para o mercado corporativo, estima-se que cerca de US$ 4.3 trilhões serão gerados em serviços nos próximos 6 anos em vários segmentos, como os de manufatura, varejo, serviços públicos e financeiros, saúde, transporte, entretenimento, mídia e tecnologia. Nesses e em outros segmentos da indústria, o 5G abrirá uma oportunidade única de transformação e inovação.

Em um cenário global, já é possível enxergar um dos maiores benefícios da nova rede nos locais onde a implementação está acontecendo. A grande vantagem até então percebida está na estruturação das chamadas cidades digitais, com ampla oferta de conectividade, como é o caso da capital sul-coreana, Seul, um verdadeiro case de sucesso no setor de governo.

Atualmente, a tecnologia 5G também está sendo utilizada para ajudar no combate ao Covid-19. Alguns hospitais na cidade de Wuhan, na China, foram equipados com antenas 5G para viabilizar o funcionamento de redes ultra velozes e confiáveis para transmissão de dados. O objetivo é que o acesso à coleta de dados, consultas e monitoramento do quadro de saúde dos pacientes seja realizado remotamente com o suporte da nova conexão, com alto grau de precisão e imagens de alta definição. Essa medida ampliou o fornecimento dos serviços hospitalares, bem como o acompanhamento do avanço ou regresso do vírus, agilizando, efetivamente, os diagnósticos e resultados.

Outra iniciativa baseada na tecnologia 5G relacionada a prevenção ao Covid-19 tem sido a utilização de robôs inteligentes. Em cidades como Xangai e Guangzhou, eles estão sendo usados em hospitais para desinfetar áreas onde ficam pacientes e entregar remédios, com o intuito de reduzir o risco de infecção cruzada e garantir a segurança dos médicos. Robôs de patrulha equipados com câmeras de alta resolução e termômetros infravermelhos também foram atualizados para ajudar no monitoramento. Capazes de escanear a temperatura de 10 pessoas simultaneamente em um raio de 5 metros, ao detectarem altas temperaturas ou ausência de máscaras de proteção, estas máquinas podem enviar alertas para um centro de controle em tempo real.

No Brasil, a tecnologia ainda está em fase de estudos e testes. No entanto, para que a adoção do 5G seja eficiente, é importante que o debate referente a temas essenciais para a obtenção de maiores benefícios econômicos durante a implantação da ferramenta seja acelerado, como o marco civil da internet, questões relacionadas à infraestrutura, impostos e a criação de incentivos para empresas.

Apesar dos desafios, o Brasil tem um potencial enorme a partir da implementação da rede 5G e os investimentos que serão feitos para viabilizar essa tecnologia trarão um impacto extremamente positivo para a sociedade. Estudos indicam que, em um período de dez anos, o 5G e o ecossistema da rede irão gerar até US$ 104 bilhões no PIB brasileiro, a depender da forma como o governo irá gerar incentivos e atuar de maneira a permitir o máximo proveito da ferramenta para impulsionar os mercados.

É importante ressaltar ainda que o setor de telecomunicações no Brasil é altamente regulado e, por isso, o processo de implantação do 5G no país deverá ser executado de acordo com o cronograma estabelecido pela Anatel. Na medida em que a agência reguladora estabelece os prazos de implementação no país, as empresas do ecossistema sentem-se mais seguras para realizar investimentos e, consequentemente, fechar contratos de fornecimento. Embora os prazos ainda estejam sendo definidos e possam sofrer revisões em virtude da pandemia da Covid-19, as operadoras brasileiras já estavam se preparando, progressivamente, para a chegada do 5G. Nos últimos anos, trabalharam na atualização de redes de acesso móvel, aumento da capacidade de transporte óptico e aceleração da virtualização do core.

Com o incentivo necessário, uma série de novos negócios e oportunidades podem surgir com a entrada da tecnologia 5G no Brasil. Podemos esperar um impacto positivo no desenvolvimento econômico já no processo de execução de cronograma de implementação, com o crescimento da demanda nas indústrias de tecnologia e engenharia, no consumo de equipamentos, fibra óptica, serviços, etc. Desde já, benefícios fiscais estabelecidos pela adoção do processo produtivo básico e da tecnologia nacional serão essenciais para manter aquecida a cadeia de suprimentos.

Conectar a sociedade é um caminho longo, mas esse processo precisa ser realizado de maneira consistente e bem estruturada no Brasil. Serão anos de oportunidades em que organizações e profissionais mais preparados poderão extrair o melhor da nova ferramenta. Neste cenário de plena transformação, uma boa implementação do 5G pode ser a chave para o crescimento e a consolidação de empresas brasileiras na era da evolução digital.

*Dustin Pozzetti é sócio líder do setor de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG no Brasil
*Jorge Wada é sócio diretor em conectividade da KPMG no Brasil

*Ilustração da ITForum.