
O Brasil paga um preço alto por sua defasagem em infraestrutura digital — e não apenas em tecnologia, mas em impostos. Segundo o presidente da Brasscom, Affonso Nina, o país mantém uma das maiores cargas tributárias do mundo para o setor de data centers, o que encarece a implantação de novas estruturas e agrava o déficit na balança comercial de serviços digitais.
Dados levantados pela entidade junto ao Banco Central mostram que, a partir de 2021, houve crescimento acelerado do déficit em “serviços de computação e informação”, categoria que inclui o processamento de dados, softwares e infraestrutura em nuvem. Na prática, isso significa que o Brasil importa cada vez mais tecnologia — e deixa de gerar empregos e renda no país.
Custo em até 30%
Affonso explicou que a diferença de custo entre construir um data center no Brasil e no exterior chega a 30%, principalmente por causa da tributação federal. “Entre PIS, Cofins, IPI e impostos de importação, o investimento inicial já nasce mais caro. Esse é o cerne da proposta do Redata: atacar justamente essa distorção tributária”, afirmou.
O custo extra se concentra na fase de implantação — a mais intensiva em capital, com importação de equipamentos e obras civis complexas. Após a construção, os custos operacionais são mais competitivos, sobretudo pelo baixo preço relativo da energia elétrica e pela qualificação da mão de obra nacional.
De acordo com os dados apresentados, a partir de 2021 a balança comercial de serviços digitais passou a registrar déficits anuais recordes, impulsionados pela crescente demanda por computação em nuvem e processamento de dados fora do país. A ausência de incentivos tributários tornou o Brasil menos atraente para investimentos em infraestrutura de dados, levando empresas nacionais a contratar serviços estrangeiros.
“O déficit não reflete apenas o consumo de tecnologia estrangeira, mas a perda de oportunidades de desenvolver essa indústria aqui”, disse Affonso.
Para o presidente da Brasscom, o programa Redata, enviado ao Congresso por medida provisória, busca equalizar o custo de implantação de data centers no país, oferecendo incentivos fiscais e simplificação de importações. A expectativa é reduzir em até 30% o custo inicial de construção, permitindo que o país retome investimentos e amplie sua autonomia digital.
Para o executivo, o impacto vai além do setor de tecnologia: “Cada real economizado na implantação de data centers representa a possibilidade de reter aqui empregos qualificados, conhecimento técnico e capacidade de inovação. Essa é uma agenda de soberania econômica tanto quanto digital.”
O presidente da Brasscom participou de audiência pública hoje (15) na Comissão de Ciência, Tecnolgia e Inovação da Câmara dos Deputados