Escândalo contra presidente do Sebrae pode levar Katia Abreu ao comando da instituição

Há mais de uma semana circula entre a direção do Sebrae Nacional e das suas regionais uma série de denúncias, que sugerem que o atual presidente e candidato à reeleição para um novo mandato de quatro anos, ex-deputado Carlos Melles, teria cometido improbidade administrativa, misoginia e assédio moral contra funcionárias da instituição. A situação política do ex-deputado ficou insustentável dentro da entidade, mas ele conta com apoio de parte do governo a das Confederações com assento na Administração do Sebrae para tentar se reeleger.

A definição da eleição está prevista para a próxima terça-feira. Mas a confusão é tamanha, que até lá pode haver mudanças nas candidaturas.

Transição

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin está ciente do escândalo, pois as denúncias, na forma de dois vídeos bastante comprometedores contra Carlos Melles chegaram à equipe de Transição do Governo Lula. O vice-presidente eleito chegou a pedir neste fim de semana o adiamento da eleição, mas o pedido foi negado.

O Sebrae alegou que não há como paralisar o processo que já teve a eleição de diretoria confirmada em todas as regionais. Faltaria agora apenas a eleição na entidade nacional. Para cancelar o processo, isso teria que invalidar todos os resultados das regionais, situação politicamente inviável.

Entretanto já há uma articulação no bastidores da Transição do Governo Lula para tentar levar o nome da senadora Kátia Abreu para a presidência da instituição.

A escolha de Katia seria uma forma da Transição e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sinalizarem ao agronegócio o prestígio e a sua disposição de ouvir os pleitos do setor. Não há informações se tal articulação já foi sacramentada em comum acordo com o atual governo.

Escândalo contra Melles

Dois vídeos contendo denúncias contra o presidente do Sebrae e candidato à reeleição, Carlos Melles, foram repassados para este blog. Os vídeos são um compilado de diversas reuniões realizadas no Sebrae Nacional e nelas aparecem o atual presidente fazendo uma série de declarações que são no mínimo estranhas para a conduta de alguém que ocupa um cargo de direção. Os vídeos contém uma numeração que sugerem que ao todo as denúncias estariam contidas em 53 arquivos. O Blog recebeu os vídeos de números 15/53 e 34/53.

No primeiro vídeo (nº 15/53) Carlos Meles fala de alguns processos de contratação no Sebrae Nacional e sugere que interferiu diretamente na cotação de preços. E naqueles que empresários não quiseram a sua interferência, acabaram ou não sendo renovados/contratados ou tiveram resultados financeiros menores que o esperado. O presidente do Sebrae Nacional tem um modelo bastante peculiar de negociação com empresas. Segundo ele, “Tem que pagar e agradecer”.

Um dos casos em destaque trata de um reajuste da Unimed na entidade. Melles deixa claro aos seus interlocutores que, como a direção do plano de saúde aparentemente não quis a sua ajuda para interferir na negociação, o valor acabou saindo num percentual bem menor que o solicitado pela empresa. A Unimed teria solicitado um reajuste torno de 3,9% mas em negociação com a diretoria Administrativa só conseguiu 1,9%.

Há também críticas feitas por Melles com relação a um processo de revisão que a direção do Sebrae Nacional desejava fazer em seu Código de Ética, pagamentos de patrocínios com valores acima dos praticados pela entidade e a sua defesa no sentido do Sebrae gastar todo o seu orçamento até o fim do exercício fiscal, por entender que “o dinheiro é secundário (…) preço pra mim é secundário”. No mesmo vídeo Melles ainda sugere ter cometido até crime eleitoral na última eleição que disputou ao contar que recebia apoios políticos com base em pagamentos superfaturados para prefeituras de amigos através de emendas ao Orçamento da União.

Assédio Moral e Misoginia

No segundo vídeo ( nº34/53) o presidente do Sebrae em diversas reuniões desqualificou publicamente o trabalho de funcionários e no caso de algumas funcionárias da entidade deu claros sinais de misoginia e assédio moral. Interrompe bruscamente quando elas estão explicando algum problema e faz até ameaças de demissão para quem “não colaborar”. Chega até a ameaçar outros diretores que não façam o trabalho como ele deseja.

No vídeo constata-se um detalhe interessante e muito comum no país e em diversas corporações. Os ataques de Carlos Melles contra funcionárias sempre ocorre em reuniões que contam com a presença de vários homens. Mas nenhum deles é capaz de interferir em favor da colega de trabalho. Simplesmente os homens que participam das reuniões se calam e assistem passivamente o festival de humilhações do presidente do Sebrae contra elas.

Melles chega ao desplante de numa reunião dizer quais são os principais critérios exigidos por ele para contratar funcionárias para o Sebrae: tem de ser “jovem, bonita”.

“Você fala pra cacete”, foi como reagiu Melles a uma funcionária que estava se defendendo de alguma acusação feita por ele e tentando explicar alguma situação. Até mesmo uma advogada ele destratou publicamente, com relação ao trabalho que desempenhava na entidade. Disse que ela seria “uma advogada mais ou menos”. No vídeo vê-se que a profissional ficou calada mas só faltou chorar pela humilhação que sofreu.

OBSERVAÇÃO – A PEDIDO DA ADVOGADA, QUE FOI HUMILHADA POR CARLOS MELLES, O VÍDEO FOI RETIRADO DO AR. POIS O INTUITO SEMPRE FOI O DE COMBATER ESSES ABUSOS. CÓPIA DELE EM PODER DESTE BLOG ESTÁ GUARDADA, PARA EVENTUAL PEDIDO DE INFORMAÇÕES DE ORGANISMOS DE CONTROLE OU O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, COM VISTAS A APURAR OS ATOS COMETIDOS PELO PRESIDENTE DO SEBRAE NACIONAL.

Na mesma reunião um outra funcionária, cansada de ser criticada pelo presidente do Sebrae Nacional, acabou se insurgindo contra o tratamento que vinha sendo dado à ela e às demais funcionárias, pedindo respeito às profissionais do Sebrae. Inclusive à advogada que acabara de ser humilhada por ele. Mas Carlos Melles sempre fica com a palavra final nas discussões porque intimida os funcionários com ameaças de demissão.

Em outro dado momento ele expulsa funcionários da reunião e diz para uma servidora da área Administrativa que ela esta dispensada de comentar que a diretoria vetou um contrato de R$ 1,6 milhão; que Melles tinha interesse em aprovar com uma consultoria, que desenvolveria uma “estratégia nacional” para execução de políticas para micro e pequenas empresas. “Você fica dispensada dessa observação”, disse o presidente do Sebrae Nacional.

Todas as denúncias dos funcionários já foram apresentadas à Ouvidoria do Sebrae, mas aparentemente nada foi feito pelo órgão que deveria fazer a investigação desses episódios. A equipe do Sebrae tem sido massacrada constantemente e apenas dois vídeos já foram suficientes para mostrar a que ponto uma instituição séria chegou.

Curiosamente, Carlos Melles deverá ser eleito com o apoio da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da Caixa Econômica Federal, os dois únicos órgãos do Poder Executivo que estariam apoiando a candidatura dele, até que esse escândalo tornou-se público e passou por diversas esferas de poder em Brasília.

É de se questionar como a Caixa Econômica Federal está apoiando a candidatura de alguém que está sendo acusado de praticar misoginia dentro do Sebrae? Um banco público que recentemente demitiu quase toda a sua direção, além do presidente, depois que a imprensa divulgou escândalo bastante semelhante, que só era mais grave porque também envolvia denúncias de assédio sexual?

*O Blog aguarda um pronunciamento oficial do Sebrae.