Por Gilberto Lima Junior* – Este Artigo, autoexplicativo, é o terceiro de uma série sobre o Futuro do DF e segunda parte do anterior recentemente publicado neste Portal. A finalidade é ser propositivo quanto aos possíveis rumos de uma Cidade com potenciais incríveis e que padece da miopia de visão de seus governantes, dispostos a exercer exclusivamente o papel de sede administrativa do Governo Federal, cobrando-lhe uma gorda taxa de condomínio. Tal atitude é um péssimo exemplo para a saudável ambição que corre nas veias da nova geração; herdeiros do espírito destemido de Juscelino Kubitscheck e de sua equipe lendária que avançou nosso país 50 anos em 5 e fez deste solo sagrado, o centro das decisões nacionais numa passagem épica, repleta de desafios e superações inimagináveis para usufruirmos de um maravilhoso legado, alcançado através de um autêntico, Espírito Empreendedor!
Ao detalhar meu ponto de vista acerca das vocações naturais que podem nos projetar para um patamar de abundância, modernidade e atratividade de investimentos, o faço dando foco para os segmentos que considero mais óbvios e testados em relação ás nossas vocações naturais, quais sejam: Tecnologia, Economia Criativa e Logística.
Vocação Tecnológica – No ranking dos setores econômicos que mais contribuem com o PIB local, enquadrado em serviços, está o segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação – TICs, posicionado em segundo lugar. A explicação é bastante simples, a compra e contratação de serviços de informática pôr parte do Governo Federal é considerada a maior da América Latina. Em 2019 foram 80 mil processos de compra de bens e serviços, somando R$ 46 Bilhões, segundo o Painel de Compras do Ministério da Economia. Empresas de todo o país e as líderes globais do setor, mantêm suas sedes ou pelo menos suas representações no Distrito Federal, de olho numa “boa fatia deste bolo”. Tal fato, permite que o número de analistas e engenheiros de software, profissionais de nível técnico e empresas startups se multipliquem para atender o crescimento exponencial da demanda governamental. Temos um nível altíssimo de qualidade na formação da mão de obra tecnológica, com 20 Instituições de Ensino Superior e cerca de 45 cursos na área de informática. A Digitalização da máquina burocrática, a Virtualização do Ensino, do Trabalho, da Medicina, do Entretenimento etc deverão acelerar ainda mais as oportunidades de fornecimento. Demandas relacionadas a infraestrutura digital, robótica, inteligência artificial, “streams”, “data analisys’, armazenagem em nuvem, computação quântica, cyber defesa, segurança da informação, agricultura de precisão e projetos de cidades inteligentes, apontam para um novo universo de oportunidades que podem e devem ser bem aproveitadas pelas empresas genuinamente locais ou atraídas para este mercado.
Contudo, não há um estudo aprofundado da atual cadeia produtiva de TICs, os empresários, não dispõe de linhas especiais de financiamento para o setor ou diferenciação tributária que os incentive a instalar suas empresas nos ecossistemas de inovação, representados pelos Parques Tecnológicos Alpha Park e Biotic, por exemplo.
Vocação Criativa – Conceitualmente 13 Cadeias Produtivas integram a indústria criativa, pelo menos segundo o critério adotado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro – FIRJAN que publica um Relatório Anual com dados de todo o Brasil, são elas: Consumo (Publicidade e Marketing, Arquitetura, Design e Moda), Cultura (Expressões Culturais, Patrimônio e Artes, Música e Artes Cênicas, Mídias (Editorial e Audiovisual), Tecnologia (TICs, Biotecnologia e P,D & I – pesquisa, desenvolvimento e inovação). Todas estas cadeias produtivas encontram imensa potencialidade de geração de empregos e rendas. No ranking atual, o DF já se destaca entre os maiores salários do país em alguns destes segmentos.
Somos uma economia de serviços por natureza. Aqui produzimos conhecimento e entretenimento de excelência. Pouca gente sabe que a Patente mundial do identificador de chamadas, que vemos na tela de todos os celulares do mundo, o chamado “bina”, surgiu no DF; que o maior Programa de Exportação de Software do País, atualmente conduzido pela Sociedade Softex, nasceu na Capital; que no tema da Biotecnologia, o DF concentra o maior número de Doutores e Pós-Doutores desta área no Brasil. Este fato se dá por sediarmos a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e o seu Centro de Recursos Genéticos – Cenargen. Você sabia que a Moda-Praia brasiliense já desfilou as Passarelas Mundiais de Milão, Bolonha e Paris, com a coordenação do Sindiveste-DF? Sabia que graças ao Design, os móveis produzidos no DF, com o apoio do Sindman já foram exportados para Dubai, EUA e outros países? Ou seja, temos Moda, Design, Software, Hardware e Biotecnologia, padrão exportação, embora haja pouquíssimo ou nenhum incentivo para o desenvolvimento destes segmentos. O Capital Fashion Week chegou a ser o terceiro Fashion Show do País, atrás apenas da Rio Fashion Week e da São Paulo Fashion Week. O evento gerava aproximadamente 1000 empregos por edição e funcionou entre 2005 e 2015 com 17 edições realizadas. O Design de Jóias é outra potencialidade abandonada. Chegamos a ter o museu de Gemas e Jóias no Mezanino da Torre de TV, descontinuado por falta de incentivos e prioridade. O curioso é que o IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais, responsável por tornar o Brasil um dos países mais premiados do mundo no foco de design de jóias, tem sua sede por aqui e poderia apoiar o desenvolvimento de uma ampla cadeia de criação neste segmento, com profissionais muito bem remunerados.
Música e Festivais – Ainda no foco Criativo, o Rock Nacional e os seus maiores expoentes saíram daqui ou no mínimo receberam nossas fortes influências: Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Cássia Eller, Raimundos, Paulo Ricardo da RPM (viveu por aqui), Zélia Duncan, entre outros. Ainda no campo da música, nomes como Natiruts, Ney Mato Grosso, Maskavo, Tribo da Periferia (Rap), Ney Mato Grosso (era funcionário do Hospital de Base), Oswaldo Montenegro, Célia Porto, Maestro Rênio Quintas e Ellen Oléria, projetam a boa fama musical da Capital da República. Somos diversos e muito admirados pelo que produzimos culturalmente. A Escola Brasileira de Choro fundada em 1997 e que já foi coordenada por ninguém menos que Hamilton de Holanda(bandolinista), ao lado do Departamento de Música da UNB e da Escola de Música que atrai candidatos de toda América do Sul, formam instrumentistas disputados nacionalmente e muitos decolaram suas carreiras também no exterior. Blocos de Carnaval do Parque, do Setor Comercial Sul, os inúmeros Blocos de Rua, como o Galinho da Madrugada, Eduardo e Mônica (apresentação em SP) etc mostram o potencial de negócios desta animada vertente cultural. Outros gêneros que alcançaram visibilidade nacional: Banda Scalene, os Grupos Musicais; Di Propósito (Pagode), Menos é Mais (Pagode), Hungria (Rapper), MC Sid (Rapper), MC BMO (Rapper) entre outros.
A Temática de Eventos Musicais destaca a Cidade como detentora do Título de Maior Evento Lixo Zero do Mundo, conquistado pela Empresa R2 com o Evento: “Na Praia”. Temos Festivais de altíssima qualidade, como o Surreal (também da R2), Funn Festival (Parque da Cidade), Hidden, Festival Coma e o maior São João do Cerrado que na edição de 2019 reuniu mais de 200 mil pessoas na Ceilândia, Brasília Moto Week, terceiro maior Evento de Motociclismo do Mundo, com a participação de aproximadamente 790 mil pessoas, oriundas de 10 países.
Por que nunca atraímos uma fábrica de instrumentos musicais? Quem tentou? Por que nunca buscamos os melhores estúdios musicais do país com incentivos para se instalarem por aqui, oferecendo possibilidades de ensaios, gravações e capacitações para os nossos músicos maravilhosos?
Nossos Atores e Atrizes, mostram o poder do Tablado Candango em todo o país. Grupos Teatrais locais como “Os Melhores do Mundo”, ganharam projeção nos palcos nacionais e na Televisão. Alguns famosos que nasceram ou viveram em Brasília: Apresentadora Maria Paula (Embaixadora da ONU), Patricia Pillar e Murilo Rosa, são alguns dos exemplos. O Festival de Cinema de Brasília e o Festival de Curtas, atraem participantes internacionais todos os anos. No esporte: Leila do Vôlei, Oscar Schmidt do Basquete, Kaká, Lúcio e Victória Albuquerque das Seleções Masculina e Feminina de Futebol, são os maiores destaques.
Vale registrar que não há estudos aprofundados das 13 Cadeias Produtivas da Economia Digital, identificando o poder de sua empregabilidade, perfis de formação necessários, contribuição com o PIB, arrecadação de impostos ou outras tão básicas e fundamentais para que incentivos e prioridades de fomento sejam estruturados.
Vocação Logística
Quanto a vocação logística, ela é visível aos olhos, por conta de nossa posição geográfica. Estamos localizados no Planalto Central do Brasil. Não por acaso, o aeroporto de Brasília já é o maior Hub Doméstico do país, segundo a Inframérica, empresa detentora da concessão. O Terminal aeroportuário tem potencial para tornar-se um dos maiores no setor de cargas também. No Comércio Exterior, por exemplo, deveríamos ser proativos na atração de grandes importadores e distribuidores, ampliando significativamente a arrecadação de ICMS, pois a nacionalização de cargas, podem ser feitas no terminal aeroportuário ou no Porto Seco, armazenadas e redistribuídas para os mercados de consumo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste com vantagens de redução no “Transit Time” e nos custos de Armazenagem e Transporte. Devemos lembrar que todos os órgãos anuentes do comércio exterior brasileiro (Receita Federal, Vigilância Sanitária, Agricultura, Banco Central etc) e mais de 130 Representações Diplomáticas entre Embaixadas e Organismos Internacionais estão sediadas aqui. Envergonha nossa irrelevância nas estatísticas de importação e exportação do país.
Ainda sobre a Logística, o cenário de total desconhecimento científico das potencialidades deste segmento para o DF, repete a realidade das demais vocações, uma vez que não há estudos atualizados e política pública definida para aproveitamento de nossas vantagens comparativas, prevendo incentivos e estratégias de atratividade.
O cenário atual só reforça a urgência em nos posicionarmos pro-ativamente neste segmento. Devido a Pandemia, somente no mês de Abril, houve um aumento aproximado de 80 % nas compras “on line”, representando 24,5 milhões de pedidos, equivalentes a R$ 9,4 bilhões, em virtude do Isolamento Social. Esta tendência veio para ficar e isso significa que a vocação logística precisa encontrar o Distrito Federal como um dos Estados mais competitivos na atração de cargas do país.
No Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social que tenho a honra de presidir, pretendemos estruturar um Observatório de Impactos das Tecnologias Disruptivas na sociedade brasileira e colaborar com a Visão Estratégica de Estados e Municípios desenvolvendo estudos de potencialidades competitivas baseados em vocações regionai. Analisaremos cadeias produtivas e articulação dos atores públicos e privados na construção de políticas públicas pragmáticas e comprometidas com transformação econômica e social das futuras gerações com benefícios imediatos à Geração em curso.
Decorridos os primeiros 60 anos de fundação da Cidade, devemos ter como Meta a conquista de nossa maturidade, representada pela autonomia financeira e pela liderança nacional nas áreas destacadas, tornando o futuro, exponencialmente melhor, mais próspero, mais justo socialmente e um exemplo de inovação e sustentabilidade no novo cenário global que se anuncia.
O Re-Fresh, o Re-Boot, o Re-Think da humanidade está em curso e precisa encontrar corações Re-novados, mentes Re-Inventadas, rompendo paradigmas aprisionadores de um “mind set” baseado em facilidades e acomodação. É chegada a hora de Re-Evolucionarmos o sentido da Vida em prol do Coletivo, pois daí emergirá uma força incontrolável e irrefreável que nos levará ao melhor nível de Protagonismo e Re-Conhecimento merecido como sonhou Dom Bosco e ousou fazer o nosso amado Juscelino.
*Gilberto Lima Junior, Presidente do Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social, Palestrante, Futurista e Mentor de Empresas de Base Tecnológica. Assina o Blog: “O Futuro Já Começou” no Jornal Correio Brasiliense. Redes Sociais: gilbertonamastech