Por Marcus Granadeiro* – Quando falamos da implantação do BIM (Building Information Modeling) não devemos encará-la como um projeto, mas sim como uma jornada que precisa estar embasada em um planejamento com acompanhamento estratégico que inclua uma visão de longo prazo. Este conceito é tão claro que a própria norma NBR ISO 19650 define graus de maturidade para esta jornada.
Um dos pontos que deixa a implantação do BIM complexa, sendo que não épossível resolvê-la em um só projeto, está relacionado ao processo de gestão da informação. E este é o foco da ISO 19650, que define um objetivo simples, mas extremamente complicado de se alcançar: é necessário entregar a informação exata, nem mais nem menos, para quem precisa tomar a decisão no momento certo.
Para que isso ocorra, o envolvimento dos participantes deve ser muito intenso e colaborativo. Isso significa que há necessidade de mudança na mentalidade do setor com a adoção de maior confiança, menos medo de errar e uma visão menos imediatista. Isso não se consegue apenas com a adesão de um departamento ou apostando em um projeto piloto, mas sim com a participação das esferas mais estratégicas da empresa trabalhando juntas e alinhadas em termos de visão.
Nos dias de hoje, a questão não é decidir implantar ou não, mas como será a jornada do BIM na empresa. A implementação a longo prazo é certeza para todas as organizações, mas realizar projetos simples, como os pilotos para “validar o conceito BIM” ou para atender determinado cliente ou contrato é um erro estratégico grave. Essa prática apenas vai deixar a jornada mais longa e com certeza mais custosa. Além disso, a procrastinação fará com que se perca a oportunidade de se obter vantagem competitiva com a tecnologia.
O melhor início não é o que se parece óbvio: após uma apresentação de um software de modelagem bacana, basta comprá-lo e realizar um treinamento básico com a equipe. Este até pode ser o primeiro passo de uma estratégia, mas o melhor início é definir a estratégia por meio da resposta sobre a questão principal da norma: como entregar a informação necessária para as pessoas corretas e no tempo correto?
O tipo de tecnologia, as ferramentas a serem usadas ou como gerar e contratar o modelo para uso são questões secundárias e que se resolverão mais facilmente com uma estratégia bem definida e disseminada por toda a organização. Com a estratégia, as principais dores serão resolvidas de forma prioritária, dando força para mais investimentos e criando um ciclo virtuoso.
* Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts.