Brasil: Trump deverá atuar em favor de Elon Musk e contra o avanço chinês no governo

Com a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, o Brasil pode esperar no ano que vem a pressão do governo norte-americano em favor do empresário e seu principal cabo eleitoral, Elon Musk, que tem visto a Starlink ser barrada nos programas de conectividade do governo, desde que resolveu fazer política atacando a Democracia brasileira na sua rede social “X” ( ex-Twitter).

Essa pressão tende a ser maior ainda, se o governo brasileiro concretizar alguns acordos tecnológicos que estão sendo negociados com empresas chinesas, que poderão impedir a hegemonia das big techs norte-americanas nos contratos públicos. Esses acordos estão sendo discutidos no âmbito das estatais e do Ministério das Comunicações e envolvem serviços de nuvem, infraestrutura, inteligência artificial e telecomunicações.

O mais recente episódio de aproximação Brasil/China ocorreu no mês de outubro com o ministro ds Comunicações, Juscelino Filho visitando por duas semanas uma série de empresas e mantendo reuniões com membros do governo chinês.

A viagem oficial começou no dia 17 de outubro com Juscelino visitando em Pequim as empresas GalaxySpace, Great Wall Industry Corp e a CAST – Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia. Ainda em Pequim, o ministro manteve contatos com a produtora de videos Kwai e reuniões com Jing Zhuanglong, Ministro da Indústria e Tecnologia da Informação da China e executivos do Centro Nacional de Informação do Estado.

Nos dias seguintes, até o encerramento de sua passagem pela China (23/10), Juscelino visitou as empresas SpaceSail (Xangai). Em Shenzen esteve na Huawei, HiteVision, BYD, ZTE e na OPPO. Em todos os encontros Juscelino esteve acompanhado do secretário de Telecomunicações, Hermano Barros Tercius; do Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais, Jeferson Fued Nacif; e do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho.

Satélites

Poderá ser na área de prestação de serviços de conectividade via satélite, o ponto de maior tensão e embates entre os governos brasileiro e norte-americano. Juscelino fez questão de conhecer a empresa SpaceSail, em sua passagem pela China. A empresa tem um cronograma de lançar ao espaço uma constalação de até 15 mil satélites de baixa órbita, que concorrerão diretamente com a Starlink, de Elon Musk.

No momento a empresa chinesa segue o seguinte cronograma:

Atualmente há 4 satélites de teste em operação.
Até o final do ano está previsto o lançamento de mais 108 satélites.
Até o final de 2025 há o planejamento de cobertura global.
Projeto de cerca de 15 mil satélites no total, em 1500 km de altitude, utilizando as Bandas Q/V para comunicação e Ku para terminal.

Para atuar no Brasil, a empresa terá que dar entrada na Anatel com um pedido para exploração de serviços de satélite e o processo de análise pela agência reguladora deverá levar em torno de seis meses. Portanto, se os chineses querem efetivamente atuar no Brasil, precisam correr com a burocracia.

Estranho no ninho

Um fato curioso ocorreu nessa visita de Juscelino à SpaceSail. Na comitiva do ministro estava presente o empresário André Skaf, sócio da “Sete Partners” e filho do ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf, cotado para voltar ao comando da entidade no ano que vem, quando termina o mandato do atual presidente Josué Gomes da Silva. Na Fiesp Skaf, o pai, já conta com o apoio de 130 lideranças da indústria paulista para voltar ao cargo de presidente.

Resta saber o que o filho estaria fazendo numa visita oficial do Ministério das Comunicações à China, já que não foi citado nenhuma vez nos comunicados de imprensa da pasta. Um absoluto mistério. A participação dele na viagem oficial do MCOM parece ter se restringido à visita que Juscelino fez na fabricante de satélites. Pelo menos só constam registros fotográficos dele com o ministro nesse evento.

A Sete Partners atua prospectando negócios na China e no Oriente Médio. Em sua página na Internet ela se apresenta como sendo “uma holding brasileira de investimentos e consultoria financeira independente, com foco nos mercados da China e do Oriente Médio. Temos ampla experiência em operações complexas envolvendo fusões e aquisições (M&A), reestruturação de dívidas, gestão de ativos e desenvolvimento de novos negócios. A empresa e seus sócios possuem um sólido histórico de gestão empresarial, empreendedorismo, consultoria estratégica, comércio internacional e uma extensa rede global”.

Parceria Telebras

Como na comitiva de Juscelino constou a presença do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho (Fred, como é conhecido no setor de Telecomunicações), é possível deduzir que um eventual acordo do governo com a empresa de satélites chinesa, no ano que vem, será lastreado pela estatal. A Telebras tem assinado parcerias com diversas empresas prestadoras de serviços de conexão via satélite e se prepara para prestar o serviço de conectividade do programa “Aprender Conectado”, que pretende garantir internet de qualidade para escolas públicas em regiões remotas da Amazônia. Isso, se as teles não vencerem a quada de braços que vem travando com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.

A Telebras aguarda há meses a assinatura de contrato com a EACE – a entidade que executa a conexão de escolas para o governo com os recursos do Leilão do 5G. Mas vem enfrentando a resistência das operadoras móveis que integram a direção da entidade. Principalmente da Vivo, que tem parceria para revenda dos equipamentos da Sarlink, de Elon Musk, no Brasil.

As empresas insatisfeitas por não poderem mais ditar as regras sobre como gastar e com quem gasta os R$ 3,1 bilhões do 5G, pediram para deixar o comando da EACE. Mas a Anatel resolveu entrar na briga e vem protelando a tomada de uma decisão. Adiou para março do ano que vem a discussão do problema.

*Foto Trump e Elon Musk:  Jim WATSON / AFP