Por Gilberto Lima Junior* – Em recente Artigo, mencionei uma Verdade Inconveniente sobre o futuro mais imediato do Distrito Federal, acostumado as benesses do repasse compulsório da União para cobrir suas despesas de Saúde, Segurança e Educação, através do Fundo Constitucional. Lembrei que a aceleração da digitalização da economia, a precipitação de aposentarias motivada pelo medo das mudanças no novo regime previdenciário, o enxugamento da estrutura estatal com a possível privatização de mais de 700 empresas públicas, em sua maioria sediadas na capital, a diminuição do quadro de Servidores Públicos Federais (reposição máxima de 1/3 por ano), a redução no número de Concursos Públicos, a tentativa de flexibilização da estabilidade funcional e para completar as despesas no combate a Pandemia do Corona Vírus, mostram que o colchão financeiro da Cidade com maior renda per capita do país, em poucos anos se tornará uma esteirinha de praia com consequências bem duras e previsíveis no aspecto Social.
A maioria dos Legisladores e o Executivo local não se dá conta de que a atratividade de investimentos, a priorização da aplicação dos recursos arrecadados no apoio e fomento às atividades empreendedoras e o apontamento de uma visão de futuro é urgente. Chega de paliativos!
Esta série de Artigos tem caráter propositivo, daí o seu título indicar vocações naturais que podem nos projetar para um patamar de abundância, modernidade e atratividade para os investimentos de empreendedores brasileiros e internacionais, quais sejam: Tecnologia, Economia Criativa e Logística. Contudo, o detalhamento do potencial de cada uma destas vocações será posteriormente apresentado. Exponho à seguir, em caráter introdutório ao tema central, alguns dados e considerações para reflexão de todos nós:
Somos uma economia de serviços por natureza. Aqui produzimos conhecimento e entretenimento de excelência. Pouca gente sabe que a Patente mundial do identificador de chamadas, que vemos na tela de todos os celulares do mundo todo, o chamado “bina”, surgiu no DF; que o maior Programa de Exportação de Software do País, atualmente conduzido pela Sociedade Softex, nasceu na Capital; que somos referência internacional em Biotecnologia; que a Moda-Praia brasiliense já desfilou as Passarelas Mundiais de Milão, Bolonha e Paris, com a coordenação do Sindiveste-DF; que graças ao ótimo Design, os móveis produzidos nas satélites e no entorno, com o apoio do Sindman-DF já foram exportados para Dubai, EUA e outros países. Ou seja, temos Moda, Design, Software, Hardware e Biotecnologia, padrão exportação, embora pouquíssimo ou quase nenhum incentivo seja destinado para o desenvolvimento destes segmentos altamente competitivos. O Design de Jóias é outra potencialidade abandonada. Chegamos a ter o museu de Gemas e Jóias no Mezanino da Torre de TV, descontinuado por falta de incentivos e prioridade. O curioso é que o IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais, responsável por tornar o Brasil um dos países mais premiados do mundo no foco de design de jóias, tem sua sede por aqui e poderia apoiar o desenvolvimento de uma ampla cadeia de criação neste segmento, com profissionais muito bem remunerados.
O Capital Fashion Week chegou a ser o terceiro Fashion Show do País, atrás apenas da Rio Fashion Week e da São Paulo Fashion Week. O evento gerava aproximadamente 1000 empregos por edição e funcionou entre 2005 e 2015 com 17 edições realizadas.
Ainda no foco de Eventos, merece destaque a realização anual do Capital Moto Week. Criado em 2004, se tornou maior Festival Motociclístico da América Latina e terceiro maior do mundo, com participantes oriundos de todos os estados brasileiros e de mais de 10 países dos 5 continentes. Para se ter uma ideia do potencial econômico desta iniciativa, em 2019, cerca de 700 mil pessoas estiveram presentes nos dez dias de Evento, movimentando cerca de R$ 55 milhões na economia local, gerando cerca de 7.000 empregos (diretos e indiretos).
Outras Vocações Relevantes: Para além das três principais vocações mencionadas, é sempre bom lembrar que somos a “Meca do Judiciário” brasileiro, sediando as Cortes Superiores e isso representa: Turismo de Negócios, Centros de Estudo e Formação, Tecnologias Processuais etc. Temos um clima ameno e um dos melhores microclimas do mundo para a produção agrícola, podendo destacar-nos na produção nacional de alimentos orgânicos certificados. As Entre quadras do Plano-Piloto e de algumas cidades-satélites são perfeitas para o desenvolvimento de hortas comunitárias, em sintonia com a tendência mundial de hortas urbanas.
A incidência solar no DF é uma das maiores do país e seria absolutamente factível viabilizar um amplo incentivo à instalação de sistemas de energia fotovoltaica nos prédios e residências, além de abastecimento dos prédios e monumentos públicos com esta energia limpa. Partes destes sistemas poderiam ser fabricados, gerando empregos e renda local. O Recurso solar médio anual do DF é de 5,8 kWh/M2, um dos melhores do país. Além desta vantagem, pasmem, a área necessária para gerar toda a eletricidade da Região com energia solar fotovoltaica é de 0,41% do Território, segundo estudo do WWF do ano de 2016, intitulado: “Potencial da Energia Solar Fotovoltaica de Brasília”. Ainda sobre este setor, conto aqui uma historinha de arrepiar, que reflete perfeitamente bem a absoluta miopia dos gestores públicos acomodados em seus gabinetes confortáveis.
Há alguns anos atrás, desceu no aeroporto de Brasília a passeio, um Executivo Global de origem holandesa. Caminhando pelo Plano Piloto e visitando os nossos lindos monumentos na esplanada dos Ministérios, observou que o gabarito de nossas edificações limita a construção de arranha-céus, possibilitando a circulação de ar, proporcionando um horizonte limpo, aberto que o deixou encantado naquele verão! Admirou-se com a saga da construção, o impacto que a transferência da Capital gerou na interiorização do país, além do papel central na definição dos desígnios de uma nação em pleno desenvolvimento. Pediu ao seu colega de quarto nos tempos de estudante universitário nos EUA, o engenheiro brasiliense Luciano, que o ajudasse a conversar com o Governador local e soltou a célebre frase:
– Achei a Cidade Tesla! Esse lugar é perfeito para uma grande vitrine de nossas soluções de energia solar na América do Sul.
– Marcos, isso só pode funcionar se tiver alguma formalização de interesse, respondeu Luciano. Para encurtar a história, o Governador foi convidado para uma visita à sede da Empresa Solar City, pertencente a Tesla, localizada no Estado de Nevada – EUA, para avaliações conjuntas desta incrível possibilidade. A Vice-Presidência da Tesla (líder mundial em Carros Autônomos, Baterias, Sistemas Fotovoltaicos etc), aguarda até hoje a resposta. Aliás, há muito que não nos aguardam mais.
Vamos falar de outro setor e uma nova história. Nosso Bioma do Cerrado é riquíssimo para o desenvolvimento de fitoterápicos e medicamentos. Assessorei um dos maiores Centros de Referência em Biotecnologia da Europa para viabilizarem no Brasil uma parceria capaz de implementar uma Unidade Modelo em nosso país. Para meu absoluto entusiasmo, nas pesquisas que empreenderam, indicaram uma cidade que teriam preferência em instalar o Projeto. O nome dela? Brasília! Tive taquicardia de tanta alegria e de pronto viabilizei audiência com o então Governador do Distrito Federal. A comitiva portuguesa (país de origem do referido Centro de Biotecnologia), veio representada pelo Executivo principal, uma grande Autoridade Acadêmica em Biotecnologia e empresários brasileiros interessados em apoiar o investimento. Disseram ao Governador que escolheram Brasília porque a cidade concentra o maior número de Doutores e Pós-Doutores em Biotecnologia do Brasil, graças a presença da sede nacional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa que mantem aqui o Centro Nacional de Recursos Genéticos do país, o Cenargen.
Para resumir, entusiasmos generalizados, inúmeros Secretários envolvidos, Presidente da Terracap, promessas, novas visitas da comitiva portuguesa, novas reuniões, mais promessas e um atraso de 90 dias na resposta a um simples e-mail, por parte do Secretário escalado pelo Governador para comandar o assunto e o investimento foi deletado. Sim, desistiram de Brasília e mais uma vez o futuro de nossos jovens foi faturado por conta de burocratas incompetentes e por uma mentalidade estatizada que não sabe corresponder a urgência que temos em gerar desenvolvimento econômico, emprego e renda por aqui.
Diante de tantas potencialidades, até quando vamos ficar inertes com o pires na mão na Esplanada dos Ministérios implorando a mesada do Governo Federal ou choramingando que os recursos arrecadados não cobrem as despesas que por sua vez nunca reduzem?
Ainda há tempo para acordarmos. Afinal, é difícil crer que nem o impacto sistêmico da Covid19 será capaz de gerar pressa em nossos representantes políticos do Buriti e da Câmara Legislativa. Este pessoal precisa entender e atender de uma vez por todas, os apelos das Entidades Empresariais. É preciso constituir uma força-tarefa, debruçando-se 24 horas por dia na estruturação de uma agenda realista, voltada ao desenvolvimento econômico, à geração de empregos e renda. Precisamos de Planejamento vinculado a Planos de Ação com métricas de monitoramento permanente de resultados que viabilize o atingimento de metas claras em favor de nossa população. Temos inúmeros diferenciais competitivos e não podemos ser lembrados como a geração que enterrou o Sonho de Dom Bosco por pura miopia e incompetência. Somos o berço da Civilização do Terceiro Milênio e isso nos impõe uma responsabilidade maior do que a disposição que temos demonstrado em assumir.
Confio no grau de indignação dos empreendedores locais para honrar a Visão de nosso Padroeiro e servirmos de exemplo para os novos rumos da Nação.
No próximo Artigo, apontarei detalhadamente minhas sugestões quanto aos possíveis rumos que podemos seguir, com ênfase nos temas: Tecnologia, Economia Criativa e Logística. Até lá!
*Gilberto Lima Junior, Presidente do Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social, Palestrante, Futurista e Mentor de Empresas de Base Tecnológica. Redes Sociais: gilbertonamastech