Ceitec quer retomar produção em 2024 com projetos paralisados no Governo Bolsonaro

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, participou hoje (14) em Porto Alegre (RS), da solenidade de retomada das operações da fábrica de semicondutores Ceitec S/A. Disse que a meta inicial é investir R$ 500 milhões até o ano de 2027 num modelo estatal dependente do Orçamento da União. Segundo ela, isso permitirá que a atual infraestrutura da fábrica possa reiniciar a produção de chips já em meados do próximo ano, depois que foi obrigada a paralisar contratos por conta do processo de extinção da empresa.

“Nós produzimos 245 milhões de chips e tivemos 45 patentes registradas até a fábrica ser paralisada. Nós vamos retomar a partir da capacidade instalada, mas sabemos que temos de requalificar a infraestrutura com reposição de equipamentos básicos e investimento em novas máquinas”, disse.

Para a fase inicial o governo, então, estaria se comprometendo em adquirir parte da produção. Sem citar os casos específicos a ministra pode ter sinalizado a retomada dos chips de identificação para o passaporte, para identificação animal no agronegócio, na área de logística com o RFID, por exemplo. “Será o retorno ao mercado dos principais clientes anteriores que já estão nos procurando”, afirmou a ministra.

Mas a Ceitec antes de entrar em extinção patenteou outros projetos. Entre os quais, desenvolveu tecnologia para produção de kits de diagnóstico de Covid. Só que o projeto ficou jogado numa gaveta da empresa, porque o Governo Bolsonaro não quis manter a fabricante em atividade.

Competição

Após essa retomada, o governo deverá estudar a busca de parceiros privados para garantir que a Ceitec possa obter novos equipamentos mais modernos e competir no mercado de microeletrônica, guardadas as suas proporções como fabricante na área. A expectativa seria garantir no futuro, após sete anos de operação da fábrica com a infraestrutura atual, 7% do mercado de semicondutores na América do Sul. “Elas são bem-vindas e serão buscadas”, garantiu Luciana sobre parceiros privados.

A ministra afirmou que pelo menos seis empresas demonstraram interesse nessas parcerias. Mas não ficou claro se isso envolveria participação societária num eventual processo de desestatização da companhia no futuro. Quando o Ministério da Economia no Governo Bolsonaro começou a avaliar a possibilidade de venda ou desestatização da Ceitec, empresários deixaram claro que comprar a estatal no todo, ou em parte, somente seria viável, se o governo garantisse mercado comprando boa parte da produção.

Transição energética

Luciana respondeu sobre críticas que o Governo Lula vem recebendo na imprensa Liberal, sempre apoiadora da privatização da empresa. Críticas feitas por estar reativando uma fábrica que incialmente custará R$ 500 milhões. “Não há risco em Inovação sem a participação do setor público. Isso é histórico no mundo (…) Sabemos o quanto que a China investe para ser gigante. O nosso investimento é sim muito pequeno diante do mundo. Mas vamos fazer. Nós perdemos um tempo enorme”, destacou.

Segundo ela, o governo vem fazendo duas apostas com a reativação da Ceitec nos moldes de infraestrutura atuais. 1 – A possibilidade de produção em larga escala de chips para o setor automotivo e, 2- Produtos para a indústria voltada para a energia renovável. Lembrou que no caso do setor automotivo, o Brasil detém a tecnologia de produção híbrida de biocombustível como no caso do etanol, que poderia ser agregada aos futuros carros elétricos. “Isso é uma vantagem competitiva que outros países não tem”, destacou.

Durante a solenidade, Luciana Santos também anunciou que o ex-liquidante da Ceitec, Augusto Gadelha, permanecerá na presidência da estatal. Ouçam o discurso da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

(Foto Luciana discursando: Jornal do Comércio).