
O presidente do Serpro, Alexandre Amorim, nomeou para o cargo de superintendente do Centro de Dados da estatal, Thiago Carlos de Sousa Oliveira. O funcionário já teve passagem pela diretoria de Operações da Dataprev em 2019 e deixou a função de forma polêmica, por supostamente ter participado de atos administrativos irregularidades praticados pela antiga direção daquela estatal, que foram abafados depois pelos organismos de controle. A nomeação de Thiago também gerou um novo atrito dentro da diretoria do Serpro, pois não passou pela análise do diretor de Operações, Wilton Motta. Segundo informações de bastidores, Wilton não teve participação alguma na aprovação do seu futuro subordinado.
O salto na carreira de Thiago começou efetivamente quando assumiu a diretoria de Operações da Dataprev em julho de 2019, durante a gestão da então presidente, Christiane Edigton (2019/ 2020), no Governo Bolsonaro. Ele permaneceu no cargo até julho de 2021, após a saída da presidente. Por suas ligações com o então presidente do Serpro, Caio Paes de Andrade, homem forte da TI de Bolsonaro, que indiretamente controlava a Dataprev na gestão de Chiristiane, o técnico Thiago Oliveira acabou conseguindo uma vaga na diretoria de Operações da estatal previdenciária, também com o endoço do General Antonino Guerra, na época diretor de Operações do Serpro.
Repasse ilegal de banco de dados
As duas estatais naquele período estavam em compasso de espera pela privatização, o que reforçou o diálogo entre as diretorias das duas empresas, para avaliar quais seriam as atividades que elas desempenhavam que ainda teriam o interesse do governo e o que poderia ser vendido ao setor privado. Entre 2019 e 2020 o Governo Bolsonaro estva na fase inicial de implantação da plataforma de serviços “gov.br” e precisava da massiva adesão popular ao projeto, para vender a imagem de “governo digital”.
Foi tomada a decisão da Dataprev repassar para o Serpro todo o banco de dados da plataforma “cidadão.br”, que continha na época em torno de 27 milhões de brasileiros. A ideia era injetar esses “novos inscritos” no portal gov.br, como forma de mostrar a rapidez que a população estava aderindo ao portal de serviços. Sem nenhum acordo, assinatura de contrato ou convênio, a Dataprev cumpriu essa missão de forma totalmente irregular e repassou os dados para o Serpro. Numa visível quebra de segurança das informações de brasileiros.
Na época o diretor de Operações no comando desse trabalho era o funcionário do Serpro Thiago Oliveira, mas quem colocou a “mão na massa” foi o superintendente da Unidade de Negócios, Alexandre Pires Pelliccione, que entrou para a estatal em 2016 (Governo Temer) como cargo de confiança e permaneceu por lá até o final da gestão de Christiane Edington. Pelliccione era “extra-quadro” na Dataprev e ao mesmo tempo figurava como sócio em duas empresas no Rio de Janeiro: “Inplus Informatica Ltda”, cujo capital é de R$ 30mil e em São Paulo na “Smart Steps Treinamento E Consultoria Em Negocios Eireli”, cujo capital social era de R$ 93,7 mil.
O repasse do banco de dados da Dataprev para o Serpro chegou a ser investigado com atraso pela Controladoria-Geral da União, que no entanto não tomou nenhuma providência para eventualmente punir os responsáveis. Simplesmente foi exigida a elaboração de um contrato entre as empresas para sustentar a conformidade administrativa exigida e o caso terminou abafado.
E o melhor da história: essa confusão não puniu ninguém, mas acabou gerando prêmio de “eficiência” para a equipe bolsonarista de Governo Digital da época, com direito até a foto comemorativa. Foi praticamente a última participação de Christiane Edington na presidência da Dataprev, que caiu logo depois do cargo em meio à diversas auditorias realizadas por órgãos de controle, todas sem nenhum resultado oficial nos meses seguintes.
Desmonte de regionais e contrato Oracle
Como diretor de Operações, Thiago Oliveira teve participação na tomada de decisão da diretoria da Dataprev de encerrar as atividades de 20 regionais da empresa, com demissão de trabalhadores. A medida só não foi totalmente aplicada porque os sindicatos recorreram da decisão e conseguiram impedir os cortes feitos pela direção.
A Dataprev ainda chegou a ter a cara de pau de comemorar os resultados financeiros obtidos, alegando lucro extraordinário na época. Só não explicava que nesse lucro estava contabilizado o desmonte da empresa nos estados e o represamento dos recursos destinados à investimentos, que não estavam sendo aplicados porque a estatal aguardava a sua privatização.
Mas o episódio que teve a participação efetiva de Thiago Oliveira na diretoria de Operações da Dataprev, que ele não pode alegar que as decisões tomadas não estavam sob sua responsabilidade direta, ocorreu com um contrato da Oracle. Por ordem da ex-presidente Christiane Edington, logo que entrou no comando da Dataprev, não foi renovado um contrato de R$ 17 milhões ( na época) com a multinacional, mas os serviços prestados por ela na área de banco de dados continuaram sendo executados, mesmo sem o devido pagamento.
Sete meses depois a Oracle decidiu dar um basta na situação e, como não conseguia renovar um acordo, meteu a fatura na direção da Dataprev cobrando pelos serviços executados sem cobertura contratual. Para não assumir publicamente o desgaste de ter cancelado o acordo sem explicações plausíveis junto à Auditoria e depois reconhecer a dívida, a direção da Dataprev embutiu esse passivo num novo contrato com a Oracle, que acabou mais caro por conta disso.
Os detalhes dessa confusão foram registrados pelo blog. Mais uma vez, ninguém foi punido pelos organismos de controle. O Governo Bolsonaro passou despercebido pela CGU e TCU na área de TI. Nunca se viu tamanha lisura na condução dos processos administrativos desta área, embora nos bastidores ocorressem uma enxurrada de denúncias.