Libertação

Por Jeovani Salomão*  Toda restrição gera oportunidades. A dificuldade de se comunicar a longa distância no passado impulsionou a criação de uma enormidade de aparatos que hoje nos permitem falar instantaneamente (e quase de graça se você estiver usando um Wi-Fi que não seja o seu) com qualquer lugar do planeta. Nossa incapacidade de voar nos trouxe o avião, a ameaça constante de predadores nas savanas fez a humanidade produzir meios para se defender, nossa limitação física de gravar na memória tudo que acontece conosco nos fez inventar inúmeros dispositivos auxiliares que permitem o registro de dados, como as câmeras fotográficas para as imagens.

Quando um indivíduo ou uma sociedade é submetida a desafios, existe a possibilidade real de encontrar novos caminhos melhores que os anteriores e progredir. Em inúmeros casos, a pressão não consiste apenas em uma alternativa para desenvolvimento, mas é indispensável para que a mudança ocorra. Uma borboleta, cujo casulo tenha sido rompido por elementos externos, não consegue completar seu ciclo de amadurecimento e, em consequência, não consegue voar.

Uma vida fácil demais, principalmente na infância e na juventude, pode atrapalhar a formação do indivíduo, não é à toa que alguns dizeres populares circularam desde muitos anos:


“Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.”

“Pai rico, filho nobre, neto pobre.”

Este é um grande desafio para as famílias que romperam os limites da pobreza e conseguiram prosperar pelos próprios méritos. Em geral estes pais querem proporcionar aos filhos aquilo que não tiveram, o que é um desejo legítimo e saudável, mas quando se erra na dose traz consequências extremamente negativas.

O mesmo ocorre com a evolução das nações. Países como o nosso, com clima tropical e vegetação em abundância, são propícios para o extrativismo. Sem as severidades de um inverno rigoroso, deixamos de planejar e desenvolver diversas tecnologias que foram responsáveis por avanços em países de clima  temperado. Os resultados desta diferença podemos observar com muita clareza. Basta comparar a América do Sul e o continente africano com boa parte dos países que ficam acima da linha do equador.

Esta tese geopolítica não é minha, mas difundida por muitos estudiosos mundo afora. Para ficar com a referência no Brasil, vou citar Heni Ozi Cukier, que apesar do nome, nasceu em São Paulo. Ele é Deputado Estadual por seu estado de origem, cientista político, consultor e palestrante, atuou na Organizações dos Estados Americanos – OEA, na Organização das Nações Unidas – ONU, fundou a consultoria Insight Geopolítico e tem um vasto repertório de aparições públicas em redes locais e nacionais para análise de problemas políticos internos e internacionais. Tive acesso a uma de suas palestras, por indicação do meu amigo Francisco Camargo, fundador da CLM e presidente do Conselho da ABES. 

Evidentemente, as adversidades possuem o poder de infringir danos, alguns devastadores. A despeito da recuperação econômica que já começou a ocorrer, temos no Brasil mais de 14 milhões de desempregados em função da pandemia. Ainda há outros efeitos graves como a perda de entes queridos – este sem sombra de dúvida o pior de todos -, falências, impactos emocionais severos, dentre outros.

Assim como em outras ocasiões, nesta também surgiram inúmeras oportunidades. A proliferação de agendas virtuais, além de dinamizar empresas que se dedicaram ao tema, tem permitido que as pessoas convivam mais tempo com suas famílias. Muitos avanços em serviços digitais, que aumentaram a qualidade de atendimento ao cliente, foram desenvolvidos neste período, assim como evoluções nos meios de pagamento, como cartões de crédito que funcionam por proximidade e evitam pedir a senha dentro de determinados limites.

É um consenso que uma onda de transformação digital, extremamente benéfica para a sociedade, foi colocada em marcha com a pandemia e suas consequências repercutirão por vários anos. Eventualmente, a história irá mostrar este momento como um ponto de inflexão para a virtualização da realidade. A influência da pandemia no comportamento humano e nas dinâmicas sociais, no entanto, ainda será alvo de inúmeros debates ao longo dos anos. Somos seres sociáveis e até agora não nos acostumamos integralmente com o distanciamento físico imposto.

No decorrer no mês de julho, um grande e querido amigo fez aniversário de 50 anos. Ele adora festas, motivo pelo qual não se privou deste prazer neste momento de celebração tão especial. Seguiu todos os protocolos recomendados pelos organismos de saúde e obteve sucesso. Não houve qualquer incidente de transmissão do vírus da covid na ocasião tão bem preparada. Quando chegamos ao encontro, conforme já houvera sido anunciado, fizemos o teste do PCR, cujo resultado saiu em 15 minutos. O mesmo ocorreu com cada um dos que prestaram serviços e com cada convidado. Somente tinha acesso ao evento quem testava negativo.

Como de costume, a festa foi maravilhosa. A grande diferença em relação ao que vivi nos últimos tempos foi a enorme liberdade sentida pelas pessoas para poderem se abraçar livremente. Vários que ali estavam não se viam fisicamente desde o início da pandemia e os encontros foram efusivos. Não há qualquer dúvida que o grupo Jotaquest está absolutamente certo!

*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.