
Ao participar hoje (08) por videoconferência, de audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, o professor Yodan Xiao, do Instituto de Ciência e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências, defendeu a ampliação da cooperação tecnológica entre os países do Sul Global, especialmente dentro do bloco BRICS. Segundo ele, a construção de uma nova arquitetura digital multipolar é essencial para reduzir a dependência das nações em relação a potências tecnológicas ocidentais.
“Precisamos de um BRICS Digital capaz de equilibrar o poder tecnológico global e garantir que a transformação digital sirva ao desenvolvimento humano — não apenas aos interesses das grandes corporações,” destacou.
Dependência
Yodan Xiao afirmou que a concentração de tecnologias críticas em poucos países cria um ambiente de dependência digital e vulnerabilidade econômica. “A dominância tecnológica de algumas nações é danosa, pois impõe dependência e normas que não refletem nossos contextos locais”, afirmou. Ele citou a cadeia global de suprimentos de chips, semicondutores e softwares como exemplo de um sistema que, por estar geograficamente concentrado, torna as economias do Sul Global suscetíveis a disputas políticas e comerciais.
O professor enfatizou que a coalizão do BRICS — agora responsável por cerca de 30% do PIB mundial e mais da metade da população global — tem escala suficiente para alterar o equilíbrio tecnológico global. “Estamos transformando diálogos em ações concretas. Já aprovamos mais de 120 projetos de infraestrutura e pesquisa para reduzir nossa dependência em tecnologias estrangeiras de IA”, afirmou.
Entre as iniciativas mencionadas estão programas de financiamento conjunto em pesquisa e desenvolvimento, uso de moedas locais para transações digitais e a criação de infraestruturas próprias de nuvem e dados que reforcem a autonomia digital dos países membros.
Yodan explicou que a abordagem chinesa busca combinar soberania com interdependência entre as nações do Sul Global, por meio de inovação colaborativa. “A soberania digital não é isolamento. É a capacidade de cada país definir seu destino tecnológico e compartilhar conhecimento dentro de alianças confiáveis”, disse.
A China, segundo ele, vem implementando uma Lei de Comercialização da Tecnologia, versão local de uma lei de inovação, que incentiva a transferência de conhecimento entre universidades e empresas. O objetivo é consolidar uma base tecnológica doméstica robusta, com proteção à propriedade intelectual, ampliação do market share chinês e segurança jurídica para dados e produtos.
Segurança e legislação digital
O professor lembrou que a proteção de dados pessoais é um dos pilares centrais da política digital chinesa. O país conta com uma estrutura legal baseada na Lei de Cibersegurança e na Lei de Proteção de Dados Pessoais, complementadas por dispositivos do Código Penal que tratam de crimes como o roubo de dados.
“O roubo de dados é um crime grave. Nossas leis garantem que os dados pessoais estejam protegidos e que as empresas operem dentro de parâmetros éticos e legais”, afirmou.
IA na prevenção de crimes
Até 2027, segundo Yodan, a China pretende concluir um projeto nacional de IA voltado à prevenção de crimes digitais e uso ético de algoritmos. Além disso, há planos de aplicar tecnologias de inteligência artificial em agricultura, saúde e serviços públicos, com foco em sustentabilidade e interoperabilidade entre os países do BRICS.
Ele também defendeu a criação de padrões interoperáveis e sistemas de governança digital que garantam a inclusão de países menos desenvolvidos e reduzam o que chamou de “violência digital” — a concentração de poder tecnológico em poucos atores.
Encerrando sua fala, Yodan Xiao afirmou que o futuro digital será determinado pela cooperação e confiança entre nações. “A soberania digital não deve ser vista como isolamento, mas como construção coletiva. Com colaboração transparente e códigos éticos compartilhados, podemos criar um ecossistema tecnológico mais equilibrado e inclusivo”, concluiu.
O professor Yodan Xiao, do Instituto de Ciência e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências, participou da audiência na CCTI sobre o tema: “Soberania Tecnológica no Brasil, no Sul Global, nos países Brics”.
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