Dataprev: Canuto quer nomear diretor de Tecnologia que opera contrato vencido da Oracle

O presidente da Dataprev, Gustavo Canuto, pretende nomear para a Diretoria de Tecnologia e Operações (DIT) o funcionário Antonio Hobmeir Neto, atual Superintendente de Arquitetura e Tecnologias de Infraestrutura da estatal. Ele vem sendo apontado dentro da empresa como o principal responsável pela manutenção de um polêmico contrato de uso de um servidor de aplicações da Oracle que custou R$ 28,7 milhões. O contrato foi encerrado em junho de 2016, mas até hoje continua em operação. Segundo fontes ele vem levando a estatal a acumular um ‘débito técnico’ (a empresa pública não paga pelos serviços à multinacional, pois não tem como justificar a operação) que a preços de hoje estaria na casa dos R$ 180 milhões.

A concretização desta dança de cadeiras dentro da Dataprev terá dois episódios e está prevista para começar nesta sexta-feira (27) com a saída do atual titular, Gustavo Sanches, que entrará de férias. O seu retorno está previsto para o próximo dia 14 de junho quando, então, o presidente da estatal, Gustavo Canuto, fará a mudança na diretoria com a nomeação de Hobmeir. O nome dele como substituto ainda não passou pelo Conselho de Administração.

Coincidências

A carreira de Superintendente de Arquitetura Antonio Hobmeir Neto curiosamente vem se confundindo, de fato, com os períodos de alta e baixa na atuação comercial da Oracle dentro da Dataprev. Há anos ele atua neste posto-chave da estatal e sua presença no cargo supostamente tem sido marcada por decisões em favor da multinacional que são temerárias do ponto de vista administrativo para a empresa.

Sua primeira ascensão ao cargo de superintendente começou na gestão do presidente Rodrigo Assumpção durante os governos do PT. Na época ele foi a escolha do então Diretor de Tecnologia e Operações, Daniel Darlen. E permaneceu na função até 2016 quando o PT deixou o poder após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com a chegada da nova diretoria nomeada pelo presidente Michel Temer, o então diretor Daniel Darlen deixou a empresa para ocupar uma vaga numa diretoria da Oracle voltada para contratos com o governo. Sem “padrinho” para sustentá-lo no cargo, Hobmeir perdeu a superintendência e ficou na “geladeira” da Dataprev, mas não por muito tempo. Dois anos depois, com a chegada do Governo Bolsonaro em 2019 ele novamente conseguiu retornar para a velha função.

O retorno de Hobmeir para esse posto na estatal foi estratégico para a Oracle na época. Primeiro, porque a empresa vinha do governo Temer com um contrato de servidor de aplicações vencido, mas apesar da não renovação ainda continuava em operação, embora a estatal não pagasse pelo serviço. E em segundo lugar, a presença dele inibiria um avanço de novos fornecedores que ocorreu dentro da empresa no período de transição dos governos Temer/Bolsonaro, após o fim da gestão petista.

A diretoria que ocupava a Dataprev, ainda no Governo Temer, passou a adotar a estratégia de reduzir sua dependência tecnológica com o servidor de aplicações “Werblogic” da Oracle que estava em vias de ter o contrato encerrado. Como nesse período Hobmeir estava na “geladeira”, coincidência ou não, a ausência dele, permitiu serem implantadas alternativas tecnológicas no servidor de aplicações, com duas novas linguagens baseadas em plataformas abertas: o JBoss (só que teria suporte da RedHat) e kubernets (microserviços).

Como o contrato com a Oracle estava vencido e já havia a decisão de que não seria renovado, essas novas soluções entraram como “padronização ao “Weblogic”, considerada pelos técnicos como uma tecnologia ultrapassada e cara. As duas alternativas (JBoss e Kubernets) custariam, em tese, 10% ou menos do que o valor do Weblogic/Oracle.

Só que ocorreu novamente a mudança dos Governos Temer para Bolsonaro. Foi o suficiente para Hobmeir se reposicionar dentro da estatal e acabou retornando à Superintendência de Arquitetura. Ele foi nomeado pelo então Diretor de Tecnologia e Operações, Thiago Oliveira, um funcionário do Serpro que ganhou esse espaço durante a gestão da presidente da Dataprev, Christiane Edington. Neste período Hobmeir teve força política para interferir diretamente no processo de independência do Werblogic da Oracle iniciado na gestão anterior, travando todas as orientações estratégicas aprovadas em Conselho de Administração da empresa.

Interferindo contra os demais parceiros tecnológicos em favor da Oracle, Antonio Hobmeir, tinha entretanto, um problema administrativo do tamanho de um bonde para resolver, em virtude da longevidade de um contrato vencido em 2016, mas que continuou em operação, gerando “deploy” de novas licenças, que já somavam na época R$ 150 milhões em débito técnico. O contrato original vencido da Oracle, lembrem-se, não passava de R$ 28,7 milhões.

Obviamente era muito dinheiro para a Dataprev reconhecer como dívida por serviços prestados pela Oracle sem a cobertura financeira necessária. Coisa que fatalmente acabaria chamando a atenção dos órgãos de controle, para não dizer da própria controladoria da empresa. Que até agora nada fez, sob o comando da ainda Diretora de Governança, Isabel Luiza Santos.

Só que essa atuação dos gestores com a Oracle já bateu na casa dos R$ 180 milhões em débito técnico segundo avaliam agora fontes da empresa. E o bolo tende a crescer, numa estatal que tem R$ 117 milhões em orçamento de investimentos, mas somente investiu R$ 4 milhões até o momento. A multinacional domina os contratos dentro da empresa, gerando uma dependência tecnológica de causar inveja à velha Unisys, que ainda tem contrato, mas não passa da casa dos R$ 68 milhões.

Alternativa

Já sabendo que esse problema um dia vai acabar levando vários CPFs a darem um passeio de camburão até a Controladoria-Geral da União ou ao Tribunal de Contas da União, na melhor das hipóteses, o presidente da Dataprev, Gustavo Canuto, está manobrando diretamente para colocar no poder novamente quem produziu esse abacaxi financeiro em contato direto com a Oracle.

Como alternativa para o imbróglio administrativo, a multinacional vem há tempos tentando vender para a Dataprev alguns equipamentos de “Hexalogic”, em troca dela dar a dívida do Weblogic como quitada. Talvez seja esse o motivo para a Oracle até hoje continuar mantendo um contrato vencido de R$ 28,7 milhões, que supostamente já bateu na casa do débito técnico em R$ 180 milhões, ao invés de cobrar a dívida contra a Dataprev na Justiça.

Provavelmente a multinacional esperava a melhor “oportunidade política” para sanar o problema. Ao que parece essa “ocasião” chegou com a indicação de Antonio Hobmeir para a DIT. Só falta a nomeação dele passar pelo Conselho de Administração, órgão máximo da estatal e comandado com braço de ferro por Christiane Edington. Depois ainda precisa da assinatura do Ato pelo presidente Gustavo Canuto.

*A conferir.