Por Paulo Camara* – Com pouco mais de seis meses de acesso liberado ao público, o ChatGPT foi capaz de virar os planejamentos estratégicos de tecnologia da maioria das empresas do planeta de ponta cabeça, independentemente do setor ou tamanho. Não que Inteligência Artificial seja um tema novo na agenda das corporações, já que, definitivamente, não é. Inclusive, ele tem figurado, de maneira recorrente, como uma das maiores prioridades de investimentos nos últimos anos. Mas então, o que tem causado todo esse movimento? O que as empresas estão buscando – ou deveriam estar – e quais mudanças práticas elas precisam realizar nos seus planos anteriores?
A ferramenta da OpenAI é o membro mais conhecido de toda uma nova classe de soluções e plataformas e que vem se multiplicando desde então. O fato de estarem dando acesso de maneira criativa, massificada e, em boa medida, democrática, aos mais recentes avanços na área de inteligência artificial generativa (Gen AI) pode ser considerada como algumas de suas causas para isso.
O que o mundo descobriu no final do ano passado é que a capacidade da máquina em entender, processar e gerar linguagem, especialmente em formato de texto, avançou muito mais rápido do que se previa até então. Mesmo Bill Gates, que já acompanhava de perto o time da OpenAI, desde 2016, confessou que, ao testemunhar os avanços do ChatGPT no último ano, se viu diante “do mais importante avanço em tecnologia, desde a interface gráfica”.
Em razão disso, Yuval Harari, um dos mais conhecidos e importantes historiadores da atualidade, explicou que a “linguagem é o sistema operacional da civilização humana”, a ferramenta da qual é feita praticamente toda nossa cultura, leis, religiões, histórias e áreas de conhecimento. O que o Chat GPT e seus similares fizeram foi “hackear” esse sistema operacional. Computadores agora conseguem criar linguagem em diferentes formatos (texto, áudio, vídeo, software, etc.), não só em quantidade praticamente infinita, como já eram capazes, mas em qualidade equivalente ou, em casos crescentes, melhor que a imensa maioria dos humanos.
Se as prováveis consequências éticas e sociais desse novo momento ainda são alvo de intenso debate, com visões e previsões bem polarizadas, o gigantesco impacto econômico para as empresas já é dado como certo. O que a maioria dos CEOs e investidores já percebeu é que qualquer atividade intelectual humana, no contexto corporativo, que dependa ou faça uso de linguagem poderá, em breve, ser radicalmente otimizada e melhorada. Isso traz possíveis desdobramentos absolutamente fascinantes, especialmente em duas dimensões:
A primeira, mais óbvia e imediata é a de produtividade e eficiência. Muito brevemente, todos nós trabalhadores intelectuais teremos poderosos “co-pilotos” para nos ajudar. Não importa qual a profissão, qualquer que seja nossa área de atuação, os “estagiários inteligentes e globais”, como definiu Kevin Kelly, fundador da revista Wired, serão capazes de multiplicar, em algumas ordens de grandeza, nossa capacidade de análise, curadoria, criação e revisão de conhecimento. Essas mesmas capacidades, quando forem integradas na maioria das plataformas e soluções tecnológicas internas das empresas, trarão economias e ganhos de eficiência até difíceis de estimar atualmente. A IA Generativa tornará obsoleta nossa forma de trabalho atual, alterando, significativamente, a estrutura de custos e, por consequência, redefinindo a economia de escala, em boa parte das indústrias.
A segunda é a de personalização, quase que ilimitada, da experiência dos usuários e clientes. Pesquisas recentes têm mostrado que a maioria dos profissionais dessa área já usam, no dia a dia, algumas das atuais ferramentas de Gen AI para criar ou revisar e-mails de marketing, posts em redes sociais, imagens para campanhas, descrições de produtos e serviços. O custo dessa personalização, no entanto, ainda é um obstáculo para viabilizar ambições desse tipo. Análises mostram que, em alguns casos, um acesso ao Chat GPT pode custar quase cem vezes mais do que um equivalente ao Google. Porém, assim como aconteceu com a computação em nuvem, a evolução tecnológica e a competição irão, no médio prazo, tornar essa equação muito mais convidativa.
Com recompensas tão convidativas como essas, é fácil entender o frenesi desse tema, nos conselhos e salas de diretoria das empresas. Mas o quão rápido elas serão capazes de começar a capturar, em escala, esses ganhos? Infelizmente, a resposta não é 2023. E a razão é que elas próprias, e a tecnologia em si, não estão prontas (ainda). Te convido a acompanhar comigo essa evolução.
*Paulo Camara, CDO da CI&T;