Empresa de tecnologia e serviços do Banco do Brasil, está sendo monitorada pela Fenadados e os sindicatos, desde que anunciou que irá desalojar a sede da Associação dos Empregados da Cobra (antigo nome da empresa estatal) para dar lugar a um novo empreendimento. No dia 29 de março, depois de 44 anos de parceria com a direção da empresa, a AEC recebeu um aviso de despejo para dar lugar a um novo contrato de serviço a ser desempenhado na BBTS.
Em uma nota que pouco explicou os motivos para essa decisão, a estatal de TI informou apenas o seguinte: “O pedido de liberação do local por parte da AEC está ligado a necessidade da BBTS de ampliar as suas atividades e, ao mesmo tempo, ao objetivo de reduzir a despesa da Companhia com imóveis locados. Dessa forma, ampliar-se-á o uso eficiente do espaço próprio da Companhia em Jacarepaguá, gerando aproximadamente 300 novos postos de trabalho destinados a empregados de quadro próprio e terceirizados”.
A nota não esclarece o tipo de empreendimento e nem explica como a BB Tecnologia irá entupir 300 novos trabalhadores supostamente da área de call center, dentro de um espaço de apenas 100m² que compõe a antiga sede da Associação dos Empregados da Cobra.
Esse blog pediu via Lei de Acesso à Informação a relação de empresas de serviços de call center para a estatal, que se limitou a mandar a informação de que uma busca pode ser feita em sua página oficial. Tentem, se forem capazes. A informação está escondida num emaranhado de outros contratos e a consulta tem de ser feita uma a uma.
Para o presidente da Fenadados, Carlos Alberto Valadares (Gandola), não há ilegalidade de uma estatal contratar serviço de call center e oferecer a infraestrutura, uma vez que diretamente esse serviço que ela presta ao Banco do Brasil não é feito pelo seu quadro funcional, que é de TI. Porém, tais contratos trazem algumas dores de cabeça para a BB Tecnologia há anos.
Calote
“Não há ilegalidade de uma empresa terceirizar uma empresa de call center e oferecer a estrutura local para trabalhar e máquinas. Agora, isso coloca a empresa e os trabalhadores numa situação complicada. Além deles serem extremamente precarizados, abre o risco da empresa ao fim do contrato sumir e dar o calote no pagamento dos salários desses trabalhadores, e isso já ocorreu em contratos anteriores na BB Tecnologia”, disse Gandola.
Segundo ele, a Caixa Econômica Federal costuma contratar serviços terceirizados de call center. Mas para ela e diretamente por ela. Não se vale de contratos de uma “barriga de aluguel” como tem sido feitos pelo Banco do Brasil através da BBTS. “É no mínimo estranho uma empresa, que não tem nenhum trabalhador na área de call center, ser contratada sem licitação pelo Banco do Brasil e subcontratar uma empresa de prestação desses serviços”, lembrou ele, sobre o que vem ocorrendo numa triangulação entre o banco oficial, a BBTS e empresas de call center.
” A BBTS é apenas a barriga de aluguel para a contratação de empresas de call center para o Banco do Brasil e usa a estrutura dela para contratar empresas de pequeno porte para prestar o serviço, com o sério risco de ao final do contrato elas darem o calote nos pagamentos dos funcionários, deixando o problema judicial/trabalhista depois para a estatal de TI”, reafirmou Gandola, que garante que a empresa já tem vários processos nesta direção e que depois ficou como encargo de ressarcir os trabalhadores.
Geração de empregos
A BBTS em resposta ao Blog disse que sua decisão irá influenciar positivamente a economia local em Jacarepaguá (RJ), onde está localizada a área operacional da empresa, já que a sede se transferiu para um luxuoso prédio construído em Brasília. Não consta que Jacarepaguá esteja economicamente em melhor situação econômico por causa de serviços de call center, até porque não há informações de que todos os contratados sejam do bairro em questão.
Como este blog não teve acesso aos contratos em questão, não há como confirmar categoricamente que a economia local esteja sendo impactada por essa decisão. Nem tampouco dá para inferir que serviços de call center sejam grandes pagadores de impostos para a administração local.
“No quesito gerar empregos, essa diretoria promoveu um verdadeiro desmonte da estatal, quando decidiu transferir a sede para Brasília e obrigar diversos trabalhadores a se desligarem por não ter como transferir toda a sua vida para outro lugar. Não tinham como mudar, porque eles recebem os piores salários da área de tecnologia do governo federal, não teriam como sobreviver em Brasília, mesmo trabalhando numa subsidiária do Banco do Brasil”, descartou o presidente da Fenadados.
Gandola garantiu que a Fenadados deverá entrar no circuito para acompanhar as contratações da BB Tecnologia, de forma a tentar evitar que o caso acabe na Justiça do Trabalho futuramente. Essa análise, inclusive, deverá envolver a avaliação do porte dessas empresas subcontratadas, se de fato elas existiam no mercado ou estão sendo criadas apenas para ganhar contratos no Banco do Brasil, com sérias ameaças futuras de calote aos trabalhadores.