No último dia 25 de agosto a DrumWave, empresa especializada em monetização de dados com sede no Vale do Silício e criada por brasileiros, anunciou oficialmente as suas operações no Brasil. Trata-se da mesma empresa que tem um “Acordo de Cooperação” com o Serpro, no qual se recusa a informar os objetivos. A estatal também se negou a informar em pedido de acesso à informação pela LAI alegando “sigilo comercial”. As operações comerciais da Drumwave no Brasil serão suportadas pela nuvem e a Inteligência artificial da IBM, uma das multinacionais que, coincidência ou não, atua no Serpro como provedora de nuvem (após o anúncio oficial desse contrato descobriu-se que ele tem o valor de R$ 40,3 milhões).
A “notícia” se espalhou na última semana pelos principais veículos de comunicação do país, sem que ninguém tenha questionado claramente como se dará esse novo modelo de negócios, praticamente inédito no mundo e como os dados de brasileiros serão adquiridos pelas empresas. Apenas dois textos feitos pelos assessores de imprensa dessas companhias enaltecem o “empoderamento” que titular dos dados terá a partir de agora, ao poder escolher para quem irá vendê-los no mercado brasileiro e mundial.
No texto da IBM, a DrumWave é apresentada ao futuro consumidor como a empresa que fará com ele esteja “no controle de seus dados”. A multinacional informa que não comercializará os dados e não terá comissão pela monetização que será feita pela DrumWave.
“Hospedada na IBM Cloud, a dWallet® adota uma abordagem flexível de nuvem híbrida para conectar e acessar dados on-premise ou em várias nuvens e alavanca o IBM Cloud Pak for Data. Isso simplifica o acesso aos dados do cliente, descobrindo e organizando-os automaticamente para fornecer ofertas acionáveis aos usuários, enquanto automatiza a aplicação de políticas para proteger seu uso. Além disso, o IBM Watson Knowledge Catalog no IBM Cloud Pak for Data on IBM Cloud foi implementado para catalogação de dados e criação de perfil para a DrumWave gerenciar as diversas fontes de dados em um só lugar”, informa.
Quanta bondade, levando em conta que todo o mercado que guarda dados de brasileiros na plataforma de sua nuvem (IBM/Watson), deverá ser assediada para fechar acordos com a parceira do Vale do Silício, que poderá gerar até uma transferência internacional dessas informações. Quem sabe até mesmo o Serpro estará envolvido nisso, já que a estatal se recusou a informar claramente o acordo que assinou até dezembro com a DrumWave.
No comunicado da IBM, fica claro que a DrumWave irá negociar no Brasil os dados de brasileiros. O que não está muito claro é como eles serão obtidos. Supõe-se que será por iniciativa dos próprios brasileiros após conhecerem melhor o “produto”, tarefa para o Marketing da DrumWave.
Mas a IBM deu uma pista sobre como será essa operação e há sérios indícios de que, além da cessão das informações de consumidores transferidas por diversos setores da economia interessados em remunerar e fidelizar seus clientes, as bases de dados federais hospedadas no Serpro poderão ser usadas também para criar um perfil de cada consumidor a ser atacado, nesse “assédio comercial” informado pela IBM. Da mesma forma que a DrumWave pode entrar no banco de dados de uma instituição financeira para buscar e estabelecer um perfil, não está descartado que ela acesse as informações armazenadas pelo Serpro para reforçar validar esse mesmo perfil.
“Todas as informações alimentadas na plataforma podem ser disponibilizadas a empresas de diversos setores, como varejo, financeiro, telecomunicações, saúde, indústria, entre outros, dando ao usuário o poder de centralizar em um só local os seus dados coletados por diferentes tipos de serviços digitais. Com isso, é possível decidir se e como licencia o acesso aos seus dados com terceiros ao aceitar uma oferta postada na sua dWallet. Ele pode monetizar seus dados de diferentes formas – receber uma compensação financeira na forma de cash ou descontos, investir seus dados e também comprar pagando com dados”, explicou a IBM.
O Serpro pode até negar que vá transferir dados de brasileiros para a DrumWave, pode até alegar que atuará apenas como o seu serviço de validação das informações dos futuros assinantes da dWallet®. Porém não pode negar que essa comercialização de dados pessoais, no qual, está sendo prometido aos consumidores algum ganho, nasceu dentro do Ministério da Economia, um interessado direto no assunto, após a realização de diversas reuniões em que participaram as principais autoridades da área de Governo Digital, a direção da estatal, da DrumWave e da IBM.
Ao todo foram realizadas pelo Ministério da Economia nove reuniões ocorridas entre 1º de fevereiro e 25 de julho deste ano. Essas “reuniões preliminares”, que ocorreram por meio de videoconferência, movimentaram as agendas de pelo menos 34 autoridades do governo e executivos da iniciativa privada – segundo informou este blog na sua edição do dia 29 de julho deste ano.
Enquanto isso, dorme em absoluto silêncio a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Um pequeno filhote de paquiderme, que só se move quando é espetado pela lança afiada da grande imprensa. A mesma que, por questões comerciai($), continua calada diante do assunto, se limitando a publicar apenas as informações que as empresas divulgam, sem questionar absolutamente nada. Numa espécie de “parceria branca” com o Marketing da DrumWave.
*Tudo indica que já já veremos publicidade pipocando nas páginas especializadas de veículos que cobrem tecnologia.