
A Casa dos Ventos, empresa brasileira de energia renovável, apresentou sua visão estratégica para o setor de data centers, destacando a necessidade de ajustes técnicos e regulatórios que viabilizem a atração de novos investimentos no Brasil. Durante sua participação em um painel do setor, Cláudio Junqueira detalhou as iniciativas em andamento e defendeu mudanças no processo de acesso e expansão da transmissão elétrica.
Megaempreendimento no PSEM
No centro da estratégia está o projeto Data Center PSEM, que promete ser o maior da América Latina, com consumo estimado de 876 megawatts em duas fases e investimentos da ordem de R$ 150 bilhões. Abastecido 100% por energia renovável, o empreendimento deve gerar mais de 8 mil empregos e incluir programas de capacitação profissional, inclusão digital e conexão de 200 escolas públicas à internet de alta velocidade.
O PSEM será implantado ao lado do projeto Amanhã Verde, voltado à produção de amônia verde a partir de hidrogênio produzido por eletrólise com energia eólica, solar e água de reúso. O complexo prevê 1,2 gigawatts de capacidade de eletrólise e se posiciona como um dos maiores do mundo em moléculas verdes, voltado para exportação.
A empresa também projeta 6,6 GW adicionais em novos parques renováveis, com investimentos superiores a R$ 25 bilhões, garantindo o suprimento energético sem comprometer a matriz elétrica existente.
Iniciativas em São Paulo e projetos flexíveis
Além do polo do PSEM, a Casa dos Ventos busca expandir sua atuação na região de São Paulo, próxima às zonas de cloud e subestações da rede básica. Um dos principais projetos é o data center em Jundiaí, com cerca de 300 MW já contratados.
Outra frente em estudo é o uso de cargas flexíveis em parques de geração, com um piloto de 20 MW já aprovado para mineração e processamento de dados, que poderá ser replicado em outros sites.
Gargalos regulatórios
A empresa defendeu mudanças em três pontos centrais para dar mais segurança aos empreendedores e agilizar os investimentos:
-Conciliar horizontes de acesso e contratação – hoje, o Operador Nacional do Sistema (ONS) projeta acessos até 2029/2030, mas os contratos só podem ser firmados até 2028. Essa defasagem gera riscos e exige revisões burocráticas.
-Revisão do Decreto 5.597 – o processo de acesso, que envolve MME, ONS e Aneel, é considerado moroso frente às necessidades do setor, que trabalha com ramp-up de apenas um a dois anos.
-Planejamento da transmissão – embora eficiente, o ciclo atual de 5 a 8 anos é incompatível com a velocidade exigida pelos data centers. A empresa sugere maior uso de tecnologias como sistemas de armazenamento de energia (BESS), que têm implementação mais rápida e licenciamento mais simples.
O executivo da Casa dos Ventos reforçou que o Brasil tem potencial para se consolidar como polo global de tecnologia e transição energética, mas alertou que agilidade regulatória e integração entre órgãos serão determinantes para que os investimentos previstos realmente saiam do papel.
Claudio Junqueira participou do workshop “Horizonte Renovável: A era dos Data Centers no Brasil”, promovido pela Aneel.