Diretoria do Serpro racha e não apoia presidente para aposentar funcionário acima de 70 anos

O presidente do Serpro, Alexandre Amorim, já não tem maioria na diretoria. Pelo menos não na nova guerra que criou dentro da estatal, por conta da proposta de reduzir para 70 anos a idade para aposentadoria compulsória. Medida que contraria a prática no serviço público federal, que tem como teto a idade de 75 anos. Se aprovada, a decisão de Amorim atingiria hoje cerca de 350 trabalhadores da empresa nessa faixa etária e num prazo de três anos cerca de 1.700 funcionários.

A propsta de Alexandre Amorim é, no mínimo curiosa, para um governo que tem o presidente Lula ocupando um cargo aos 79 anos de idade, que foram completados no último dia 27 de outubro. Por sinal, Lula é o presidente mais velho do país após desbancar Michel Temer, que deixou o cargo aos 78 anos de idade. E pelas declarações recentes que deu não tem intenções de parar, pois já sinalizou que pretende disputar a reeleição em 2026.

Mas para o presidente do Serpro, a ideia de contar nos quadros da empresa com trabalhadores com mais de 70 anos de idade parece ser algo abominável. Tanto que já fez ameaças a diretores que são funcionários na estatal de perderem os seus cargos, caso resolvam votar contra a sua proposta.

Novos “Horizontes

A ideia de Amorim não visa apenas os “velhinhos” de 70. O interesse dele é se livrar de uma massa maior de trabalhadores que se encontram numa faixa estária próxima de completar os 70. Esse pessoal acabaria optando por permanecer no cargo até chegar à idade compulsória ou adere agora a um plano de demissão voluntário denominado pelo presidente de “Novos Horizontes”.

Um plano que, antes dessas novidades administrativas, tinha tudo para ser rejeitado e obter baixa adesão, pois não trazia nenhum incentivo financeiro para o funcionário deixar de trabalhar depois de anos prestando serviços ao Serpro. Segundo funcionários da empresa, o plano de Amorim chega a ser pior do que o apresentado pela direção durante o Governo Bolsonaro, que tinha o interesse de se livrar do máximo possível de funcionários para enxugar a folha com objetivo de privatizar a estatal.

Há ainda um pacote de maldades contra os funcionários da empresa, que vai além dessa proposta de chutar “velhinhos”. O presidente da estatal também quer mudar o organograma e acabar com as funções dentro do Serpro de Supervisor e Chefe de setor, além de reduzir funções de Chefe de Divisão, com a justificativa de que tais medidas deixarão a empresa “mais horizontal”.

Também foram criados novos requisitos para se ocupar o cargo de Gerente na empresa, que obrigatoriamente terá de apresentar curso superior (Analista), excluindo os funcionários de nível técnico. Além disso, aqueles que por alguma razão moveram ações judiciais contra a empresa estão excluídos dessa possibilidade de assumir a Gerência, medida que atingiria hoje um contingente de mil empregados.

Um fato que chama a atenção é que boa parte desses funcionários entraram com ações trabalhistas nos governos Temer e Bolsonaro, por causa de perseguições políticas, de cunho ideológico, que na época era chamada de “caça aos petistas”, que chegaram até figurar em listinhas produzidas pelos funcionários bolsonaristas. Ao aplicar essa estratégia, o presidente do Serpro Alexandre Amorim, em pleno governo do PT, cria um novo empecilho para os funcionários almejarem crescer nas carreiras. Pois a medida acaba beneficiando justamente aqueles colegas de trabalho que lá atrás foram os seus algozes e promoveram a perseguição política, pois eles não têm ações trabalhistas contra a empresa.

Mas a estratégia do presidente do Serpro não se restringe apenas a impedir o acesso de funcionários a cargos de gerência, enxugar o organograma ou a expulsar aqueles acima de 70 anos. Com a aposentadoria compulsória, Alexandre Amorim tem a possibilidade de trazer do mercado, sem concurso, um contingente de apadrinhados políticos que irão ocupar 45 novas vagas. Algumas até para Superintendentes e Gerentes de Departamentos.

Diretoria rachada

Proposta tão polêmica, que mexe com toda a estrutura atual do Serpro, não poderia ser avaliada se não fosse em nível de reunião de diretoria. Amorim não queria tal reunião, esperava passar a proposta sem o desgaste dos votos de ninguém, como se fosse uma decisão tomada com a aprovação de todos. Só que não foi assim. A atual composição deixa margens para avaliar e duvidar se ele tem a maoria que acredita possuir no quadro diretório do Serpro.

Os perfis dizem que não e ainda guardam algumas estranhezas.

Alexandre Amorim

O presidente do Serpro, Alexandre Amorim, é a prova cabal de que o PT precisa passar por uma reciclagem como partido e por uma reforma ministerial.

Amorim é o pai das reformas administratvas que deseja impor no Serpro, que prejudicarão a já abalada imagem do PT dentro da estatal, uma vez que poucas mudanças foram feitas na virada de governos Bolsonaro/Lula. Decisão que irritou quem foi perseguido politicamente, além daqueles que sofreram com a perspectiva de desemprego após a estratégia de privatização no governo bolsonarista.

Entrou no cargo por pedido feito pelo Advogado do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho (direita da foto) e o deputado estadual Emidio de Souza, que também é Advogado, ex-metalúrgico e participou da fundação do PT. Emídio foi prefeito de Osasco por duas vezes, mas na eleição municipal deste ano perdeu feio para Gerson Pessoa (Podemos), que teve 75,28% dos votos dados a todos os candidatos. Emídio amargou um segundo lugar com apenas 15,07% dos votos.

Em Brasília Alexandre Amorim conta também com o suporte político do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), e no centrão com o apoio do pefeito de Curitiba Rafael Greca, que deixará o cargo em janeiro, após a eleição de seu colega de partdo, Eduardo Pimentel (PSD).

Alexandre Maimoni

O único voto que o presidentedo Serpro vem considerando como certo para a aprovação da sua proposta é o do Diretor Jurídico, de Gestão e Riscos, Alexandre Maimoni. De fato, Maimoni já foi à público defender as mudanças administrativas, mesmo sabendo que essa decisão irá expor politicamente o ex-deputado e ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini (PT). O problema é que Alexande Maimoni só está na diretoria do Serpro por conta do apoio que teve do presidente da empresa. Berzoini não tinha cacife político para emplacar o nome do Advogado e acabou sendo apoiado por Alexandre Amorim.

Ariadne Fonseca

Este é o voto mais complicado de se prever na dietoria. Se irá apoiar o presidente do Serpro, Alexandre Amorim, ou se vai ficar do lado dos funcionários, uma vez que ela é do quadro. Ariadne de Santa Teresa Lopes Fonseca ingressou no Serpro ainda em 1984 como estagiária na Regional Porto Alegre e, a partir do ano seguinte, já se tornou programadora, utilizando diversas linguagens da época. Na década de 90, começou a trabalhar junto aos clientes, se aproximando da Receita e coordenando, em 2000, durante o chamado “bug do milênio”, a adaptação e migração de todos os seus sistemas.

Vem sofrendo constangimentos por parte do presidente, que já manifestou publicamente que, funcionário do Serpro que esteja ocupando vaga na diretoria, se votar contra a reforma administrativa que deseja implantar, perderá a confiança e, por tabela, o cargo. Ariadne foi uma manobra feita pelo ex-diretor de Clientes, André de Cesero, para continuar controlando os contratos da Receita Federal. Amorim apostou nessa estratégia devido ao fato dela ser bem vista junto à direção de TI do Fisco.

Marco Aurélio Sobrosa

Indicado para a Diretoria de Pessoas pelos funcionários do Serpro, Marco Aurélio Sobrosa Friedl, já manifestou que votará contra a reforma admistrativa de Alexandre Amorim. Por consequência, deveá ser um dos diretores “da casa” que perderá o cargo em breve. Nenhum problema para Sobrosa, que chegou a redigir uma carta renunciando o cargo, ao tomar conhecimento das mudanças que o presidente deseja implementar. A carta só não foi entregue, porque Sobrosa decidiu marcar posição política no Serpro. Se Amorim não concordar com o voto dele que trate de exonerá-lo. Será a forma dele mostrar para os colegas trabalhadores de que lado está.

Osmar Quirino da Silva

O diretor de Administração e Finanças do Serpro, Osmar Quirino da Silva, entrou para o cargo com o apoio de Romênio Pereira, fundador do PT e atual membro da Executiva Nacional do partido. Romênio é irmão do ex-deputado do PT-DF, Geraldo Magela, figura proeminente no quadro partidário do PT no Distrito Federal. Osmar recém entrou no Serpro e pouco se sabe ainda de como seá a sua conduta na votação. Mas fica a dúvida se, tendo padrinhos do PT, será capaz de votar uma reforma administrativa que irá contra os interesses dos trabalhadores do Serpro.

Wilton Mota

Wiltn Itaiguara Gonçalves Mota assumiu há u mês o cargo de Diretor de Operações do Serpro, sem o apoio de Alexandre Amorim e a cúpula do PT que sustenta politicamente o presidente da estatal.

Só emplacou o nome por contar com o apoio da base sindical, entre eles o presidente da Fenadados, Carlos Alberto Valadares, o “Gandola”, além do ex- dirigente da CUT-DF, José Zunga.

Zunga hoje atua como assessor da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Bastou saber que a indicação era de um técnico competente, dos quadros da empresa, com ligações junto ao partido, embora não seja filiado à ele, Gleisi endoçou a indicação de Wilton Mota na hora.

Ainda quando postulava a vaga de diretor, Wilton Mota também recebeu apoio do senador Davi Alcolumbre (União-AP), que tudo indica será o futuro presidente do Congresso Nacional. Foi o suficiente para a ala do PT paulista que apoia politicamente Alexandre Amorim recolher os “flaps” e não trombar de frente com o padrinho do Centrão. Quem explicaria depois para o idoso presidente Lula, que além de “queimar” uma indicação do futuro presidente do Congresso Nacional, ainda aprovaram uma redução de idade para expulsar funcionários com mais de 70 anos em uma estatal?

A decisão sobre a reforma admistrativa de Alexandre Amorim pode ser decidida ainda hoje numa reunião de diretoria que ainda está ocorrendo no Sepro.