Em live realizada nesta quarta-feira (28) no Instagram, o astronauta e ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, tentou tranquilizar a comunidade acadêmica com relação à pane ocorrida há quatro dias num servidor do CNPq, que impede o acesso à base de dados da Plataforma Lattes, entre outras. Mas, para isso, primeiro jogou a culpa na gestão de Gilberto Kassab, um dos principais caciques do Centrão, que teria lhe entregado o MCTI com um rombo nas contas do CNPq de R$ 330 milhões.
Essa perda de receitas orçamentárias era com relação ao pagamento das bolsas do CNPq aos cientistas, e não necessariamente ao custeio da instituição, que deveria ter orçamento próprio para renovar um contrato de manutenção de um Storage VNX 8000 comprado junto à EMC em 2014, no Governo Dilma, que não foi renovado em 2018, no Governo Temer.
Porém, ao fim da “live” o ministro deve ter se tocado de que tinha acabado de atacar um cacique do “Centrão”, principal bloco político aliado do presidente Bolsonaro. O ministro tratou de corrigir sutilmente a informação, só que omitindo alguns fatos relevantes para a sua narrativa:
Pontes mentiu. O CNPq comprou o Storage da EMC em 2014, portanto em 2013 – Governo Dilma Rousseff – a instituição pensou, sim, em atualizar o armazenamento de suas bases de dados. O que ocorreu foi que o contrato encerrou em 2018 e o “aliado kassab” acabou deixando de renová-lo, passando a bola para Marcos Pontes. Que em nenhum momento se lembrou de dizer na “live” que está no MCTI há dois anos e meio e nesse período nada fez para solucionar o problema.
Pontes não pode sequer negar que não sabia dos riscos que estava correndo, pois o próprio CNPq justificou a compra realizada em abril deste ano, lembrando que estava há dois anos e quatro meses jogando com a sorte de um equipamento que poderia falhar e não tinha nem garantia ou manutenção. Deu azar, falhou agora.
Para fazer justiça com a atual direção do CNPq, a instituição fez a nova compra em abril deste ano. Foi realizado naquele mês o Pregão Eletrônico Nº 00004/2021, no qual a TI do CNPq contratou a empresa Adistec Brasil Informática Ltda; para aquisição de “duas unidades de armazenamento (Storage) All Flash, com instalação, configuração e garantia e suporte técnico por 60 meses”. A Adstec representa a marca “Pure Storage” e fornecerá dois “FlashArray//C60” ao custo de R$ 4,6 milhões.
“Atualmente o CNPq possui no seu parque computacional em torno de 50 servidores físicos e 100 máquinas virtuais, estes equipamentos armazenam seus dados no Storage modelo VNX 8000, marca EMC. Neste cenário apresentado, no que tange a ARMAZENAMENTO, identificou-se a necessidade de ampliação e reestruturação de sua atual capacidade física, visando proporcionar aos usuários do CNPq maior facilidade, rapidez e maior portabilidade em suas atividades diárias”. Foi como a TI do CNPq justificou a compra dos novos equipamentos.
E além das razões apresentadas de dar maior comodidade aos usuários, a TI do CNPq também alertou para o problema de estar jogando com o imponderável, ao declarar que: “não possui equipamentos de contingência disponíveis, solução de Disaster Recovery, o atual subsistema (EMC VNX8000) que encontra-se sem garantia do fabricante, sem contrato de suporte técnico vigente e além disso encontra-se na lista de equipamentos “End of Life – EOL” da EMC”. Ou seja, a máquina não apenas não tinha garantia contratual vigente, de manutenção, como já estava na lista da EMC para ser descontinuada a sua fabricação.
Pontes sabia que estava deixando o CNPq por conta da sorte, ao não realocar recursos de outras fontes orçamentárias do ministério para impedir eventual pane, que acabou ocorrendo. Não se tratava de “herança Maldita” que recebeu de Kassab, ou negligência do Governo Dilma, que segundo ele, tinha dinheiro mas não sabia o porquê de não gastar nisso (veja o segundo vídeo).
O próprio CNPq em sua justificativa para a nova compra de equipamentos isentou o “governo do PT” do discurso bolsonarista, que nos últimos dois anos e meio sempre se socorre dele, quando precisa explicar alguma trapalhada em que se mete nos cortes orçamentários de ministérios.
“É importante registrar que no ano de 2014 o CNPq adquiriu um Storage EMC VNX 8000, com capacidade de armazenamento distribuídos em diversos discos mecânicos de baixa velocidade. Em 2018, encerrou-se o contrato de garantia e suporte técnico, e neste mesmo ano começou a apresentação de diversos erros em discos e outros componentes do equipamento. Restam alguns TeraBytes livres que não possuem destino de armazenamento confiável, tendo em vista o enorme risco de falha do equipamento. Logo, quanto ao tema de armazenamento, existe a necessidade de contratação de aquisição ou serviço para armazenamento dos dados, uma vez que o VNX 8000 não poderá comportar, muito menos assegurar o armazenamento dos dados de todos os sistemas e as novas demandas e projetos que surgirem para os próximos 5 anos“.
A empresa contratada tem prazo de 120 dias para entregar os novos equipamentos. Esse prazo, em tese, deverá terminar ao final de agosto.
*Mas o ministro em sua “live” disse que espera uma solução para no máximo uma semana. Embora tenha dito também, que entende mais de “panes na estação espacial” do que na TI do CNPq.