
O vice-presidente da ABINC (Associação Brasileira de Internet das Coisas), Flávio Maeda, defendeu ontem (23) durante webinar da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), os avanços e metas do programa “Open Industry” – uma iniciativa que busca posicionar o Brasil como protagonista na nova economia de dados e na implantação de Data Spaces industriais. O programa é fruto da cooperação entre ABINC, ABDI, CNI, e parceiros nacionais e internacionais — entre eles a International Data Spaces Association (IDSA) e o GAIA-X, movimento europeu que estrutura ecossistemas de dados interoperáveis e seguros.
Segundo Maeda, o Open Industry foi inspirado no sucesso do Open Finance, que transformou o setor financeiro ao permitir o compartilhamento seguro de dados entre instituições. “Nosso objetivo é expandir esse pioneirismo para o setor produtivo. Assim como o sistema financeiro aprendeu a interoperar dados, queremos que a indústria, o agro, a energia e outros segmentos também o façam — de forma soberana e responsável”, afirmou.
A missão do programa é criar as condições para que dados industriais circulem de forma segura dentro da cadeia produtiva, tornando-se um ativo estratégico comparável a máquinas, equipamentos e capital humano. “A economia digital depende do fluxo de dados, e é isso que queremos viabilizar no Brasil”, resumiu.
Três pilares
Maeda explicou que o Open Industry se apoia em três pilares estruturantes:
- Marco jurídico e regulatório – garantir um ambiente legal seguro, que estimule a inovação sem comprometer a privacidade e a soberania dos dados;
- Infraestrutura tecnológica aberta – promover padrões internacionais e o uso de tecnologias open source, em alinhamento com a IDSA e normas ISO/IEC;
- Formação de ecossistemas – criar ambientes de colaboração entre empresas, governo e academia, estimulando a criação de Data Spaces e projetos-piloto (“Lighthouse Projects”) em setores estratégicos.
Parcerias internacionais
A ABINC lidera, junto com a ABNT, o início da normalização técnica do IoT, gêmeos digitais e Data Spaces no Brasil, com base nas referências internacionais ISO e IEC. O trabalho é complementado pela criação de um Hub brasileiro da IDSA, lançado em 2024, e pelo futuro Hub GAIA-X Brasil, que será inaugurado em 28 de outubro no Cubo Itaú, em São Paulo, com a presença do CEO da GAIA-X, Urit Aller. “A normalização é essencial. Não há economia de dados sem padrões globais. O Brasil precisa falar a mesma língua tecnológica da Europa e da Ásia se quiser competir de forma integrada”, destacou Maeda.
Um dos diferenciais do programa é o foco em resultados concretos. O Open Industry pretende funcionar como uma “máquina de projetos”, identificando casos de uso e promovendo pilotos de Data Spaces em áreas como manufatura, agronegócio, energia, logística, cidades inteligentes e saúde.
Em 2024 e 2025, a ABINC e a VDMA (Associação Alemã de Engenharia Mecânica) realizaram road shows em polos industriais de Belo Horizonte, Manaus, Caxias do Sul e São Paulo, apresentando o conceito de Data Spaces a empresas locais. O Brasil será ainda país-parceiro da feira Hannover Messe 2026, onde pretende apresentar o primeiro demonstrador nacional de Data Spaces, em parceria com a ApexBrasil, o MDIC e a CNI.
Inteligência artificial e soberania de dados
Para Maeda, o avanço dos Data Spaces é também condição para o desenvolvimento da inteligência artificial industrial. “A IA precisa de dados — e muitos desses dados estão em sensores, máquinas e sistemas físicos. O Open Industry cria o caminho para que essas informações circulem de forma segura, soberana e responsável”, ressaltou.
Encerrando sua fala, o vice-presidente da ABINC destacou que o movimento depende da adesão das empresas. “O Open Industry não é uma iniciativa apenas da ABINC. É um projeto de país. Precisamos que a indústria participe, que traga suas dores, suas demandas e suas ideias. Quem quiser ser pioneiro nessa jornada de inserção do Brasil na economia de dados está convidado a fazer parte”, concluiu Maeda.
Mais informações sobre o programa estão disponíveis no site oficial da ABINC e no portal do Open Industry.







