Enquanto o Ocidente debate, a China entrega

Por Alexandre Caramaschi*

Todo founder que olha para o mercado global tenta adivinhar “o próximo grande movimento”, mas quase ninguém tem coragem de encarar o elefante na sala: a China está jogando um jogo diferente. E se você não estudar esse jogo, vai ser engolido por ele, ou ignorado por quem está surfando a onda.

Enquanto o Vale do Silício discute frameworks, Pequim já lançou, testou, descartou e escalou. A China funciona como aquele founder inquieto que não tem medo de inventar moda e acerta justamente por isso. Alguns movimentos que você deveria colocar no radar:

Soft Power via Cultura Pop

Não é só TikTok. É mascote viral, é stand-up, é game, é fashion tech, é a construção de uma estética “cute-chaos” que virou exportação estratégica (se você subestima isso, dá uma olhada no hype absurdo em torno de personagens como Labubu).

Tecnologia como arma diplomática

Chips próprios, IA distribuída, expansão de semicondutores, corredores logísticos dedicados. A China sabe que depender de um único fornecedor é pedir para sofrer com o ARPU negativo de geopolítica. Resultado? Um modelo agressivo de autossuficiência que muitos países ainda tentam imitar sem o mesmo foco.

Infraestrutura como branding nacional

Portos, estradas, ferrovias, cabos submarinos. É pitch político. Um pitch que diz: “Quer estabilidade? Fica comigo”. Duro admitir, mas funciona.

Demografia como estratégia de produto

Sim, até isso virou roadmap na China. Cidades oferecendo mais de US$ 20 mil por segundo filho, o equivalente a um “growth play” para repovoamento. É estranho? É. Mas quem disse que produto bom é o produto “bonitinho”? O que importa é o problema que resolve.

Veja o padrão: 1) os EUA entram num ciclo de imprevisibilidade; 2) a Europa perde tração regulatória; 3) mercados emergentes olham ao redor e perguntam “quem entrega hoje?”, e 4) a China levanta a mão. Simples assim.

E tem mais: enquanto o Ocidente se engalfinha com guerras culturais, a China está fazendo call atrás de call com países que só querem previsibilidade para operar. E aqui vai um alerta quase paternal: não caia na tentação de “virar China”. Cultura não se copia. Mentalidade não se transplanta. Mas você pode (e deve) interpretar a lógica por trás dos movimentos chineses.

Quem ignora a China hoje está construindo um negócio míope. A China está desacelerando? Sim. Sofrendo com crise imobiliária? Também. Lidando com pressão internacional e demográfica? Claro. Mas mesmo assim ela continua expandindo influência, dominando cadeias críticas e empilhando acordos que garantem vantagem nos próximos anos.

O jogo global virou uma disputa por quem entrega mais valor, mais rápido, com menos drama. E, convenhamos: nisso a China virou referência involuntária. Goste você ou não, enquanto pensa na resposta, a China já está prototipando a próxima fase do jogo.

* Alexandre Caramaschi, CMO da Semantix, referência no uso de IA e dados na América Latina